quinta-feira, 9 de junho de 2016

Triad Magazine - Ralf Hütter and Florian Schneider - 1975


Triad - O termo "rock espacial" é aplicável à sua música ?

Ralf Hütter - Nós somos parte da geração industrial. Nós crescemos...

Florian Schneider - ... muito influenciados por estes ritmos mecânicos que usamos em nossas músicas, os aspectos mecânicos da vida. A tecnologia não é nossa inimiga. Nós usamos a tecnologia como ela é. Nós também gostamos da natureza, mas você não pode dizer que a tecnologia é melhor ou pior que a natureza. Você tem de aceitar todas estas coisas como elas são no mundo de hoje.

Ralf Hütter - Nós temos aspectos em nossa música que se referem ao espaço, como "Kometenmelodie", mas nós também temos muitos aspectos terrestres que são muito formais, não de outro espaço, mas do espaço que cerca o ser humano e o corpo, muito próximos da vida quotidiana.

Florian Schneider - Nós assistimos a filmes e quando saímos guardamos impressões visuais, e isto frequentemente tem uma influência em nossa música, transformando-se em um filme acústico ou uma poesia acústica. Esta é a maneira que nós tentamos expressar o que vemos e ouvimos. Há alguns anos atrás nós estávamos em turnê e tínhamos acabado de enfrentar uma longa viagem pela autobahn (auto-estrada), quando nós fomos tocar, tínhamos esta velocidade em nossa música. Nossos corações ainda batiam rápido então todo o ritmo se tornou muito rápido.

Triad - O giro de uma roleta é a base de outra de suas músicas...

Ralf Hütter - Sim, movimento. A idéia é captar fenômenos não-estáticos porque a música é ela mesma um fenômeno não-estático. Ela trabalha com tempo e movimento no tempo. Ela nunca é sempre igual.
Triad - A dança tem lugar em sua música ?

Ralf Hütter - Sim, na Alemanha algumas companhias de balé moderno usaram nossas composições para criar suas próprias versões de dança para esta música.

Florian Schneider - A coreografia era como uma dança de computador, como uma dança de robô. Muito mecânico em seu movimento no palco.

Ralf Hütter - Nós também dançamos um pouco quando tocamos. Não exatamente movendo nossos corpos, mas esta percepção de todo o corpo. Você se sente como um dançarino.

Florian Schneider - Sua mente está dançando. A eletrônica está dançando ao redor dos alto-falantes.

Ralf Hütter - Nós tínhamos esta idéia há muito tempo, mas somente no ano passado estávamos prontos para criar o que sentimos ser uma orquestra de alto-falantes. Isto é o que acreditamos que o Kraftwerk seja, uma orquestra eletrônica não-acústica de alto-falantes. Tudo é instrumento. Nós tocamos mixers, nós tocamos gravadores, nós tocamos phasers, nós tocamos todo o aparato do Kraftwerk. Este é o instrumento. Incluindo as luzes e a atmosfera.

Florian Schneider - Às vezes eu posso saborear os sons. Há muito mais sentimentos que somente o que sentimos através dos ouvidos. Todo o corpo pode sentir os sons.

Ralf Hütter- Imagine as árvores. Como as árvores soam? Você não tem que tornar este som audível. Você só tem que escrever as sugestões e o leitor pode imaginar este som ou reproduzi-lo espiritualmente em sua mente.

Triad - Vocês ouvem outros gêneros de música além da eletrônica ?

Ralf Hütter - Sim. Às vezes nós ouvimos rádio a também ouvimos a vida, os ruídos, ou o que as pessoas normalmente consideram ruído, o qual é sem dúvida a fonte para a música ambiental. Caminhando pela rua você pode ouvir uma sinfonia se você for suficientemente aberto a isso.

Florian Schneider - Isto é o que você aprende trabalhando com eletrônica. Você vai à fonte dos sons e seus ouvidos são treinados para analisar qualquer som. Nós ouvimos um avião passando por nossas cabeças e eu conheço todos os fenômenos utilizados para gerar aquele som, os phasings, os ecos. Todas estas coisas que ocorrem na natureza.

Ralf Hütter - ...e quanto mais você aprende, mais você gosta. Você sempre pode descobrir novos sons que nunca ouviu antes. Às vezes é surpreendente quando você presta atenção ao contexto dos sons. Podem ser os animais no parque, com os carros e as pessoas misturados juntos.

Florian Schneider - O campo de associação é muito extenso na música, o que significa que alguém pode criar um determinado som, colocar em uma fita e transmiti-lo para 50, 100 ou 1000 pessoas, e cada uma delas ter uma impressão diferente dos sons que estão ouvindo. Não é como no cinema, onde pessoas muito próximas vêem a mesma coisa. Eu acho que a ótica é muito mais fixa, mas quando você tem música, há muitas formas diferentes de música nas mentes das pessoas.

Ralf Hütter - Sim, músicas, muitas músicas.

Florian Schneider - Quando você está no palco, você pode focalizar a música para todas estas diversas mentes, mas você sabe que há várias formas de percepção diferentes. Algumas pessoas adormecem, outras ficam agitadas, outras não gostam e saem, outras voltam, algumas permanecem sentadas. Então há muitas reações diferentes para a mesma coisa.

Ralf Hütter - Nós improvisamos da mesma forma que nas ragas e na música oriental. Ela não é harmonicamente estruturada.

Florian Schneider - Nós preferimos fazer sons. Sinfonias de sons. Usamos muitas harmonias naturais, como as da escala dos harmônicos. Procuramos fazer coisas simples, quanto mais simples melhor. Nós tentamos fazer um monte de besteiras complicadas no passado, onde todos tentavam tocar o maior número de notas possíveis por segundo ou por minuto, mas pouco tempo depois nós voltamos ao essencial.

Ralf Hütter - Você tem que encarar a si mesmo para chegar ao ponto onde você realmente sabe aquilo que quer fazer. Não se esconder atrás de muitas notas ou atrás...

Florian Schneider - ...dos alto-falantes.

Ralf Hütter - ...para abrir-se para as coisas mais simples.

Florian Schneider - Nós não gostamos deste tipo de sons bombásticos, nós preferimos sons refinados.

Ralf Hütter - Levou anos de desenvolvimento para nós, passo a passo, para conseguir fazer o que estamos fazendo agora. E teremos que dar mais alguns passos para ir adiante.

Florian Schneider- Nós começamos com instrumentos acústicos. Tivemos muitos amigos que tocaram conosco no passado, e assim a vida passa e alguns deles saem e outros entram. Nós finalmente chegamos a um ponto onde decidimos que não queríamos aquele kit pesado de bateria em nosso palco. Então por um ano tocamos somente nós dois. 

Usamos uma máquina rítmica mas ela não era inteiramente satisfatória. Era boa para um ou outro número, mas muito chata de usar por uma noite inteira. Então decidimos construir baterias eletrônicas porque precisávamos ter ritmos em nossa música. Nós as desenhamos e construímos e agora estamos tocando com dois percussionistas no grupo.

Ralf Hütter - Isto nos dá várias possibilidades de modificar o som, porque a música eletrônica é criada a partir do ruído branco, então você pode utilizar quaisquer frequências que gostar, ou que você quiser, para seu conceito particular de música - e com estes instrumentos eletrônicos você pode escolher as frequências que são apropriadas para você. Como um pintor, você pode escolher quaisquer das cores do espectro que desejar para compor sua pintura.

Florian Schneider - Nós estamos trabalhando com um pintor agora, que pode realizar algumas de nossas visões.

Ralf Hütter - Nós não nos vemos como músicos, mas mais como pessoas que criam a partir de diferentes meios or formas de expressão, seja a pintura, poesia, música, ou ainda filmes. Nosso ideal é comunicar-se com as pessoas.

Florian Schneider - Nós não sabemos realmente onde tudo isso vai nos levar, talvez mais para o visual ou para as palavras.

Ralf Hütter - Estamos esperando pelo vídeo-disco, que em breve estará disponível na Alemanha. Este será provavelmente o próximo passo que queremos dar porque temos muitas idéias visuais junto com as músicas, e elas se influenciam mutuamente.

Interview to Paul Smaisys - 1975

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