Triad - O termo "rock espacial" é aplicável à sua música ?
Florian Schneider - ... muito
influenciados por estes ritmos mecânicos que usamos em nossas músicas, os
aspectos mecânicos da vida. A tecnologia não é nossa inimiga. Nós usamos a
tecnologia como ela é. Nós também gostamos da natureza, mas você não pode dizer
que a tecnologia é melhor ou pior que a natureza. Você tem de aceitar todas
estas coisas como elas são no mundo de hoje.
Ralf Hütter - Nós temos aspectos
em nossa música que se referem ao espaço, como "Kometenmelodie", mas
nós também temos muitos aspectos terrestres que são muito formais, não de outro
espaço, mas do espaço que cerca o ser humano e o corpo, muito próximos da vida
quotidiana.
Florian Schneider - Nós
assistimos a filmes e quando saímos guardamos impressões visuais, e isto
frequentemente tem uma influência em nossa música, transformando-se em um filme
acústico ou uma poesia acústica. Esta é a maneira que nós tentamos expressar o
que vemos e ouvimos. Há alguns anos atrás nós estávamos em turnê e tínhamos
acabado de enfrentar uma longa viagem pela autobahn (auto-estrada), quando nós
fomos tocar, tínhamos esta velocidade em nossa música. Nossos corações ainda
batiam rápido então todo o ritmo se tornou muito rápido.
Triad - O giro de uma roleta é a
base de outra de suas músicas...
Ralf Hütter - Sim, movimento. A
idéia é captar fenômenos não-estáticos porque a música é ela mesma um fenômeno
não-estático. Ela trabalha com tempo e movimento no tempo. Ela nunca é sempre
igual.
Triad - A dança tem lugar em sua
música ?
Ralf Hütter - Sim, na Alemanha
algumas companhias de balé moderno usaram nossas composições para criar suas
próprias versões de dança para esta música.
Florian Schneider - A coreografia
era como uma dança de computador, como uma dança de robô. Muito mecânico em seu
movimento no palco.
Ralf Hütter - Nós também dançamos
um pouco quando tocamos. Não exatamente movendo nossos corpos, mas esta
percepção de todo o corpo. Você se sente como um dançarino.
Florian Schneider - Sua mente
está dançando. A eletrônica está dançando ao redor dos alto-falantes.
Ralf Hütter - Nós tínhamos esta
idéia há muito tempo, mas somente no ano passado estávamos prontos para criar o
que sentimos ser uma orquestra de alto-falantes. Isto é o que acreditamos que o
Kraftwerk seja, uma orquestra eletrônica não-acústica de alto-falantes. Tudo é
instrumento. Nós tocamos mixers, nós tocamos gravadores, nós tocamos phasers,
nós tocamos todo o aparato do Kraftwerk. Este é o instrumento. Incluindo as
luzes e a atmosfera.
Florian Schneider - Às vezes eu
posso saborear os sons. Há muito mais sentimentos que somente o que sentimos
através dos ouvidos. Todo o corpo pode sentir os sons.
Ralf Hütter- Imagine as árvores.
Como as árvores soam? Você não tem que tornar este som audível. Você só tem que
escrever as sugestões e o leitor pode imaginar este som ou reproduzi-lo
espiritualmente em sua mente.
Triad - Vocês ouvem outros
gêneros de música além da eletrônica ?
Ralf Hütter - Sim. Às vezes nós
ouvimos rádio a também ouvimos a vida, os ruídos, ou o que as pessoas
normalmente consideram ruído, o qual é sem dúvida a fonte para a música
ambiental. Caminhando pela rua você pode ouvir uma sinfonia se você for
suficientemente aberto a isso.
Florian Schneider - Isto é o que
você aprende trabalhando com eletrônica. Você vai à fonte dos sons e seus
ouvidos são treinados para analisar qualquer som. Nós ouvimos um avião passando
por nossas cabeças e eu conheço todos os fenômenos utilizados para gerar aquele
som, os phasings, os ecos. Todas estas coisas que ocorrem na natureza.
Ralf Hütter - ...e quanto mais
você aprende, mais você gosta. Você sempre pode descobrir novos sons que nunca
ouviu antes. Às vezes é surpreendente quando você presta atenção ao contexto
dos sons. Podem ser os animais no parque, com os carros e as pessoas misturados
juntos.
Florian Schneider - O campo de
associação é muito extenso na música, o que significa que alguém pode criar um
determinado som, colocar em uma fita e transmiti-lo para 50, 100 ou 1000
pessoas, e cada uma delas ter uma impressão diferente dos sons que estão ouvindo.
Não é como no cinema, onde pessoas muito próximas vêem a mesma coisa. Eu acho
que a ótica é muito mais fixa, mas quando você tem música, há muitas formas
diferentes de música nas mentes das pessoas.
Ralf Hütter - Sim, músicas,
muitas músicas.
Florian Schneider - Quando você
está no palco, você pode focalizar a música para todas estas diversas mentes,
mas você sabe que há várias formas de percepção diferentes. Algumas pessoas
adormecem, outras ficam agitadas, outras não gostam e saem, outras voltam, algumas
permanecem sentadas. Então há muitas reações diferentes para a mesma coisa.
Ralf Hütter - Nós improvisamos da
mesma forma que nas ragas e na música oriental. Ela não é harmonicamente
estruturada.
Florian Schneider - Nós
preferimos fazer sons. Sinfonias de sons. Usamos muitas harmonias naturais,
como as da escala dos harmônicos. Procuramos fazer coisas simples, quanto mais
simples melhor. Nós tentamos fazer um monte de besteiras complicadas no
passado, onde todos tentavam tocar o maior número de notas possíveis por
segundo ou por minuto, mas pouco tempo depois nós voltamos ao essencial.
Ralf Hütter - Você tem que
encarar a si mesmo para chegar ao ponto onde você realmente sabe aquilo que
quer fazer. Não se esconder atrás de muitas notas ou atrás...
Florian Schneider - ...dos
alto-falantes.
Ralf Hütter - ...para abrir-se
para as coisas mais simples.
Florian Schneider - Nós não
gostamos deste tipo de sons bombásticos, nós preferimos sons refinados.
Ralf Hütter - Levou anos de
desenvolvimento para nós, passo a passo, para conseguir fazer o que estamos
fazendo agora. E teremos que dar mais alguns passos para ir adiante.
Florian Schneider- Nós começamos
com instrumentos acústicos. Tivemos muitos amigos que tocaram conosco no
passado, e assim a vida passa e alguns deles saem e outros entram. Nós
finalmente chegamos a um ponto onde decidimos que não queríamos aquele kit
pesado de bateria em nosso palco. Então por um ano tocamos somente nós dois.
Usamos uma máquina rítmica mas ela não era inteiramente satisfatória. Era boa
para um ou outro número, mas muito chata de usar por uma noite inteira. Então
decidimos construir baterias eletrônicas porque precisávamos ter ritmos em
nossa música. Nós as desenhamos e construímos e agora estamos tocando com dois
percussionistas no grupo.
Ralf Hütter - Isto nos dá várias
possibilidades de modificar o som, porque a música eletrônica é criada a partir
do ruído branco, então você pode utilizar quaisquer frequências que gostar, ou
que você quiser, para seu conceito particular de música - e com estes
instrumentos eletrônicos você pode escolher as frequências que são apropriadas
para você. Como um pintor, você pode escolher quaisquer das cores do espectro
que desejar para compor sua pintura.
Florian Schneider - Nós estamos
trabalhando com um pintor agora, que pode realizar algumas de nossas visões.
Ralf Hütter - Nós não nos vemos
como músicos, mas mais como pessoas que criam a partir de diferentes meios or
formas de expressão, seja a pintura, poesia, música, ou ainda filmes. Nosso ideal
é comunicar-se com as pessoas.
Florian Schneider - Nós não
sabemos realmente onde tudo isso vai nos levar, talvez mais para o visual ou
para as palavras.
Ralf Hütter - Estamos esperando
pelo vídeo-disco, que em breve estará disponível na Alemanha. Este será
provavelmente o próximo passo que queremos dar porque temos muitas idéias
visuais junto com as músicas, e elas se influenciam mutuamente.
Interview to Paul Smaisys - 1975
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