quinta-feira, 14 de abril de 2016

Entrevista - Público - Ralf Hutter - April 2004






Num dos poucos espetáculos  que deram nos últimos anos, em 1998, no Festival Sónar de Barcelona, utilizavam projecções vídeo, animações infográficas e robôs que se diluíam por entre os músicos. O que mudou desde então?

Em 2004, temos os Kraftwerk em versão computador-portátil. Todo o nosso matéria analógico foi reconvertido para o formato digital e essa é a grande diferença. Até há pouco tempo era-nos praticamente impossível transportar todo o nosso material dos estúdios Kling  Klang. Era difícil viajar com tecnologia tão pesada. Hoje, com os portáteis e com a cultura digital, é mais fácil realizar uma digressão mundial como  aquela que estamos a fazer.

Nos espetáculos desta digressão têm tocado os temas mais conhecidos.  É isso que irá suceder em Portugal?

Será uma mistura desses temas com as novidades de "Tour de France Soundtracks". Será uma atmosfera muito audiovisual, com as projecções sincronizadas com a música. Estivemos na Escandinávia recentemente e foi maravilhoso! As pessoas entendem a música electrónica, mas foi óptimo quebrar um pouco mais o gelo... [risos]. Já passámos pelo Japão, regressámos à Europa e segue-se Portugal. Na era digital, podemos  viajar e tudo funciona na perfeição.

Mudaram para o digital, mas o imaginário do último álbum, "Tour de France Soundtracks", mantém-se. Mais do que um grupo, são um conceito de imagem-som perfeitamente definido, o que também cria resistências por quem espera que  mudem.

O conceito Kraftwerk, tal como foi definido por mim e por Florian [Schneider] nos anos 70, não sofreu grandes alterações. É essa a nossa identidade e não a queremos perder, mas isso não quer dizer que não estamos atentos ao que se passa à nossa volta e que não tentamos transformar-nos à nossa maneira. A nossa música electrónica  tem vindo, gradualmente, a mudar. Está mais energética e "Tour de France Soundtracks" reflecte isso.

Ao longo dos anos, sofreram alterações na formação, mas você e Florian Schneider mantiveram-se na liderança desde 1968. Qual o segredo da longevidade dessa relação?

Já lá vão 40 anos. Somos como Kling e Klang... [risos]. É um casamento electrónico perfeito. 

No último álbum regressaram ao conceito do ciclismo. Não é propriamente a primeira imagem que nos ocorre quando imaginamos o futuro. De onde vem  esse fascínio?

Adoro andar de bicicleta. As bicicletas representam energia, progresso sustentado e atento aos valores humanos, andar para a frente, o entendimento perfeito entre homem e máquina. Não podemos fazer marcha atrás com bicicletas. Com a música acontece o mesmo - o que interessa é andar para a frente, estar atento ao tempo e espaço, manter o balanço certo e encontrar o nosso ritmo. 
O ano passado, quando estávamos a terminar o álbum, tivemos um convite do director da Volta à França para seguir algumas etapas de helicóptero e no carro oficial. Foi magnífico e permitiu-nos desenvolver as últimas ideias com total confiança no conceito que estávamos a desenvolver. Quando o "Tour" terminou em Paris, tínhamos o disco pronto.

Fala em ritmo e energia, mas nos espetáculos são conhecidos pelas expressões  impassíveis e pelos movimentos reduzidos ao essencial. É apenas a música  que tem que ser dinâmica?

Ah! Mas nós somos superactivos, emocionalmente e fisicamente. Estamos completamente despertos, mas a manipulação dos computadores e dos teclados é muito sensível e não nos deixa espaço para grandes movimentações. Temos que estar concentrados para não cometer erros.

São um dos grupos mais influentes da música popular e um dos mais citados pelas novas gerações. Como é que lidam com frases como os "Beatles electrónicos"? É uma energia muito positiva que nos é transmitida por pessoas mais novas. É bom chegar aos 50 anos e, onde quer que vamos, seja a Jamaica ou o Japão, sermos bem recebidos, o que prova que a música electrónica, apesar das diferentes linguagens, ultrapassa eventuais  diferenças culturais. É uma forma de comunicação que se impôs, o que, para nós, é um enorme cumprimento. Quando começámos, no final dos anos 60, estávamos confinados às galerias de arte ou às universidades e é gratificante vermos como as coisas mudaram desde então.

O ano passado entrevistámos Fernando Abrantes, que integrou os Kraftwerk em 1991. Dizia-nos ele que, depois dos concertos, era comum deslocarem-se  a clubes de música de dança para tomarem contacto com o que se andava a ouvir. Continuam a fazê-lo?

Sim, depois dos espetáculos, normalmente existe sempre alguém que nos convida para ir a clubes de música. É óptimo para praticarmos um pouco da nossa dança robótica e para ouvirmos o que se anda a fazer. Esperamos que em Portugal alguém nos convide. Recordo-me bem do Fernando (Abrantes), fez uma digressão conosco, é um excelente músico, e é muito amigo de um dos nossos engenheiros electrónicos, Fritz Hilpert.

 Diz-se que esta será a última oportunidade para ver os Kraftwerk ao vivo, mas também existe quem diga que irá ser lançado um álbum ao vivo depois  do final da digressão. Corresponde à verdade ou vão estar mais dez anos parados?

O álbum ao vivo é uma possibilidade e vamos, sem dúvida, editar mais discos. Em Junho, depois da última data da digressão, em Moscovo, vamos parar e decidir o que vamos fazer, mas estivemos  tanto tempo sem lançar nenhum disco, devido ao trabalho de masterização e catalogação do material antigo, que estamos desejosos de voltar a estúdio para criar material novo.


quinta-feira, 7 de abril de 2016

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Karl Bartos - Open Tape



Karl Bartos ex-tecladista e coautor de várias músicas do Kraftwerk, fez uma pequena lista para o Spotify

Segue abaixo os links.

Boa audição.

Karl Bartos (Ex-Kraftwerk)

01. The Lovin’ Spoonful – Summer In The City
02. The Beatles – Revolution 9
03. Can – Yoo Doo Right
04. Neu – Hallogallo
05. Pink Floyd – On The Run
06. The Normal – Warm Leatherette
07. Art of Noise – Beat Box (Diversion 1)
08. LFO – LFO
09. F.U.S.E. – F.U.
10. Daft Punk – Alive

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