quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

FREE JAZZ/SÁBADO KRAFTWERK Ok, computer.


A coisa foi muito séria. Às 22h do sábado, vídeos sincronizados à parafernália eletrônico-sonora do palco começavam a exibir números, anunciando a presença em cena do grupo de alemães (humanos?) Kraftwerk, tão importante para a música com computadores quanto Bill Gates para o mundo dos computadores.

Na dança dos números da canção "Numbers", que abriu a segunda noite do Main Stage na versão paulistana do Free Jazz Festival 98, as contas a fazer eram de que finalmente, depois de quase 30 anos de formação do Kraftwerk, o país abrigava em seus palcos um grupo musical de tamanho significado para a música, seja ela de qualquer vertente: pop, clássico, progressivo, punk ou até... eletrônico.

Alguém na platéia soltou que era a principal banda que tocou no Brasil desde 1500, o que remeteu diretamente à famosa capa da revista americana "Spin" ao grupo alemão, que indagou, na manchete: "Kraftwerk". Mais influentes que os Beatles?. É complicado discordar.
Começava "Computer World", a música-título do pulsante álbum de 1981, que jogou o punk dentro de um disquete e o entregou ao tecnopop.

A essa altura era engraçado testemunhar como um show de uma banda de três décadas soava tão completamente contemporâneo. Um testamento ao vivo de quão longe o Kraftwerk levou a pop music e quão pouco ela progrediu além das inovações proporcionadas pelo grupo alemão anos e anos atrás.

O show caminhava, e não era estranho se sentir um personagem de "Blade Runner" ou dos livros de Aldous Huxley, tentando dançar de maneira moderna músicas dos anos 70.

Em "The Man-Machine" e "Tour de France" (com imagens de ciclistas em movimento sendo projetadas nos telões), o clima era de uma noite na ópera. Eram operetas eletrônicas.

Ficava claro entender por que nos 70 os álbuns do Kraftwerk eram difíceis de ser encontrados nas lojas européias, já que parte delas colocava os discos nas prateleiras de música clássica.

As inqualificáveis "Autobahn" (as imagens do telão, agora, eram de carros em movimento), "The Model", "Radio-Activity" (hoje com letra alterada para um grito de "stop radio-activity") e "Trans-Europe Express" já haviam apressado a chegada do século 21 (já o tinham feito 20 anos atrás), em um espetáculo de sincronia sonora e visual, futurística e antiga (é só ver as duas músicas inéditas do show, que tentam simular um ambiente tecno anos 90) ao mesmo tempo, quando a cortina se fechou.

Minutos depois, todos os quatro homens-máquina estavam na frente das bancadas de sintetizadores, tocando "Pocket Calculator" com um pequeno controle remoto, como se estivessem com um joystick manipulando o som e as pessoas à frente deles como se fossem um bando de robôs.

Cortina se fecha, cortina se abre e começa... "The Robots".

Onde antes estavam os telões, quatro figuras robóticas substituíam os músicos e se moviam mecanicamente sob a batida eletrônica da música que foi hit de clubes dance do final dos anos 70.
Quantos robôs bacanas não foram criados pelo Kraftwerk nestes anos todos, de David Bowie a Afrika Bambaataa, de Depeche Mode à toda cena eletrônica dominante destes tempos?

Cortina se fecha, cortina se abre, e o final foi dado por "Musique Non-Stop", do último álbum inédito da banda, "Electric Cafe", lançado em 86.

Aí o quarteto vestia roupas pretas com listras verdes fluorescentes que mapeavam a anatomia de cada componente da banda, faziam de seus esqueletos circuitos de computador e transformavam os quatro caras humanos do Kraftwerk em, sim, andróides. Esse foi o final da história a que São Paulo estava assistindo.

Foi um show para não ser deletado jamais da memória. O único senão foi não ter levado meu PC para o Jockey Club. Ele iria amar o Kraftwerk.


terça-feira, 16 de outubro de 2018

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Kraftwerk faz dueto com astronauta alemão ao vivo direto do espaço.


A banda Kraftwerk, surpreendeu o seu público durante o evento Jazz Open Festival, na cidade Stuttgart (Alemanha), na sexta-feira (20/7).

Antes da música Spacelab, o grupo fez uma conferência com o astronauta Alexander Gerst que está na estação espacial (ISS – International Space Station) e tocou (com a ajuda de um tablet) trechos da música “Close Encounters of the Third Kind “ . 

— “Boa noite Kraftwerk, boa noite Stuttgart” — disse o astronauta para as quase sete mil pessoas no evento, que ficaram atônitas com o convidado surpresa. 

— “Atualmente sou eu e mais seis pessoas no espaço, no posto avançado da Estação Espacial Internacional (ISS em inglês) , estamos a 400 quilômetros de altitude. A ISS é um homem-máquina – a máquina mais complexa e valiosa que a humanidade já construiu “, — Gerst fez uma alusão ao álbum clássico “Man-Machine” do kraftwerk

Após ao susto, o quarteto deu prosseguimento de sua apresentação, e no telão, teve insersões de imagens do astronauta dentro da estação junto com as animações usadas pelo conjunto. Ao término, Alexander desejou boa noite para a terra. 

O kraftwerk é uma banda atípica se tratando de música e apresentações ao vivo. No ano de 2009, o grupo fez algo similar no velódromo de Manchester (Reino Unido), do qual ciclistas pedalavam em volta do palco, enquanto a banda tocava “Tour de France”. 

O astronauta fica no espaço até dezembro de 2018, Alexander Gerst é o primeiro alemão a comandar uma estação da Nasa

Parabéns!

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Peter Zinovieff — O geólogo do som (4 - Janeiro/2016)



Prestes a completar 83 anos, o britânico Peter Zinovieff conta como inventou o sintetizador portátil, que mudou a música de Pink Floyd, The Who, David Bowie e Kraftwerk, e diz que o pop atual é ‘muito repetitivo’

Em 1973, a banda inglês Pink Floyd lançava o álbum “ The Dark Side of The Moon”, cultuado até hoje como um dos discos mais revolucionários da história do rock. Entre os seus atrativos, estavam sons “estranhos” ruídos tecnológicos que pouco tinham sidos ouvidos até então — como a viagem lisérgica que conduz a terceira faixa “On the Run”  repleta de oscilações e desconstruções sonoras. O instrumento que permitiu tais efeitos havia sido usado pouco antes em “Won’t get fooled again”, da banda The Who, também inglesa, com Peter Townshed distorcendo o som do órgão em baixa frequência. 

E seduziu artistas de diferentes gerações como David Bowie, integrante dos Beatles, Led Zeppelin, Kraftwerk, Portishead e Chemical Brothers. Batizado de VCS 3, foi lançado em 1969 pela companhia inglesa Electronic Music Studio (EMS) e é considerado por muitos o primeiro sintetizador portátil do a ser comercializado no mundo. A inovação estava exatamente em sua dimensão — diferentemente dos modelos complexos criados por Robert Moog, que podiam o ocupar uma parede inteira, o VCS 3 era do tamanho de uma maleta.

A inovação surgiu da mente Pete Zinovieff, um dos fundadores da SEM. Filho de russos que imigraram para Londres fugindo da revolução Russa de 2017,ele se formou em Geologia pela Universidade de Oxford. Casou-se aos 27 anos com Victoria, uma jovem que não aceitava as frequentes viagens do geólogo pelo mundo. A saída de Zinovieff foi volta-se para a música, paixão que cultivou durante a faculdade. Inquieto, ele não se contentava com os sons que criava no piano.

— Quando resolvi foca nisso, meu objetivou passou a ser criar sons que não eram possíveis com os instrumentos que tínhamos na época (década de 1960). Meu negócio era experimental, eletrônica. Quase ninguém fazia isso. Criei um estúdio complexo, impensado até então — explica o inglês prestes a completar 83 por telefone, de sua casa em Londres, repleta de computadores e processadores de última geração.

Após algumas demonstrações públicas e concertos improvisados da música eletrônica, o novo produto que custava 330 libras passou a ser cobiçado do por artistas britânicos de rock.

"USO MAIS INOVADOR FOI DO PINK FLOYD"

Para construir o estúdio, Zinovieff comprou antigos equipamentos da Marinha, encheu um cômodo de sua casa de osciladores e amplificadores, e adquiriu o que jura ser o primeiro computador doméstico da história - um PDP-8, modelo industrial que tinha cerca de quatro quilobytes de memória e custaria, hoje em dia, algo em torno de 100 mil libras (financiado pela venda uma tiara que seu sogro tinha dado para a filha). Da necessidade de ganhar dinheiro para bancar seu trabalho como compositor de trilhas e da associação com engenheiros eletrônicos e pesquisadores nasceu a EMS - e o VCS 3.

Após algumas demonstrações públicas e concertos improvisados de música eletrônica, o novo produto, que custava inicialmente cerca de 330 libras, passou a ser cobiçado por artistas britânicos de rock progressivo. Com isso, Zinovieff, até então avesso à música popular - a ponto de ter negado um encontro com Paul McCartney -, foi obrigado a baixar a guarda. E passou a receber artistas como Ringo Starr, David Gilmour, Roger Waters, David Bowie e Karlheinz Stockhausen.

— Eu não ensinei nada a esses caras. Assim que eles começaram a experimentar meu sintetizador, eles imediatamente superaram qualquer coisa que eu poderia lhes ensinar. Por isso, são geniais. Eles tiveram o feeling e souberam tirar daquilo o que queriam. E também é por isso que os efeitos que o sintetizador causou em suas canções foram tão diferentes entre si — conta Zinovieff, que não titubeia quando perguntado sobre a banda que melhor soube usar sintetizadores em sua obra. — Pink Floyd, sem dúvidas. Eles usaram a máquina da maneira mais inovadora possível, e fizeram músicas extraordinárias que ninguém tinha escutado até então. Dos artistas mais novos, o Portishead também faz um bom trabalho.

Como todo inventor, o senhor de humor tipicamente inglês já foi rotulado de "louco" algumas vezes. Como quando o falecido Jon Lord, ex-organista e tecladista da banda Deep Purple, visitou seu elaborado estúdio e o viu discutindo com o computador e esperando uma resposta. E é com orgulho que Zinovieff conta da vez em que, ao lado do compositor Harrison Birtwistle, ex-diretor do Royal National Theatre, escalou o Big Ben para gravar um sample do barulho do relógio.

— Em 1971, eu e Birtwistle estávamos trabalhando numa composição chamada "Chronometer '71", basicamente distorções eletrônicas do barulho de relógios, e a maior parte da trilha é gravada no Big Ben. Escalamos até o topo da torre e botamos microfones em qualquer mecanismo que fosse possível. Deu um grande trabalho conseguir aquela autorização, mas foi uma ótima aventura — diverte-se.

"O TECLADO É O DEMÔNIO PARA A MÚSICA"

A música é uma das faixas do álbum "Electric Calendar/The EMS Tapes", uma retrospectiva de experimentações feitas entre 1965 e 1979 (ano em que a EMS declarou sua falência) que Zinovieff lançou em julho do ano passado. Por falar em sample, o inglês alegou, em recente entrevista ao jornal britânico "The Guardian", que também é o criador do processo de sampling:

— O que eu quis dizer é que fui o primeiro a usar samples em um computador. Com certeza, outras pessoas já tinham gravado sons aleatórios antes, mas nunca tinham organizado-os em uma máquina a fim de criar músicas a partir disso.

A falência da empresa e a consequente venda de seu estúdio ("o pior momento da minha vida", lembra) fizeram Zinovieff passar os 30 anos seguintes sem compôr músicas. Nesse meio tempo, virou professor universitário e estudou design gráfico. Mas, incentivado por um fã músico, que encomendou uma de suas trilhas, voltou a se dedicar à arte em 2010, construindo um novo estúdio hi-tech. Ele reconhece que é saudosista e, por isso, segue sem gostar de música pop:

— Hoje em dia, tudo é muito fácil. Qualquer um compra programas de edição e pode fazer música. Somos constantemente bombardeados por música ruim. Eu ligo a televisão e me desespero, diariamente. E é por isso que eu nunca quis que botassem um teclado conectado a um sintetizador.

O teclado é como um demônio para a música, porque ele tornou tudo muito preguiçoso. Vamos dizer que você queria adicionar flauta em uma música que está criando. Como as pessoas têm feito isso? Elas pegam o teclado e emulam o som. Elas não tocam mais a flauta, por pura preguiça. O teclado e suas facilidades têm afastado o lado orgânico da música. Tudo virou repetitivo.

É por isso que bandas como Pink Floyd, Rolling Stones e Led Zeppelin seguem ganhando milhões em turnês pelo mundo. As pessoas sabem que elas ainda soam originais, diferentemente de muita coisa produzida por músicos atuais.





terça-feira, 17 de julho de 2018

domingo, 8 de julho de 2018

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Ralf Hütter — Entrevista, Jornal O Globo — 5 de Setembro de 1998.


Kraftwerk traz ao Brasil o pop eletrônico original

Grupo alemão que há 30 anos influencia gerações em todo o mundo promete shows carregados de efeitos tecnológicos.

Apresentação  da banda alemã Kraftwerk no Free Jazz 98 é certamente o evento do ano no mundo pop. O grupo formado em Düsseldorf há 30 anos — tendo como núcleo a dupla Ralf Hütter e Florian Schneider — simplesmente influenciou todos os que têm hoje alguma ligação com a música eletrônica, da disco music ao hip-hop, do electro ao Techno, tudo tem alguma referencia ao som do kraftwerk.

Cultora de uma aparência robótica e com uma vida pessoal reservada, a banda não é dada a entrevistas. Mas, como será a primeira vez no Brasil, Ralf Hütter concedeu 15 minutos ao GLOBO. Contudo, por telefone Hütter foi extremamente simpático e se mostrou excitado com a vinda à América do Sul pela primeira vez.

Músico diz que quer conhecer os nos da noite carioca

— O motivo pelo qual nós não fomos aí até hoje é puramente técnico. — disse ele de Düsseldorf — Antes, os equipamentos eram muito pesados, de difícil transporte, e não queríamos fazer um show incompleto.

Agora, ele promete, o Show do Kraftwerk no Brasil exatamente como os europeus.

— Sim, levaremos telões, todos os equipamentos. Os robôs... Não vai faltar nada — garante ele.
Hütter se mostra ainda interessado na noite local. Ele di estar interessado em conhecer os clubes da cidade e sentir o vibe  da cidade.

Adoro sentir a vibração das pessoas na pista de dança. Quero conhecer a música local.
Ele falou sobre o modo como o kraftwerk sempre se inspirou no feelling do momento no mundo para conceber a sua música.

— O feeling  de hoje é sobre o mundo ligado dinamicamente pelas redes de comunicações. Nos anos 60, quando começamos, era mais sobre os equipamentos eletrônicos pesados. Foi difícil montar o nosso estúdio, o Kling Klang, na época. Hoje, é tudo portátil, digital, leve, mais fácil.

Justamente pelo fato de a tecnologia ter ser tornado mais acessível, hoje, é possível para qualquer um pode fazer música em seu próprio quarto. E Hütter diz que essa sempre foi a meta do Kraftwerk.

— Quando inventamos o Kraftwerk, o conceito era o de fazer a própria música, criar os próprios instrumentos. Naquele tempo, isso era muito difícil, ousado. Mas, hoje especialmente aqui na Europa, as pessoas tem acesso a tudo isso rapidamente. Nós nos antecipamos a isso.

Falando em antecipação, o Kraftwerk sempre esteve um passo à frente de tudo o que se faz em termos de música eletrônica, justamente por estar atento às mudanças do mundo.

— Sempre estamos ligados no que acontece. Moramos numa cidade industrial bem no centro da Europa. Vijamos para toda parte da rapidamente, vamos a clubes em Amsterdam, Paris, Londres, vemos shows, ouvimos rádio, dançamos sentimos a música  e o ambiente de cada local.

Apesar disso, modesto, Hütter reluta o titulo de pai ou avô do Techno que hoje assola o mundo.
— Claro que, de certa maneira, nossa influencia é positiva, pois nos 60 a música ia para uma direção diferente, a das superbandas, dos superstars , e nós quebramos essa imagem.

Dessa forma, a banda foi, de certa forma, uma versão antecipada e eletrônica do punk.

Sobre a noite do Kraftwerk no Rio, Hütter  diz gostar da banda que vai tocar depois deles, a inglesa Massive Attack.

— Conheço o som e sei que eles fazem uma abordagem diferente da nossa de música eletrônica. É muito interessante.

Dois ex-integrantes foram substituídos por técnicos

Basicamente, além de Hütter e Schneider, o Kraftwerk era formado por Karl Bartos  e Wolfgang Flür , que agora estão fora da banda. Hutter explica que, na verdade, o Kraftwerk sempre foi mais do uma simples banda:

— Originalmente, além de mim e de Florian , o Kraftwerk foi sempre um aglomerado de engenheiros eletrônicos, técnicos de gravação, videastas; e as quatro figuras no palco eram apenas uma apresentação de banda.

Por isso, os substituímos de Karl e Wolgang são dois técnicos dos estúdios Kling Klang: Fritz Hilpert e Henning Schmitz.

— Kraftwerk é um todo, Em turnê, somos 12 pessoas.

Quando a um novo disco (o último de inéditos, “Electric Café” saiu em 86; depois dele, só a coletânea “The Mix”), ele diz que virá, talvez, no começo de 99.


quinta-feira, 31 de maio de 2018

terça-feira, 1 de maio de 2018

The Man-Machine - 40 anos.


Após o lançamento de Trans Europe Express (que não teve uma tour de fato em 1977), o kraftwerk se encontrava com boa aceitação de seus trabalhos em relação à crítica especializada e principalmente a o seu público. O grupo já começava a esboçar o que seria o seu disco mais marcante com ligação entre som e imagem. Nesse período o músicos estavam em seu ápice criativo, dando a entender que gravaram um bom material musical, que foi repartido  nos discos posteriores, adaptando as músicas conforme aos álbuns eram lançados.

The Man-Machine foi o trabalho certeiro em seu conceito, melodias, timbres e visual. Além expor a postura que o grupo adotaria nas décadas seguintes. Prevalecendo a reclusão e o hábito meio lacônico em suas entrevistas.

Em relatos sobre a produção do LP, Ralf sempre foi muito evasivo em explicar o processo de composição, dando sempre respostas dúbias. Mas a ideia por de trás do disco, deve ter surgido devido ao debate que já se tornava comum na esfera artística na década de 1970, do qual abordavam o futuro da humanidade e, de como seria essa convivência entre o homem e a máquina no cotidiano.

Apesar de não possuir uma imagem futurística verossímil, The Man-Machine se apresenta como uma fantasia sentimentalista de um mundo imaginativo. Interpretação muito similar com obras literárias de ficção-científica, que começaram a ter prestigio nesse período. Isso se deve ao advento da TV e do cinema; mídias que ajudaram a popularizar obras desse cunho que evocam um mundo utópico e irreal.

A preocupação do grupo com à qualidade do que produziam, nesse disco foi mantida e por vezes mais acentuada do que nos trabalhos anteriores, afora o tratamento ao conceito do álbum. Mas o cuidado e a evidente dedicação dos integrantes em chegar a um denominador comum, que agradasse não só a eles, mas principalmente ao seu tão crescente e fiel público, foi atingida ao longo de um ano de produção contínua.

Durante esse tempo, o kraftwerk atualizou o seu estúdio acrescentando novos instrumentos e equipamentos de áudio, e para ajudarem nessa empreitada, contrataram o engenheiro de som americano chamado Leonard Jackson, (junto com Joschko Rudas) que deixaram as músicas dos alemães com mais impacto. E durante os intervalos de gravação, tanto o técnico convidado quanto os integrantes, se divertiam no pátio do estúdio com a neve em um rigoroso inverno europeu.

No disco, ouvimos o quarteto em seu momento mais iventivo tanto na parte técnica, quanto lírica, conseguindo chegar a um equilíbrio auditivo satisfatório.   O ritmo mecânico se mantém presente e ininterrupto. E a ideologia de suas músicas, condiz com as bases compostas.

O bom humor característico do grupo é evidente logo em sua primeira faixa, que relata de forma irônica o conceito criado pelo grupo, The Robots se tornou a imagem oficial do quarteto. O vocoder em conjunto com vários efeitos de som, aqui ajudaram a tornar, a simulação desse ambiente “mecânico”, supostamente cantada por um robô, agradável e divertida. Com The Robots , o Kraftwerk finalmente encontra a sua identidade.

A tecnologia sempre foi um tema recorrente nas composições do quarteto, e quando esses recursos se tornavam acessíveis, e passavam a fazer parte da rotina, aqui não poderia soar de uma forma diferente.

Spacelab é uma interpretação minimalista sobre avanços que a ciência estava tomando durante a década de 1970, já que as viagens para o espaço era um dos assuntos mais debatidos nesse período. Esse progresso teve uma influência em vários meios dentro e fora da esfera científica, que até hoje possui um interesse nos cidadãos. Mas em outra observação, seria um olhar romantizado dessas viagens, ou simplesmente uma homenagem aos responsáveis por tornarem isso possível. Em outra análise pessoal, parece o desejo íntimo do grupo em fazer parte de uma.

A faixa possui um clima cinematográfico, e contém uma das melodias mais elegantes compostas pelo conjunto, que ressalta uma suposta excursão pelo espaço. Spacelab é uma bela celebração aos rumos que a humanidade pode tomar no futuro.

Metropolis segue o mesmo esquema rítmico da faixa anterior, porém é dedicada ao cineasta austríaco Fritz Lang (1890-1977), responsável pelo filme homônimo, que em seu lançamento em 1927, foi um grande sucesso nos cinemas dentro e fora da Alemanha, muito por ser o primeiro filme Sci-fi da sétima arte, além do expressionismo alemão adotado em seu visual (conceito estético que Ralf aprecia), e por abordar uma vivência social ainda evidente.

Aqui os synths são arpejados em um tom mais encorpado, com uma percussão bem marcada — e mecânica —, favorecendo o clima inquieto de uma grande capital. Berlim nessa época fervia, Metropolis retrata esse clima. Ouvimos o coração da cidade através da música.

Fugindo do tema máquina, The Model relata o mundo da moda que crescia em paralelo ao que acontecia durante os anos de 1970. Uns afirmam a música como uma crítica a esse círculo social, outros identificam um desaprovamento desse estilo de vida, mas a faixa soa como uma veneração às modelos de todo o mundo. É a canção mais pop que já escreveram, e tendo o seu sucesso conquistado somente no ano de 1981. O contrabaixo é acentuado e a sua melodia simples, dão clima dançante na faixa.

Neon Light é dedicada à cidade de Paris, considerada como uma das cidades mais charmosas e elegantes do mundo. A faixa é singela e tem um ritmo contemplativo, com uma clima mais leve e relaxante. De todo o disco, é a faixa com a maior duração, um belo convite a um passeio pela cidade das luzes.

The Man-Machine conclui o álbum de uma forma completa, era o conceito que o grupo tanto buscava sendo retratado em sons mecânicos simulados pelos sintetizadores. Diferente de sua abertura amigável com “The Robots” — muito marcada pelo bom humor e seus efeitos de som —, o encerramento tem as melodias repetitivas, que concedem um aspecto de hipnose auditiva.  

O ritmo mecânico é presente e exposto de forma íntegra, sendo intercalado por frases que remetem a o homem e a máquina. Uma correlação entre o individuo e o objeto, os dois convivendo em harmonia e não uma anulação. A música dá a impressão de algo sendo ativado conforme a canção progride.

Outro ponto em que merece o destaque é o emprego realizado na criação do visual do LP, do qual se inspiraram no construtivismo russo (movimento estético - 1919) em especial as obras do artista também russo, El Lissitzky (1890 - 1941) refeitas pelo artista gráfico alemão Karl Klefisch, que  se equipara ao que se ouve no disco, é a combinação entre som e imagem, junto em um trabalho único que exprime a ideia dos músicos sobre o nexo contemporâneo que a cada dia se torna mais evidente.

As seis faixas procuraram retratar as inquietações que mediavam os debates no meio artístico em relação aos eminentes avanços que ocorriam em diferentes partes da sociedade, tanto dentro, mas principalmente, fora da Alemanha que ainda se encontrava dividida e receosa. O kraftwerk aqui , conseguiram atravessar essa barreira e expor as suas observações.    

Para o lançamento do disco, o integrantes encomendaram quatro manequins (réplicas) que usaram nas divulgações em TV e em algumas festas promovidas pela gravadora, e essa ideia ‘bizarra’ acabou fazendo sucesso e se tornou, enfim, a identidade do quarteto.

Na época fizeram dois vídeos para divulgação na TV. Neonlights foi filmado durante uma sessão de fotos promocionais e The Robots, que foi registrado por eles mesmos no estúdio Kling Klang, que durante a gravação, geraram inúmeros risos.

Em 1978, o grupo recebeu elogios tanto da crítica, quanto do público, as músicas fizeram muito sucesso nas pistas de dança, era o auge da Disco Music. A faixa Metropolis era a favorita dos Djs da época, muito devido ao seu ritmo que permitia uma mesclagem com outras faixas e principalmente pelo aspecto ‘viajante’ da música.

Foi cogitada uma apresentação para outubro do mesmo ano (1978), porém cancelada, chegaram até produzir os ingressos, mas nenhum vendido. O real motivo dessa anulação, nunca foi revelado, mas supõem que os integrantes, não chegaram a um padrão satisfatório para uma apresentação ao vivo de suas músicas, por causa da relativa dificuldade em executá-las de forma correta. Os integrantes resolveram deixar tudo para o próximo álbum que já estava sendo desenvolvido paralelamente.

O ambiente imaginativo criado pelo grupo perpetua até aos dias de hoje, o conceito do disco jamais perdeu o seu vigor. Apesar das constantes mudanças que ocorrem no dia a dia em relação com à tecnologia. Mas o futuro vintage 'pensado' pelo kraftwerk, deu certo charme na música eletrônica que ebulia nesse momento.

Em tempo, parabéns! 


terça-feira, 17 de abril de 2018

O Kling Klang Machine, — aplicativo musical criado pelo Kraftwerk —, agora se encontra disponível de graça para download.


Lançando em 2011, o App consistia e um gerador de sons que se baseia em localização geografia (GPS) para criar músicas.  O usuário através da tela de toque pode alterar, manipular todos os sons que são emitidos pelo software. Incluindo ritmos e efeito de som.

O anúncio não foi confirmado oficialmente pelo grupo, a informação foi divulgada pela web. Os fãs do quarteto agradecem a liberação do programa musical, que agora permite, não só aos admiradores dos alemães, mas a todos, a terem acesso a um pedaço do que eles usam internamente.

Aqui nesse pequeno blog, já falamos sobre o aplicativo. Você conferir o que escrevemos nesse link Aqui

Download

Em tempo, boas criações.




sábado, 7 de abril de 2018

sábado, 3 de março de 2018

Ralf Hutter - Kraftwerk continua em busca do futuro (1998)



18 de outubro de 1998

FREE JAZZ - RIO - PATRICIA DECIA
enviada especial ao Rio

A "Elektronikevolksmusik" está no Brasil. E subirá hoje, no Rio, ao palco do Free Jazz (pela primeira vez ao vivo na América Latina), personificada nos homens-máquina do Kraftwerk, ao mesmo tempo seus criadores e criaturas.

A expressão em alemão é emblemática. Para boa parte do público brasileiro, causa estranheza muito semelhante à provocada pelo tecno. No entanto, revela o conceito de música popular eletrônica, "a nova música, linguagem universal deste e do próximo século". 

Quem assim a qualifica é Ralf Hutter, um de seus genitores, há 30 anos, parte da primeira geração de uma Alemanha pós-guerra devastada culturalmente. E sua banda Kraftwerk -uma das maiores influências da música contemporânea no mundo- continua ainda em busca do futuro. 

É "visionário" o adjetivo que ele aceita para falar de seu próximo álbum -que deve ser lançado em 99, após um hiato de mais de uma década-, durante entrevista concedida à Folha, anteontem, no Rio.

Folha - O Kraftwerk se considera mais do que um grupo pop?

Ralf Hutter - Sim. Somos operários musicais. Inventamos a semana de 168 horas, não há separação entre trabalho e tempo livre. Há tantas coisas a fazer: música, programar computadores, imagens, filmes, letras, palavras, discurso, entrevistas, viagens, esportes.

Folha - O que mais o interessa?

Hutter - A vida cotidiana.

Folha - Na Alemanha?

Hutter - Sim, só podemos falar do nosso dia-a-dia, ou seja, predominantemente o contexto industrial alemão em Dusseldorf, Colônia. Mas também estamos perto da fronteira, área pan-européia.

Folha - Nesse momento a Alemanha passa por mudanças políticas.

Hutter - Sim, mas isso é só administração. Acho que não tem nada a ver com arte, música ou pensamento. Quem se importa com o governo? Não acho que burocratas podem influenciar a cultura.

Folha - E quem pode?

Hutter - Bem, as pessoas fazem cultura, os cineastas, os escritores, os matemáticos, os cientistas, os artistas. Essas são pessoas interessantes, não os burocratas.

Folha - E o cotidiano?

Hutter - As invenções influenciam a vida cotidiana, como o gravador, a câmera digital, o sintetizador. Há cem anos, para criar um grande som, era preciso uma centena de pessoas, então era necessário um rei ou um rico empreendedor industrial. Hoje, com um computador e caixas de som, há todo um novo princípio de criação autônoma, que transforma os governos e a burocracia em redundantes. E com a Internet e outros canais de comunicação, há diferentes autonomias de discurso.

Folha - O que acha do "faça-você-mesmo" com os computadores na música? E do resultado?

Hutter - É como havíamos previsto nos anos 70. Éramos a primeira geração do pós-guerra na Alemanha, quando não apenas as casas foram bombardeadas, mas havia uma desorientação na cultura alemã. Mas foi uma grande oportunidade, porque começamos do zero, não havia tradição contínua. Tínhamos essa idéia de criar a "Elektronikevolksmusik", como o "Volkswagen" (carro popular). Agora está em todo lugar, no mainstream. Aconteceu.

Folha - Em 1977, você disse que "todo mundo busca o transe na vida, e as máquinas produzem um transe absolutamente perfeito". Continua achando?

Hutter - Sim. Nós tocamos as máquinas e algumas vezes elas nos tocam, é um diálogo. Kraftwerk é o homem-máquina ("man-machine"). Algumas pessoas atingem o transe com a exaustão física, tomando drogas ou 20 xícaras de café. Nós o fazemos pela música.

Folha - Há uma hierarquia na música eletrônica?

Hutter - Não. Algumas vezes, na música, o fator humano é superestimado. E com Kraftwerk nós levamos o fator mecânico ao mesmo nível, à igualdade. Se você trata suas máquinas musicais da mesma forma que seus amigos ou a si mesmo, achará um feedback positivo.

Folha - Primeiro foi o mecânico, o carro, o trem (nos álbuns "Autobahn" e "Trans-Europe Express"), depois o computador (em "Computer World"), agora há a Internet. A música antecipa esses estágios ou os retrata?

Hutter - Algumas vezes ela é simultânea, mas a música pode ser muito visionária.

Folha - O que é visionário hoje?

Hutter - Nosso próximo disco.