quinta-feira, 16 de junho de 2016

Stern Magazine - Ralf Hütter - December 1999

Após 14 anos sem lançar músicas novas, a banda Kraftwerk está de volta à cena com "Expo 2000". O integrante Ralf Hütter estava pronto para a primeira entrevista após 9 anos...

Stern: Você é uma pessoa antiquada, Sr. Hütter? Sua nova música "Expo 2000" soa parecida com a que o Kraftwerk fez há 20 anos atrás.

Hütter: Nós criamos novos trabalhos, eles são como modelos mentais, você sempre pode programá-los novamente. Estas canções deixaram impressões em todo o mundo e nós tivemos reações de todo tipo em relação à nossa música.
               
Stern: Recentemente vocês tiveram uma apresentação com os robôs no show "Top of the Pops" (Inglaterra). Vocês acham que os espectadores de 16 anos de idade entendem sua música?

Hütter: Nossa mensagem não é limitada a nenhuma faixa de idade específica.

Stern: Nos anos 70 o Kraftwerk foi acusado de ser a "morte da música"...

Hütter: Isto ajustou-se por si mesmo. Nós demos vida a um novo tipo de música.

Stern: Mas quando esta nova música chamada Techno surgiu, vocês se retraíram...

Hütter: Isto não é verdade. Nós reprogramamos nossa música.

Stern: Em 1991, seu disco-remix foi lançado, e foi o último disco em 14 anos. Atualmente, o que vocês fazem na maior parte do tempo?

Hütter: Nós vamos ao estúdio todo dia. Há muito o que fazer: nós somos "trabalhadores musicais".

Stern: As pessoas dizem que você está mais ocupado com bicicletas do que com música...

Hütter: Uma vez por ano eu participo da etapa montanhosa da Volta da França. Então eu tenho que estar treinando.

Stern: E o que vocês estão fazendo no estúdio?

Hütter: Nós digitalizamos completamente nossas músicas antigas, elas estão todas salvas em disco rígido. É o nosso arquivo sonoro. Ele nos fará permanecer.

Stern: Vocês não ficam preocupados se seu disco rígido puder ser apagado e nada permanecer de suas músicas?

Hütter: O que é um ponto de vista interessante: dados desaparecem, como papel no decorrer do tempo. Mas isto não nos preocupa. Outros então teriam que recriar nossa música.

Stern: Nos primeiros tempos vocês iam ao estúdio com ternos e maletas. E hoje?

Hütter: Exatamente o mesmo. Ao invés de maletas, nós temos laptops, então não temos que carregar tanto papel...

Stern: Suas músicas tinham títulos como "Radioactivity" e "The Man Machine". As pessoas temiam isto nos anos 70, mas hoje elas se acostumaram com isso. Que tipo de título as pessoas temem hoje?

Hütter: Talvez "Computer Bombs". Com computadores você pode lançar bombas. A técnica é a mesma que usamos para produzir nossas músicas.

Stern: Quer dizer, vocês poderiam controlar bombas com seu equipamento de estúdio?

Hütter: Deixe-me explicar isto de outra forma: nos anos 70 e no começo dos 80 nós não tínhamos permissão para entrar no bloco oriental com nossos computadores. Eles achavam que eram ferramentas de guerra.

Stern: Você disse uma vez que não se sentia como Ralf Hütter, mas como Kraftwerk. Como é isto?

Hütter: Na língua alemã, os sobrenomes são frequentemente de profissões, como Müller (mecânico) e Bauer (fazendeiro). Eu não me sinto como Sr. Hütter, mas mais precisamente como Sr. Kraftwerk. Eu me sinto como um robô.

Stern: O jingle Expo, que foi a base para a música Expo 2000, dura 4 segundos. Vocês receberam 400.000 marcos pelo trabalho. Quanto tempo demorou para produzir o jingle?

Hütter: É impossível medir o tempo. Nós não trabalhamos com cronômetro. Mas com certeza levou mais do que 5 segundos.

Stern: Você se sente só quando trabalha?

Hütter: É belo estar só. O silêncio é importante porque os humanos são constantemente incomodados pelos ruídos da música. Esta é a razão porque nós exigimos dias de silêncio. Ás vezes nós andamos por aí com alicates para cortar os cabos das caixas acústicas. Se nós pararmos a constante perturbação da música, nós teremos a chance de ouvir sons autênticos: como soam as ferramentas, portas, relógios, carros, bicicletas…

Stern: O estúdio Kling Klang de Düsseldorf então é uma fábrica ou um monastério?

Hütter: Uma fábrica de música na qual as máquinas devem ser silenciosas.

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