Após 14 anos sem lançar músicas novas, a banda Kraftwerk
está de volta à cena com "Expo 2000". O integrante Ralf Hütter estava
pronto para a primeira entrevista após 9 anos...
Stern: Você é uma pessoa antiquada, Sr. Hütter? Sua nova
música "Expo 2000" soa parecida com a que o Kraftwerk fez há 20 anos
atrás.
Hütter: Nós criamos novos trabalhos, eles são como modelos
mentais, você sempre pode programá-los novamente. Estas canções deixaram
impressões em todo o mundo e nós tivemos reações de todo tipo em relação à
nossa música.
Stern: Recentemente vocês tiveram uma apresentação com os
robôs no show "Top of the Pops" (Inglaterra). Vocês acham que os
espectadores de 16 anos de idade entendem sua música?
Hütter: Nossa mensagem não é limitada a nenhuma faixa de
idade específica.
Stern: Nos anos 70 o Kraftwerk foi acusado de ser a
"morte da música"...
Hütter: Isto ajustou-se por si mesmo. Nós demos vida a um
novo tipo de música.
Stern: Mas quando esta nova música chamada Techno surgiu,
vocês se retraíram...
Hütter: Isto não é verdade. Nós reprogramamos nossa música.
Stern: Em 1991, seu disco-remix foi lançado, e foi o último
disco em 14 anos. Atualmente, o que vocês fazem na maior parte do tempo?
Hütter: Nós vamos ao estúdio todo dia. Há muito o que fazer:
nós somos "trabalhadores musicais".
Stern: As pessoas dizem que você está mais ocupado com
bicicletas do que com música...
Hütter: Uma vez por ano eu participo da etapa montanhosa da
Volta da França. Então eu tenho que estar treinando.
Stern: E o que vocês estão fazendo no estúdio?
Hütter: Nós digitalizamos completamente nossas músicas
antigas, elas estão todas salvas em disco rígido. É o nosso arquivo sonoro. Ele
nos fará permanecer.
Stern: Vocês não ficam preocupados se seu disco rígido puder
ser apagado e nada permanecer de suas músicas?
Hütter: O que é um ponto de vista interessante: dados
desaparecem, como papel no decorrer do tempo. Mas isto não nos preocupa. Outros
então teriam que recriar nossa música.
Stern: Nos primeiros tempos vocês iam ao estúdio com ternos
e maletas. E hoje?
Hütter: Exatamente o mesmo. Ao invés de maletas, nós temos
laptops, então não temos que carregar tanto papel...
Stern: Suas músicas tinham títulos como "Radioactivity"
e "The Man Machine". As pessoas temiam isto nos anos 70, mas hoje
elas se acostumaram com isso. Que tipo de título as pessoas temem hoje?
Hütter: Talvez "Computer Bombs". Com computadores
você pode lançar bombas. A técnica é a mesma que usamos para produzir nossas
músicas.
Stern: Quer dizer, vocês poderiam controlar bombas com seu
equipamento de estúdio?
Hütter: Deixe-me explicar isto de outra forma: nos anos 70 e
no começo dos 80 nós não tínhamos permissão para entrar no bloco oriental com
nossos computadores. Eles achavam que eram ferramentas de guerra.
Stern: Você disse uma vez que não se sentia como Ralf
Hütter, mas como Kraftwerk. Como é isto?
Hütter: Na língua alemã, os sobrenomes são frequentemente de
profissões, como Müller (mecânico) e Bauer (fazendeiro). Eu não me sinto como
Sr. Hütter, mas mais precisamente como Sr. Kraftwerk. Eu me sinto como um robô.
Stern: O jingle Expo, que foi a base para a música Expo
2000, dura 4 segundos. Vocês receberam 400.000 marcos pelo trabalho. Quanto
tempo demorou para produzir o jingle?
Hütter: É impossível medir o tempo. Nós não trabalhamos com
cronômetro. Mas com certeza levou mais do que 5 segundos.
Stern: Você se sente só quando trabalha?
Hütter: É belo estar só. O silêncio é importante porque os
humanos são constantemente incomodados pelos ruídos da música. Esta é a razão
porque nós exigimos dias de silêncio. Ás vezes nós andamos por aí com alicates
para cortar os cabos das caixas acústicas. Se nós pararmos a constante perturbação
da música, nós teremos a chance de ouvir sons autênticos: como soam as
ferramentas, portas, relógios, carros, bicicletas…
Stern: O estúdio Kling Klang de Düsseldorf então é uma
fábrica ou um monastério?
Hütter: Uma fábrica de música na qual as máquinas devem ser
silenciosas.
Interview to Oliver Creutz
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