quinta-feira, 7 de junho de 2018

Ralf Hütter — Entrevista, Jornal O Globo — 5 de Setembro de 1998.


Kraftwerk traz ao Brasil o pop eletrônico original

Grupo alemão que há 30 anos influencia gerações em todo o mundo promete shows carregados de efeitos tecnológicos.

Apresentação  da banda alemã Kraftwerk no Free Jazz 98 é certamente o evento do ano no mundo pop. O grupo formado em Düsseldorf há 30 anos — tendo como núcleo a dupla Ralf Hütter e Florian Schneider — simplesmente influenciou todos os que têm hoje alguma ligação com a música eletrônica, da disco music ao hip-hop, do electro ao Techno, tudo tem alguma referencia ao som do kraftwerk.

Cultora de uma aparência robótica e com uma vida pessoal reservada, a banda não é dada a entrevistas. Mas, como será a primeira vez no Brasil, Ralf Hütter concedeu 15 minutos ao GLOBO. Contudo, por telefone Hütter foi extremamente simpático e se mostrou excitado com a vinda à América do Sul pela primeira vez.

Músico diz que quer conhecer os nos da noite carioca

— O motivo pelo qual nós não fomos aí até hoje é puramente técnico. — disse ele de Düsseldorf — Antes, os equipamentos eram muito pesados, de difícil transporte, e não queríamos fazer um show incompleto.

Agora, ele promete, o Show do Kraftwerk no Brasil exatamente como os europeus.

— Sim, levaremos telões, todos os equipamentos. Os robôs... Não vai faltar nada — garante ele.
Hütter se mostra ainda interessado na noite local. Ele di estar interessado em conhecer os clubes da cidade e sentir o vibe  da cidade.

Adoro sentir a vibração das pessoas na pista de dança. Quero conhecer a música local.
Ele falou sobre o modo como o kraftwerk sempre se inspirou no feelling do momento no mundo para conceber a sua música.

— O feeling  de hoje é sobre o mundo ligado dinamicamente pelas redes de comunicações. Nos anos 60, quando começamos, era mais sobre os equipamentos eletrônicos pesados. Foi difícil montar o nosso estúdio, o Kling Klang, na época. Hoje, é tudo portátil, digital, leve, mais fácil.

Justamente pelo fato de a tecnologia ter ser tornado mais acessível, hoje, é possível para qualquer um pode fazer música em seu próprio quarto. E Hütter diz que essa sempre foi a meta do Kraftwerk.

— Quando inventamos o Kraftwerk, o conceito era o de fazer a própria música, criar os próprios instrumentos. Naquele tempo, isso era muito difícil, ousado. Mas, hoje especialmente aqui na Europa, as pessoas tem acesso a tudo isso rapidamente. Nós nos antecipamos a isso.

Falando em antecipação, o Kraftwerk sempre esteve um passo à frente de tudo o que se faz em termos de música eletrônica, justamente por estar atento às mudanças do mundo.

— Sempre estamos ligados no que acontece. Moramos numa cidade industrial bem no centro da Europa. Vijamos para toda parte da rapidamente, vamos a clubes em Amsterdam, Paris, Londres, vemos shows, ouvimos rádio, dançamos sentimos a música  e o ambiente de cada local.

Apesar disso, modesto, Hütter reluta o titulo de pai ou avô do Techno que hoje assola o mundo.
— Claro que, de certa maneira, nossa influencia é positiva, pois nos 60 a música ia para uma direção diferente, a das superbandas, dos superstars , e nós quebramos essa imagem.

Dessa forma, a banda foi, de certa forma, uma versão antecipada e eletrônica do punk.

Sobre a noite do Kraftwerk no Rio, Hütter  diz gostar da banda que vai tocar depois deles, a inglesa Massive Attack.

— Conheço o som e sei que eles fazem uma abordagem diferente da nossa de música eletrônica. É muito interessante.

Dois ex-integrantes foram substituídos por técnicos

Basicamente, além de Hütter e Schneider, o Kraftwerk era formado por Karl Bartos  e Wolfgang Flür , que agora estão fora da banda. Hutter explica que, na verdade, o Kraftwerk sempre foi mais do uma simples banda:

— Originalmente, além de mim e de Florian , o Kraftwerk foi sempre um aglomerado de engenheiros eletrônicos, técnicos de gravação, videastas; e as quatro figuras no palco eram apenas uma apresentação de banda.

Por isso, os substituímos de Karl e Wolgang são dois técnicos dos estúdios Kling Klang: Fritz Hilpert e Henning Schmitz.

— Kraftwerk é um todo, Em turnê, somos 12 pessoas.

Quando a um novo disco (o último de inéditos, “Electric Café” saiu em 86; depois dele, só a coletânea “The Mix”), ele diz que virá, talvez, no começo de 99.