The Mix - Katalog |
O início da década de 1990 na
Europa foi marcado por mudanças significativas, tanto no âmbito sociopolítico,
quanto cultural em todo o continente. A Alemanha teve a queda do Muro de Berlim
(1961 – 1989) concluída, fato que permitiu a unificação de um país que por
muito tempo se encontrava dividido. O ato gerou uma renovação na nação, e a
nova música eletrônica que surgia nesse período, foi de forma indireta, a
trilha sonora que celebrou a reunificação dessa pátria, que por muito tempo, passou
por um momento extremamente sombrio e difícil em seu passado.
Com um novo tempo se abrindo e
tendo constantes novidades, esse período (1990), trouxe uma remessa de renovações
na área de tecnologia, principalmente nos meios de comunicação de massa e entretenimento.
A internet já apresentava os seus
primeiros sinais do que ela seria no futuro, novos aparelhos surgiam em
diferentes espaços, causando uma empolgação em seus consumidores, e a tão
festiva década de 1980, finalmente se despedia de seu posto de uma era de ideias
utópicas, para ser classificada posteriormente, como uma época Cult e excessivamente pop.
A implementação do formato
digital, foi um divisor de águas nessa fase, recurso que contribuiu para que houvesse
um salto importante na tecnologia destinada à música em 1990, isso foi o começo
da popularização dos estúdios caseiros (Home
Studio) e o computador, tornou-se uma ferramenta obrigatória para quem
fosse criar música eletrônica. Incluindo os novíssimos sintetizadores,
sequenciadores entre outros aparelhos, que contribuíram para que a cena de Dance Music, fosse forte e sólida.
A Dance Music, foi o gênero que apresentou o maior número de
inovações rítmicas, além de o estilo incorporar de forma completa, todo esse
novo desenvolvimento que estava disponível, e
aproveitando ao máximo, todos os recursos que elas dispunham; transformando esses novos dotes em sua força motriz e vitalícia. Um tipo
de comportamento, que os outros gêneros demoraram a assimilar. Justificando, a
classificação de futurista, que a
música eletrônica passou a ter nesse momento.
Em decorrência da agitação
causada por tantos aprimoramentos, a cena eletrônica em Berlim acabou fazendo muito sucesso, e uma grande quantidade de
novos produtores, proliferaram suas músicas através das pistas de dança na tão contente
capital alemã. Esses artistas fizeram uma atualização considerável no meio
musical. E o Kraftwerk sendo uma
banda atípica se tratando de música, e vivendo no centro de um país que passava
por um turbilhão cultural e tecnológico, se viu obrigada a dialogar com essa
geração que crescia a cada final de semana.
Input Data |
Mix marca o início de uma nova fase no grupo, essa, sem dúvida, a mais
significativa na parte técnica, devido ao advento e do baixo custo que a
tecnologia digital dispõe, incluindo a sua facilidade de uso. O mercado de
tecnologia voltado para música tinha mudado, O Kraftwerk se viu submetido a atualizar seus instrumentos, que em
consequência dessa renovação, suas músicas sofreram alterações diretas.
Com nove anos sem se apresentar
ao vivo e com o último disco lançado em 1986 (Electric Café), e zero de informações sobre o que os integrantes
faziam, o grupo ainda se encontrava com uma incerteza do que iriam gravar.
Bem provável que Fritz Hilpert seja o principal
responsável pela existência do Mix,
pois Fritz ,
além
de sua formação em engenharia de áudio, é professor de desenho de som, e trabalha
com diferentes artistas musicais, e mantém uma atualização contínua, em relação à tecnologia direcionada ao áudio e a músicos.
Há uma enorme diferença na
sonoridade entre Electric Café (1986)
e The Mix (1991), no qual abordaram
uma vertente mais fria e sintética, e deixando de lado toda a vitalidade e
vigor que as músicas antecessoras possuíam. Permitindo fluir o lado máquina, e
diminuindo o fator humano em Mix. Abordagem
que causou uma estranheza entre os fãs do grupo que esperavam por músicas
inéditas. Mas o disco é uma bela desculpa para apresentar um material “novo”,
utilizando o que foi feito no passado.
Em entrevistas para a divulgação
do disco, Ralf alegava que o motivo para essas reinterpretações de suas músicas, se deve ao
fato ocorrido durante os ensaios com os novos instrumentos, que na qual as
músicas clássicas soavam completamente diferentes.
Boa parte das músicas sofreram
grandes mudanças em suas estruturas e tiveram diferentes tratamentos harmônicos,
como no caso de Autobahn, que teve
todas as suas nuances e intercessões sonoras modificadas, soando mais plácida e
artificial.
Robôs Mixando. |
O humor singelo e discreto
característico do grupo fica explicito em Pocket
Calculator, que ganhou uma versão adjunta em japonês chamada Dentaku
que no álbum, se tornou a faixa mais cômica. Computer Love perde os seus improvisos e charme eletrônico e ganha
ares de música pop. Home Computer
recebe a junção de It´s More Fun To Computer tornando-se uma só faixa, que evoca o futuro inevitável que os
computadores proporcionam na sociedade.
Trans Europe Express, de todas as releituras, é a faixa que
consegue em parte, se igualar com a versão original, devido ao bom uso dos
sintetizadores e dos processadores de áudio empregados na música. Recursos que ajudaram
a conseguir transcrever em sons e melodias, a importância e a grandiosidade que
esse meio de transporte teve na Europa em seu passado.
Trans Europe Express, é a faixa em que ouvimos o Kraftwerk em sua forma original sem
muitos artifícios modernos, seguindo a vertente clássica desenvolvida pelo grupo,
mas utilizando equipamentos novos.
A faixa ganhou uma interessante orquestração
que foi acrescentada em uma de suas divisões chamada de Metal on Metal. O arranjo adicional, tonifica o conceito criado para a
música, que a deixa mais impactante e solene. O tratamento dado aos detalhes
nessa regravação, se apresentam com mais caprichos, dando a impressão que a
composição se encontra desconexa em relação as restantes, devido a sua
releitura que ressalta o seu lado mais sinfônico do que o rítmico. Apesar de não
fechar o álbum, T.E.E. chama toda a
atenção do disco.
Comunicação |
Em seu lançamento, o álbum trouxe
para o grupo um retorno positivo, tendo uma turnê que durou até ao ano de 1993.
E o grupo fez uma série de entrevistas para várias revistas de música, incluído
rádio e TV. O disco saiu em diversos formatos como: CD, Vinil Duplo e em Fita Cassete, nos idiomas Inglês e em alemão, a língua nativa dos músicos.
As apresentações ao vivo, foram
marcadas pelas faixas mais longas recheadas de improvisos e efeitos sonoros. E as
execuções dessas músicas eram radicalmente diferentes das que foram tocadas durante
a turnê do álbum Computer World (1981-1982).
Apesar de não trazer músicas inéditas, The Mix representa
o Kraftwerk como um grupo musical
que consegue se adaptar as mudanças dentro e fora da música, sem precisar
utilizar de algum apelo, e demonstrando que os músicos se encontram relevantes
com o mundo à volta deles.