quarta-feira, 28 de março de 2012

Os Homens e as máquinas


O criativo projeto artístico do kraftwerk deu uma guinada conceitual em The Man-Machine. A capa simbólica fazia referência ao modernista russo El Lissitzky e as músicas falavam de um mundo cada vez mais autômato de alienação urbana, de engenharia da era espacial e de fama sem glamour. 

Essa visão futurista da fusão da humanidade com a tecnologia está presente tanto na faixa-título como em “The Robots”, outra piada em cima da imagem andróide da banda. 

Para o lançamento do álbum, o quarteto de Düsseldorf encomendou robôs iguaizinhos a seus integrantes, que passaram a ser acessórios permanentes dos shows. O uso de vozes sintéticas se tornaria uma característica do som sempre em evolução do kraftwerk. 

Mas The Man-Machine também contém algumas das cancões mais atemporais da banda. Acentuada pelos vocais melancólicos de Ralf Hütter, “Neon Light” é uma música dolorosamente romântica, enquanto “The model” é uma sátira à indústria da beleza, tão a frente de seu tempo que chegou ao primeiro lugar das paradas inglesas três anos após o lançamento do disco.

Esse retrato profético da cultura da celebridade se tornou um cartão de visitas do Kraftwerk e inspirou gerações de artistas – dos pioneiros do technopop dos anos 1980, como Human League, New Order, Pet Shop Boys e Depeche Mode ao recente movimento “eletroclash”. 

A grande conquista de The Man-Machine não é apenas a influência que exerceu, mas a sua capacidade de síntese. Um exame minucioso das faixas revela variações de minutos nos temas percussivos repetitivos e há uma interação quase clássica entre as partes de sintetizadores. 

Em seu sétimo álbum, o Kraftwerk provou que o poder da musica eletrônica não estava em truques elaborados, mas na simplicidade zen do domínio científico.




quinta-feira, 1 de março de 2012

Kraftwerk at MoMA


Mostra leva Kraftwerk de volta para o futuro

Banda alemã tocará cada um de seus LPs em retrospectiva no MoMA de Nova York

Jon Pareles - The New York Times

Linhas de sintetizador repetitivas e pulsantes. Vozes robóticas. Isso é boa parte da música pop de 2012 — e era também o som, lá em 1974, do Kraftwerk, uma banda alemã que hoje pode dizer, com segurança, que viu o futuro. Com uma visão muito à frente do seu tempo, o Kraftwerk (termo em alemão que quer dizer “usina de força”) se instituiu nos anos 1970 como “o homem-máquina”, casando o impulso humano com a inflexível eletrônica na forma de ciborgues impassíveis. O grupo pode se afirmar como fundador do synthpop, da dance music eletrônica e até do hiphop.

As imagens geométricas estilizadas das capas de seus discos e dos seus shows misturaram de forma elegante ficção científica e retrofuturismo. Agora, o Museu de Arte Moderna (MoMA) apresenta a mostra “Kraftwerk —Retrospective 1 2 3 4 5 6 7 8,” de 10 a 17 de abril, com a banda tocando cada um de seus LPs — de “Autobahn” (1974) a “Tour de France soundtracks” (2003) — ao longo de oito noites.

O Kraftwerk já tinha uma carreira em 1974, quando uma edição de quatro minutos de sua canção “Autobahn” (que originalmente tem 22 minutos) se tornou um improvável sucesso mundial. A banda era parte de um movimento alemão conhecido como krautrock.

Seus primeiros discos traziam faixas longas e improvisadas, que uniam minimalismo e psicodelia, e tinham uma flauta tocada por Florian Schneider, que fundou o Kraftwerk com o tecladista Ralf Hütter (hoje, único membro original ainda na banda). “Autobahn” foi o ponto de virada, com a opção pela eletrônica, pela repetição e pelas letrascalmas e ambíguas.

Ao longo dos anos , o Kraftwerk falaria sobre transportes e tecnologia — uma rodovia, um trem, uma calculadora de bolso, um computador pessoal... — e deixaria seus ouvintes decidirem se eles estavam celebrando, ironizando ou alertando sobre os perigos de seus tópicos. No PS1, equipamentos antigos Seus instrumentos, que eram avançados, hoje parecem primitivos: sintetizadores analógicos e uma limitada bateria eletrônica. Mas o Kraftwerk foi se atualizando, incorporando sintetizadores digitais, animação computadorizada e artefatos de palco como os robôs que replicam os integrantes da banda.

Os shows do Kraftwerk serão no átrio principal do museu, onde cabem 450 pessoas. Eles terão cenários, vídeos em 3-D e alguma improvisação musical. Enquanto isso, a mostra com os equipamentos antigos de áudio e vídeo da banda — robôs incluídos — será incorporada a uma instalação visual e sonora no Performance Dome do MoMA PS1, de 10 de abril a 14 de maio.