Lançado em 16 de dezembro de
1986, Electric Café foi o último trabalho do Kraftwerk com sua
formação original. E após o lançamento desse álbum, o grupo passou por
transformações internas que resultaram em mudanças consideráveis em sua
estrutura.
Na época de seu lançamento, Electric
Café não agradou de primeira. Muitos críticos o consideraram um
trabalho simples demais, e muitos dos fãs não compreenderam a ideia por de trás
do álbum. Apesar de uma abordagem mais simplista e dançante. O disco marcou o
quarteto em uma nova fase artística, e o colocaram de vez nas pistas de dança
ao redor do mundo. Electric café foi uma verdadeira festa através das mãos dos DJs da década de
1980.
Como o disco anterior − o
Techno Pop, que não existiu de
fato-, e somente tendo o EP/single Tour de France como material
inédito. O Kraftwerk se viu em estado de uma grande incerteza artística, ou
simplesmente não sabiam o que fazer. E o grupo sendo completamente fechado em
dizer o que criam; fica difícil em afirmar o que realmente aconteceu. Muito do
que é dito desse período, não passa de pura especulação.
Apesar do período confuso e com
uma dívida com a gravadora EMI, que
pedia por mais um disco. O grupo se viu obrigado a liberar algum tipo de
material. Nessa mesma época, um vídeo Clip já estava em fase de conclusão, e
para não ficarem com mais um material incompleto, o grupo então chegou a um
acordo, e pegaram o que já tinham feito para o Techno Pop e reutilizaram
em Electric
café.
Electric café é mais um
trabalho curioso do quarteto alemão, apesar da sua mudança radical sonora, da
qual fizeram no disco; e nesse disco ouvimos o grupo em uma nova fase rítmica,
com uma abordagem estética bem diferente de suas fases anteriores. Que na
época, casou uma surpresa aos fãs mais antigos. Porém, conquistou novos adeptos
aos sons “futuristas” do quarteto europeu.
Em Electric Café, temos os músicos
alemães levando ao máximo o uso da tecnologia musical da qual tiveram acesso na
década de 1980. No disco, ouvimos o grupo em total deleite com uso de novos sintetizadores,
várias baterias eletrônicas, o bom uso do sample (uma novidade para a época),
além de novos Synths de voz. Tudo em
conjunto com os novíssimos processadores de áudio e de efeitos de som. Criando
assim, um mergulho praticamente sem volta no mundo digital. Tudo recheado por
um groove quase mecânico e futurista.
Era o “conceito” (de longe) de futuro da década de 1980, transcritos em música.
De posse dessa nova tecnologia digital,
e vivendo em uma década de ideias utópicas, o tema das músicas do Kraftwerk
acabaram sofrendo transformações. Se nos discos anteriores o grupo já tinha
abordado o carro, trens, comunicação, radiação, máquinas e computadores. Nesse
novo disco, os integrantes quase se viram em dúvida sobre qual assunto que
seria tratado em seu novo trabalho. Por sorte, resolveram falar sobre música e
tecnologia.
Apesar de ser um álbum curto (tem
apenas 32 minutos), o disco é pura diversão sonora. Desde sua faixa de abertura
até ao encerramento, ouvimos o kraftwerk em uma animação quase infinita, em
decorrência dos novos sons que acabaram de criar.
No disco temos Karl Bartos cantando a sua única faixa
com kraftwerk, que foi The Telephone Call. Bartos, em
entrevistas anos depois de sua saída do grupo, dizia que Ralf foi rigoroso
nessa faixa, pois não gostava da dicção de Bartos. Nessa mesma entrevista, Karl
afirma que a ideia dessa música, veio das ligações que Karl fazia para a
namorada. E como no estúdio Kling Klang,
não possuía telefone, Bartos se via obrigado a usar um orelhão.
Há o destaque para Sex Object,
faixa marcada pela orquestração dos Synths que simulam Cellos artificiais, junto com a sua linha de contrabaixo, que tem a
sua marcação rítmica, intercalada por inúmeros “Slaps Bass”, que ajudam a criar
um ‘balanço’ quase minimalista. E o jogo de sedução que é cantado na música,
que é permeado por variantes vozes sintéticas. Sex Object junto com a
quase orgânica Electric Café (que também é permeada por vários Synth e vozes
diversas), são consideradas por
muitos fãs e críticos musicais, como as músicas mais Outsiders que kraftwerk já compôs. Porém, ambas músicas, apenas
tiveram uma interpretação equivocada.
No álbum, há a longa suíte
chamada TechnoPop, que foi recheada e composta pelos novos Synths
, em conjunto com a sua variante melodia, com adição diversos efeitos de voz. E sua letra, que faz a conexão
entre música e tecnologia. Além da clássica Musique Non Stop, que tem
como a sua característica, a percussão pesada e quase estática. Criando um
ritmo quase industrial que se mantém por toda a faixa. Em sua apresentação ao
vivo, Musique Non Stop, ganhou novos efeitos de som e outras
intersecções harmônicas. Criando uma ambiência mais vigorosa para a
composição. MNS acabou se tornando uma faixa celebre, por encerrar os
concertos do grupo ao vivo. A tal
escolha, só contribuiu para o impacto que a música causa ao espectador,
aumentando assim a euforia nas performances ao vivo.
Na reedição para a caixa Katalog
lançada em 2009. Eletric Café teve seu nome mudado para Techno-Pop, e teve o
acréscimo da faixa House-Phone, um
Remix feito para o lado B do single de 12’ polegadas de The Telephone Call no ano de 1987. The Telephone Call, junto
com Musique
Non Stop, foram um sucesso nas pistas de dança na Europa e Estados
Unidos. E no mesmo ano de 1987, O Vídeo Clip de Musique Non Stop, começa
a ser veiculado em programas musicais, em especial na TV norte americana MTV.
Exibição que foi importante na popularização do grupo.
A década de 1980 foi uma época
marcada pelo surgimento do hip-hop, Stynth-Pop, New Wave, Pós-Punk, Electro,
Techno Music e outros estilos musicais eletrônicos. Quase todos eles,
influenciados pelas obras do kraftwerk. Praticamente, quase todos esses artistas
de música eletrônica desse período, indiretamente, usaram alguma amostra ou
estética que o grupo alemão criou em sua música.
Em outra análise, Electric
café soa como um "alô" que kraftwerk faz para todos esses grupos de
artistas, que surgiram nessa década. Que até hoje, detêm um crédito com grupo
alemão, que mostrou os caminhos que muitos deles seguiriam pelos anos
seguintes. E o disco só confirma o grupo alemão, como visionários vanguardistas
da música pop.