quinta-feira, 31 de maio de 2012
quinta-feira, 17 de maio de 2012
terça-feira, 15 de maio de 2012
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Kraftwerk Sónar São Paulo 2012
SÃO PAULO - Às 23h30 de
sexta-feira, 11, o Kraftwerk subiu ao palco do Sónar - Festival Internacional
de Música Avançada e Arte New Media, no gigantesco galpão de exposições do
Anhembi, com seus uniformes fosforescentes que lembram o futuro do filme Tron (1982),
a primeira animação da era pré-computadorizada, um esboço do que seria o atual
mundo digital. Mais de 15 mil pessoas com seus óculos testemunharam o primeiro
show em 3D no Brasil, o primeiro com esse grau de tecnologia visual.
A banda alemã abriu com (We Are)
The Robots, cartão de apresentação de um tempo de euforia espacial, um passado
o qual eles foram os primeiros, na música, a enxergar com os óculos da
distopia, da antiutopia. Depois de uma hora de show, havia quem assistisse já
sem os óculos, interessado mais na música do que nas projeções. Um lugar menor
talvez potencializasse mais os efeitos (a banda fez isso há pouco mais de um
mês em Nova York, no Museu de Arte Moderna, o MoMA, com grande impacto).
Radioatividade, desumanização,
Hiroshima, Fukushima, alimentação artificial, transgênicos, o carro ocupando o
lugar do homem: tudo isso já tinha sido advertido pelo Kraftwerk em finais dos
anos 1960, início dos anos 1970. Foram os primeiros a buscar o som de uma voz
humana engolida pela máquina. Ao lado de Kubrick com seu 2001, Uma Odisseia no
Espaço, eles denunciaram que o mistério não estava no monolito da tecnologia,
mas na própria natureza humana.
Curioso que o Kraftwerk tenha
proibido fotógrafos profissionais de registrarem seu show no Sónar - não há
mais fotógrafos profissionais, todo mundo agora fotografa e grava com seus
celulares e essa fronteira foi demolida. O protótipo de um computador de mesa
antigo, um desktop, surgia na tela durante a música Computer World, enquanto no
público as pessoas com iPads e celulares filmavam o show, um tipo de choque
proposital entre obsolescência e atualização tecnológica.
O set list era uma compilação dos
clássicos da banda (Man Machine, Autobahn, Radioactivity,Trans Europe Express,
Numbers, Tour de France), e a performance dos quatro alemães em seus púlpitos
de neon (que lembram os de pregação religiosa), com a voz
"vocoderizada" de Ralf Hutter soando de vez em quando, lembrava
porque a contribuição artística do Kraftwerk se equipara, em provocação, às de
Joseph Beuys, Stockhausen, Marcel Duchamp, Andy Warhol, Gropius e outros que
escanearam o futuro de forma irônica.
Não era apenas uma banda pop que
estava ali, mas funcionava como tal, porque ao longo do seu percurso, os
alemães institucionalizaram a dance music e foram responsáveis pelo surgimento
de bandas como Human League, Depeche Mode, New Order, entre outros filhos do
synth-pop.
O show do Kraftwerk foi
histórico, mas o Sónar resolveu "abolir" a lei antifumo em recinto
fechado e todo mundo começou a fumar alucinadamente, sem nenhuma atenção às
recomendações da Prefeitura. O galpão virou um fog imenso. Havia banheiros em
quantidade suficiente, mas muito longe dos palcos, especialmente o palco
principal, e as diversas locações estavam mal sinalizadas.
A retrospectiva do Kraftwerk não
foi igual à da sua última visita, quando abriram para o Radiohead, na Chácara
do Jockey, em 2009. Foi modernizada, a batida é mais forte, o apelo dance ainda
mais emprenhado pela tecnologia digital. Muito da força artística do Kraftwerk
vem também de sua capacidade de enxergar o layout da pré-modernidade, de
retirar as linhas mestras de trens, linhas férreas, usar o conceito primário de
aerodinâmica como base de sua arte gráfica visual. Isso nunca foi equiparado na
música pop.
Ao se despedirem, saindo um de
cada vez, ao som de Music Non Stop, era como se ficasse um grande vazio no
espaço, um vazio que nem toda a música que o Sónar projetasse para as próximas
horas, os próximos dias, pudesse preencher. Alguns garotos diziam que pintou um
certo tédio no final, mas o que é o Kraftwerk senão a reiteração crítica de
nosso tédio metropolitano?
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Kraftwerk traz 15 mil óculos ao Brasil para show em 3D
Banda alemã é uma das principais atrações do festival Sónar, que acontece em São Paulo nesta sexta e no sábado.
Em abril, o Kraftwerk fez oito shows no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York. Em cada performance, tocou um de seus discos na íntegra, de "Autobahn" (1974) a "Tour de France Soundtracks" (2003). Para acompanhar a música do grupo, foram elaboradas projeções em 3D. A série foi um sucesso, com ingressos esgotados em poucas horas.
Menos de um mês depois, um apanhado desses espetáculos será apresentado no Brasil. O Kraftwerk é a principal atração do festival Sónar São Paulo, que começa nesta sexta-feira (11). A apresentação será uma espécie de resumo do que foi tocado nos oito shows em Nova York. E aqui, assim como lá, o show será em 3D.
"Toda a tecnologia vem com a banda. Além dos telões e projetores, eles estão trazendo 15 mil óculos para distribuir entre o público", diz Chico Dub, da equipe artística do Sónar. "Quanto ao repertório, só a banda sabe exatamente o que vai tocar. Eles prometeram apenas um compilado de seus maiores sucessos."
Não será pouca coisa. Formado por Ralf Hutter e Florian Schneider em 1970 em Dusseldorf, na Alemanha, o Kraftwerk é uma das bandas mais importantes do século 20. Além de ser uma das pioneiras do uso da eletrônica na música pop, é influência fundamental no surgimento do rap e da disco.
Atualmente, apenas Hutter continua no grupo - Schneider abandonou o barco em 2009. Esta será a quarta visita da banda ao Brasil. A primeira foi no Free Jazz Festival de 1998. A segunda, no Tim Festival de 2004. A terceira, abrindo as apresentações que o Radiohead fez no país em 2009.
O Kraftwerk só foi confirmado no Sónar há pouco mais de duas semanas. Eles vêm no lugar da cantora islandesa Björk, que cancelou sua vinda ao Brasil por causa de problemas na garganta.
"Se o festival tivesse acontecido no ano passado, provavelmente não conseguiríamos fechar com o Kraftwerk tão rápido. Mas, como eles acabaram de fazer esta série de shows em Nova York e também estão trabalhando em um disco novo, nós conseguimos", comemora Chico Dub.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Kraftwerk, atração principal de última hora
Um papo com Ralf Hütter, único integrante da formação original do mitológico grupo alemão
A relação não é de Homem/máquina e sim entrevistador/entrevistado Mesmo assim, Ralf Hütter, do Krafwerk —
que se apresenta no Sónar São Paulo, no próximo dia 11 —, parece disposto a
inverter os circuitos e faz a primeira pergunta ao repórter, assim que a
assessora de imprensa do grupo faz a conexão Rio-Berlim por telefone.
— Olá.
Nós nos conhecemos? Já conversamos antes? — quer saber ele. Negativo. Afinal,
entrevistas com o Kraftwerk — principalmente com o único integrante da formação
original do mitológico grupo alemão — são eventos raros. — E você já viu algum
show do Kraftwerk? — emenda. Positivo. Dois shows no Brasil — no TIM Festival
de 2004, no Rio, ao lado do Massive Attack, e na Praça da Apoteose, em 2009,
abrindo para o Radiohead — e um na Inglaterra, em 1997, no festival Tribal
Gathering.
— Ah, foi ótimo tocar naquela praça desenhada por Oscar Niemeyer.
Cheguei a estudar arquitetura, e ele foi uma grande inspiração — diz ele. — E
aquele show no Tribal Gathering foi especial, marcou nossa volta aos palcos
britânicos depois de uma longa ausência.
Sem telefone no estúdio
Cinco anos de ausência, mais
precisamente. Antes disso, o Kraftwerk — que se apresentou recentemente, por
oito dias, no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), dentro da instalação
“Retrospective 12345678” — vivia uma relação conflituosa com os palcos, sumindo
deles com razoável frequência, por nem sempre conseguir traduzir ao vivo, em
alto nível, o som dos discos e a estética visual pensada pelo grupo.
Só a partir do fim dos anos 1990,
com o avanço da tecnologia, é que os shows do Kraftwerk passaram a ser menos
esparsos. — Nossa relação com a tecnologia sempre foi intensa, e sofríamos
muito quando não conseguíamos levar as idéias para o palco do modo como
queríamos.
Era frustrante não ter o
equipamento adequado — conta Hütter. — Mas hoje a tecnologia está no padrão que
sempre pensávamos. É quase um sonho. U m s o n h o que inclui, diz ele, o
formato 3D que marcou os concorridos shows em NY. — Os shows em 3D são um marco
na nossa evolução. É perfeito para a nossa linguagem visual e deu um toque
especial nas apresentações no MoMA.
A exposição e aqueles shows
representaram uma espécie de ciclo que se completou para a banda, que nasceu
num ambiente de arte em conexão com a música. Diferentemente de outras bandas,
museus não são habitats estranhos para nós.
Mas como o Sónar São Paulo não é
o MoMA e o Parque do Anhembi não é o seu átrio, o show do Kraftwerk no Brasil vai
ser um pouco diferente daquele apresentado em NY. — Vamos fazer um resumo daquela
retrospectiva, tocando músicas de diversos álbuns. Mas o 3D está garantido.
Vamos levar todo o equipamento, inclusive os óculos.
Ironicamente para uma banda tão
ligada em tecnologia, seu estúdio, o famoso Kling Klang, não possui telefones.
Ao menos é o que diz a lenda em torno do robótico grupo, que evita esses
aparelhos para não quebrar o estado de imersão completa quando seus integrantes
estão trabalhando. — Não há mesmo telefones no estúdio.
Telefones eram muito intrusivos,
você nunca sabia quem estava ligando. Isso mudou hoje, claro, mas mantivemos
essa postura. Precisamos de concentração total para trabalhar. Depois
que saímos dali, tudo volta ao normal. Essa reclusão não parece significar uma
produção intensa.
Afinal, disco novo, o Kraftwerk
não lança um desde “Tour de France soundtracks”, de 2003.— Mas estamos sempre
trabalhando em novas ideias, inclusive para o próximo disco. É um processo
contínuo, não há pressa — garante. Parte desse processo contínuo gerou, pelo
menos, o recém- lançado aplicativo Kling lang Machine (para iPhone e iPad), que
permite que o usuário produza sons sequenciados como se estivesse dentro do
estúdio da banda
— Ele gera sons que vão se
modificando à medida que a pessoa vai interagindo com eles. É um trabalho mais
atmosférico do que explosivo — conta ele, que diz ter um iPad “apenas
para funções tradicionais”. — Não
o uso para fazer música. Seria excessivo. É bom ficar um pouco desconectado.
Paixão por bicicleta
Para se desconectar ainda mais,
Hütter gosta de andar de bicicleta, uma notória paixão dele e da banda, que
inspirou o hit “Tour de France”, de 1983. — Sou o único da banda que ainda leva
essa atividade a sério. Ando sempre que posso. É um prazer incrível e um ótimo
exercício — conta ele, que teve um sério acidente nos anos 1980, sofrendo
traumatismo craniano após cair da bicicleta. — Mas aquilo foi há muito tempo,
numa época em que íamos de bicicleta atrás do ônibus da turnê quando nos
aproximávamos de uma cidade.
Hoje, não consigo mais fazer
isso. Não consegui nem andar no Central Park durante nossa temporada em Nova
York. Em São Paulo também não vai dar tempo, já que vamos viajar de volta no
dia seguinte ao show.
Antes de a entrevista ser
encerrada pela atenta assessora do grupo, Hütter faz mais uma pergunta: — Você
é do Rio, não? Positivo. — Adoro a energia e o ritmo da cidade. Apesar de
estarmos distantes e virmos de outro contexto, sinto uma afinidade do Rio com o
Kraftwerk. O som do baile funk é um exemplo disso. É uma combinação de ritmos
muito interessante.
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