terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Electric Café - 30 Anos.



Lançado em 16 de dezembro de 1986, Electric Café foi o último trabalho do Kraftwerk com sua formação original. E após o lançamento desse álbum, o grupo passou por transformações internas que resultaram em mudanças consideráveis em sua estrutura.

Na época de seu lançamento, Electric Café não agradou de primeira. Muitos críticos o consideraram um trabalho simples demais, e muitos dos fãs não compreenderam a ideia por de trás do álbum. Apesar de uma abordagem mais simplista e dançante. O disco marcou o quarteto em uma nova fase artística, e o colocaram de vez nas pistas de dança ao redor do mundo. Electric café foi uma verdadeira  festa através das mãos dos DJs da década de 1980.

Como o disco anterior o Techno Pop, que não existiu de fato-, e somente tendo o EP/single Tour de France como material inédito. O Kraftwerk se viu em estado de uma grande incerteza artística, ou simplesmente não sabiam o que fazer. E o grupo sendo completamente fechado em dizer o que criam; fica difícil em afirmar o que realmente aconteceu. Muito do que é dito desse período, não passa de pura especulação.

Apesar do período confuso e com uma dívida com a gravadora EMI, que pedia por mais um disco. O grupo se viu obrigado a liberar algum tipo de material. Nessa mesma época, um vídeo Clip já estava em fase de conclusão, e para não ficarem com mais um material incompleto, o grupo então chegou a um acordo, e pegaram o que já tinham feito para o Techno Pop e reutilizaram em Electric café.

Electric café é mais um trabalho curioso do quarteto alemão, apesar da sua mudança radical sonora, da qual fizeram no disco; e nesse disco ouvimos o grupo em uma nova fase rítmica, com uma abordagem estética bem diferente de suas fases anteriores. Que na época, casou uma surpresa aos fãs mais antigos. Porém, conquistou novos adeptos aos sons “futuristas” do quarteto europeu.

Em Electric Café, temos os músicos alemães levando ao máximo o uso da tecnologia musical da qual tiveram acesso na década de 1980. No disco, ouvimos o grupo em total deleite com uso de novos sintetizadores, várias baterias eletrônicas, o bom uso do sample (uma novidade para a época), além de novos Synths de voz. Tudo em conjunto com os novíssimos processadores de áudio e de efeitos de som. Criando assim, um mergulho praticamente sem volta no mundo digital. Tudo recheado por um groove quase mecânico e futurista. Era o “conceito” (de longe) de futuro da década de 1980, transcritos em música.

De posse dessa nova tecnologia digital, e vivendo em uma década de ideias utópicas, o tema das músicas do Kraftwerk acabaram sofrendo transformações. Se nos discos anteriores o grupo já tinha abordado o carro, trens, comunicação, radiação, máquinas e computadores. Nesse novo disco, os integrantes quase se viram em dúvida sobre qual assunto que seria tratado em seu novo trabalho. Por sorte, resolveram falar sobre música e tecnologia.

Apesar de ser um álbum curto (tem apenas 32 minutos), o disco é pura diversão sonora. Desde sua faixa de abertura até ao encerramento, ouvimos o kraftwerk em uma animação quase infinita, em decorrência dos novos sons que acabaram de criar.

No disco temos Karl Bartos cantando a sua única faixa com kraftwerk, que foi The Telephone Call. Bartos, em entrevistas anos depois de sua saída do grupo, dizia que Ralf foi rigoroso nessa faixa, pois não gostava da dicção de Bartos. Nessa mesma entrevista, Karl afirma que a ideia dessa música, veio das ligações que Karl fazia para a namorada. E como no estúdio Kling Klang, não possuía telefone, Bartos se via obrigado a usar um orelhão. 

Há o destaque para Sex Object, faixa marcada pela orquestração dos Synths que simulam Cellos artificiais, junto com a sua linha de contrabaixo, que tem a sua marcação rítmica, intercalada por inúmeros “Slaps Bass”, que ajudam a criar um ‘balanço’ quase minimalista. E o jogo de sedução que é cantado na música, que é permeado por variantes vozes sintéticas. Sex Object junto com a quase orgânica Electric Café (que também é permeada por vários Synth e vozes diversas), são consideradas por muitos fãs e críticos musicais, como as músicas mais Outsiders que kraftwerk já compôs. Porém, ambas músicas, apenas tiveram uma interpretação equivocada.

No álbum, há a longa suíte chamada TechnoPop,  que foi recheada e composta pelos novos Synths , em conjunto com a sua variante melodia, com adição diversos  efeitos de voz. E sua letra, que faz a conexão entre música e tecnologia. Além da clássica Musique Non Stop, que tem como a sua característica, a percussão pesada e quase estática. Criando um ritmo quase industrial que se mantém por toda a faixa. Em sua apresentação ao vivo, Musique Non Stop, ganhou novos efeitos de som e outras intersecções harmônicas. Criando uma ambiência mais vigorosa para a composição. MNS acabou se tornando uma faixa celebre, por encerrar os concertos do grupo ao vivo.  A tal escolha, só contribuiu para o impacto que a música causa ao espectador, aumentando assim a euforia nas performances ao vivo.

Na reedição para a caixa Katalog lançada em 2009. Eletric Café teve seu nome mudado para Techno-Pop, e teve o acréscimo da faixa House-Phone, um Remix feito para o lado B do single de 12’ polegadas de The Telephone Call  no ano de 1987. The Telephone Call, junto com Musique Non Stop, foram um sucesso nas pistas de dança na Europa e Estados Unidos. E no mesmo ano de 1987, O Vídeo Clip de Musique Non Stop, começa a ser veiculado em programas musicais, em especial na TV norte americana MTV. Exibição que foi importante na popularização do grupo.

A década de 1980 foi uma época marcada pelo surgimento do hip-hop, Stynth-Pop, New Wave, Pós-Punk, Electro, Techno Music e outros estilos musicais eletrônicos. Quase todos eles, influenciados pelas obras do kraftwerk. Praticamente, quase todos esses artistas de música eletrônica desse período, indiretamente, usaram alguma amostra ou estética que o grupo alemão criou em sua música. 

Em outra análise, Electric café soa como um "alô" que kraftwerk faz para todos esses grupos de artistas, que surgiram nessa década. Que até hoje, detêm um crédito com grupo alemão, que mostrou os caminhos que muitos deles seguiriam pelos anos seguintes. E o disco só confirma o grupo alemão, como visionários vanguardistas da música pop.