quinta-feira, 23 de junho de 2016

Sonntagszeitung Newspaper - Ralf Hütter - August 2003



Sonntagszeitung: Você é considerado um ambicioso ciclista amador. Quais etapas da "Tour de France" você já percorreu?

Ralf Hütter: Todos nós e eu em particular praticamos o ciclismo há décadas. Já pedalamos por todos os passos que estão listados no encarte do CD. As etapas clássicas através dos passos de Madleine, Galibier ao Alpe d´Huez nos Alpes, e de Luchon via Tourmalet para Luz Ardiden nos Pireneus.


Sonntagszeitung: Era tão fácil quanto sua trilha sonora sugere?

Ralf Hütter: Se você está em boa forma, é fácil. Se correr sem pressa, não exige um grande esforço. Para o nosso álbum nós gravamos o ruído de bicicletas e da respiração humana. Esta sensação de "flutuação" é conhecida como "estar correndo na bicicleta sem a corrente", assim como um concerto com música tocando de forma automática. Há certos paralelismos.

Sonntagszeitung: Comparado aos sofrimentos dos ciclistas profissionais durante a última Tour de France, seu "Soundtracks" dá a sensação de algo sublime. Como ciclistas que tivessem tomado muita Epo.

Ralf Hütter: Certamente nossos sons são sublimes. A propósito, a organização da Tour de France nos convidou. Gilbert Duclos-Lasalle, grande ciclista do passado, foi nosso "Capitaine de Route". Estivemos em seu carro na etapa de Alpe D´Huez logo atrás de Jean-Marie Leblanc, o diretor da corrida.

Sonntagszeitung: O sofrimento faz parte do ciclismo. Ou não é tanto assim?

Ralf Hütter: Em certos momentos você alcança os limites de seu potencial, não importa se você é um ciclista profissional ou amador. Você pedala dentro de suas possibilidades, dentro de seu ritmo de vida. Como músicos nós também trabalhamos desta forma. Nos anos 60 nós trabalhamos com fitas, editadas com giletes. Nós tocamos instrumentos eletroacústicos. No início dos anos 70 usamos os primeiros sintetizadores.

Sonntagszeitung: É quase inacreditável que um novo álbum do Kraftwerk está sendo lançado. Por diversas vezes um novo álbum foi anunciado e nada aconteceu. Porque?

Ralf Hütter: Em 1983 nós já tínhamos o conceito para o álbum "Tour de France". Ele só acabou se tornando um single porque nós começamos a trabalhar no álbum "Technopop", que acabou se tornando o "Electric Cafe". Depois disso nós digitalizamos todas as nossas gravações. No último outono nós nos apresentamos no Cité de la Musique em Paris com laptops pela primeira vez. Agora nós temos mais mobilidade com nosso estúdio.

Sonntagszeitung: Eu achava que vocês já tinham mais mobilidade há um bom tempo.

Ralf Hütter: Nosso Kling Klang Studio costumava pesar várias toneladas. Em 1998 nós viajamos com ele através do mundo. Agora nós o reduzimos a uma plataforma digital. Praticamente podemos carregar nosso estúdio como uma bagagem de mão. E funciona muito bem em diferentes climas. Nós nos apresentamos no Japão a baixas temperaturas e também no calor da Austrália. Foi fantástico.

Sonntagszeitung: "Tour de France Soundtracks" é seu primeiro álbum com novas músicas desde 1986.

Ralf Hütter: Não, não é. Em 1999 nós fizemos "Expo 2000", um mini-álbum com músicas para a Feira Mundial de Hannover.

Sonntagszeitung: Contudo, seu ritmo de trabalho é lento.

Ralf Hütter: Somos totalmente autônomos. Fazemos tudo por nós mesmos, em cooperação com nosso engenheiro de computação.

Sonntagszeitung: Um dos primeiros membros do Kraftwerk, Wolfgang Flür, disse uma vez que Ralf Hütter estava ficando mais interessado em ciclismo do que em música. Esta seria a razão de tudo levar tanto tempo.

Ralf Hütter: Quem é Flür?

Sonntagszeitung: Ele esteve com o Kraftwerk durante quinze anos.

Ralf Hütter: Ele era um dos percussionistas que nós empregamos para concertos e gravações. Sua afirmação está errada. Ele não pode julgar o ciclismo porque ele nunca o praticou.

Sonntagszeitung: Qual a verdadeira razão de seu entusiasmo em relação ao ciclismo?

Ralf Hütter: Provavelmente em razão de sua afinidade com a música. Homem e máquina se tornando uma só entidade. O homem, que se move através de seu próprio esforço, em cooperação com uma máquina. É interessante notar que nas últimas semanas, enquanto a Tour de France se desenrolava, você podia ouvir na mídia expressões como "Ullrich, o homem-máquina" ou "Ullrich, uma usina de força (Kraftwerk) sobre rodas". A propósito, ciclismo também é um programa de saúde. Muitas pessoas do mundo da música já perderam o gás. Nós, no entanto, estamos cheios de energia.

Sonntagszeitung: Com "Tour de France" vocês estão retomando um velho tema do Kraftwerk. Isto conclui seu trabalho?

Ralf Hütter: Não totalmente, porque nós não trabalhamos de acordo com um plano fixo de 4 anos, nós não temos plano algum. Mas nosso trabalho irá se tornar mais ativo novamente.

Sonntagszeitung: Considerando o fato de que o Kraftwerk teve uma forte influência na música pop, cada nova afirmação parece ser difícil porque pode pôr em risco o mito do Kraftwerk, o de que vocês são os pioneiros do techno.

Ralf Hütter: Nós não pensamos nisto, estas considerações são para os críticos de música. Não estamos interessados nestas questões.

Sonntagszeitung: Com seus sons eletrônicos o Kraftwerk tem sido vanguarda. É inevitável que vocês deixem de sê-la algum dia. O que vocês pensam a respeito?

Ralf Hütter: Sempre fizemos as coisas a nosso modo. Nós sempre sofremos um certo preconceito. Quando lançamos "Trans Europe Express" disseram "porque vocês estão ocupados com velharias como o TEE, isso é um coisa do passado". Quando "Computer World" foi lançado nos chamaram de "Knöpfchendreher" (apertadores de botões). Quando estávamos produzindo este álbum, achávamos que este tema já estava ultrapassado. Tudo acabou mudando, o computador pessoal surgiu no mercado dois anos depois.

Sonntagszeitung: O vídeo de "Tour de France" de 1983, assim como "The Model" mostrava imagens do passado. Porquê?

Ralf Hütter: Na França alguém descreveu isto como "retrofuturismo". Às vezes é necessário olhar para trás para se vislumbrar o futuro. Em nossa sociedade há uma pressão constante para a criação do novo, fato que nós não gostamos. A essência é que é importante para nós.

Sonntagszeitung: Em uma entrevista anterior você disse que "se partirmos da suposição de que todos estão produzindo suas próprias músicas, nós não somos mais necessários". Agora, na era dos DJs, nós já chegamos a esse ponto.

Ralf Hütter: É verdade. A electro music, a qual nós, de uma forma natural, ajudamos a desenvolver, tornou isso possível. No entanto, não há razão para pararmos. Iremos adiante a toda velocidade.

Sonntagszeitung: O "homem-máquina" é seu tema favorito. Durante os últimos anos as relações entre o homem e a máquina têm se desenvolvido rapidamente. Vocês se mantém informados sobre o assunto?

Ralf Hütter: Sim. Nós tentamos aplicar isto ao nosso trabalho também. Nós imaginamos nossos robôs dando um concerto em Tóquio, enquanto nós estamos em Paris. A grande sacada é quando a música toca por si mesma.

Sonntagszeitung: O que é um antigo projeto do "Kraftwerk".

Ralf Hütter: Correto. Por muito tempo este equipamento não foi algo acessível. No entanto, continuamos a trabalhar duro nisto.

Sonntagszeitung: Há um ano, quando o programa de TV "Pop 2000" apresentou a história da música pop alemã, o Kraftwerk, a mais importante contribuição da Alemanha para a história da música pop, foi esquecido. Porquê?

Ralf Hütter: Nós sempre fomos considerados "intrusos". Na verdade, nos propuseram a participação no "Pop 2000". 2000 anos de música pop? Nossa resposta foi "Não, não conosco".


Sonntagszeitung: Os outros músicos pop alemães não são bons o bastante comparados ao Kraftwerk?

Ralf Hütter: Esta não é a questão. Nós só queremos fazer as coisas a nosso modo, com liberdade. Sempre detestamos esta coisa de compilar, reciclar e empacotar.


Sonntagszeitung: Teremos o prazer de vê-los no palco novamente?

Ralf Hütter: Sim, vocês verão. Estamos planejando uma turnê através da Europa neste outono e inverno.

Interview to Michael Lüther

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Stern Magazine - Ralf Hütter - December 1999

Após 14 anos sem lançar músicas novas, a banda Kraftwerk está de volta à cena com "Expo 2000". O integrante Ralf Hütter estava pronto para a primeira entrevista após 9 anos...

Stern: Você é uma pessoa antiquada, Sr. Hütter? Sua nova música "Expo 2000" soa parecida com a que o Kraftwerk fez há 20 anos atrás.

Hütter: Nós criamos novos trabalhos, eles são como modelos mentais, você sempre pode programá-los novamente. Estas canções deixaram impressões em todo o mundo e nós tivemos reações de todo tipo em relação à nossa música.
               
Stern: Recentemente vocês tiveram uma apresentação com os robôs no show "Top of the Pops" (Inglaterra). Vocês acham que os espectadores de 16 anos de idade entendem sua música?

Hütter: Nossa mensagem não é limitada a nenhuma faixa de idade específica.

Stern: Nos anos 70 o Kraftwerk foi acusado de ser a "morte da música"...

Hütter: Isto ajustou-se por si mesmo. Nós demos vida a um novo tipo de música.

Stern: Mas quando esta nova música chamada Techno surgiu, vocês se retraíram...

Hütter: Isto não é verdade. Nós reprogramamos nossa música.

Stern: Em 1991, seu disco-remix foi lançado, e foi o último disco em 14 anos. Atualmente, o que vocês fazem na maior parte do tempo?

Hütter: Nós vamos ao estúdio todo dia. Há muito o que fazer: nós somos "trabalhadores musicais".

Stern: As pessoas dizem que você está mais ocupado com bicicletas do que com música...

Hütter: Uma vez por ano eu participo da etapa montanhosa da Volta da França. Então eu tenho que estar treinando.

Stern: E o que vocês estão fazendo no estúdio?

Hütter: Nós digitalizamos completamente nossas músicas antigas, elas estão todas salvas em disco rígido. É o nosso arquivo sonoro. Ele nos fará permanecer.

Stern: Vocês não ficam preocupados se seu disco rígido puder ser apagado e nada permanecer de suas músicas?

Hütter: O que é um ponto de vista interessante: dados desaparecem, como papel no decorrer do tempo. Mas isto não nos preocupa. Outros então teriam que recriar nossa música.

Stern: Nos primeiros tempos vocês iam ao estúdio com ternos e maletas. E hoje?

Hütter: Exatamente o mesmo. Ao invés de maletas, nós temos laptops, então não temos que carregar tanto papel...

Stern: Suas músicas tinham títulos como "Radioactivity" e "The Man Machine". As pessoas temiam isto nos anos 70, mas hoje elas se acostumaram com isso. Que tipo de título as pessoas temem hoje?

Hütter: Talvez "Computer Bombs". Com computadores você pode lançar bombas. A técnica é a mesma que usamos para produzir nossas músicas.

Stern: Quer dizer, vocês poderiam controlar bombas com seu equipamento de estúdio?

Hütter: Deixe-me explicar isto de outra forma: nos anos 70 e no começo dos 80 nós não tínhamos permissão para entrar no bloco oriental com nossos computadores. Eles achavam que eram ferramentas de guerra.

Stern: Você disse uma vez que não se sentia como Ralf Hütter, mas como Kraftwerk. Como é isto?

Hütter: Na língua alemã, os sobrenomes são frequentemente de profissões, como Müller (mecânico) e Bauer (fazendeiro). Eu não me sinto como Sr. Hütter, mas mais precisamente como Sr. Kraftwerk. Eu me sinto como um robô.

Stern: O jingle Expo, que foi a base para a música Expo 2000, dura 4 segundos. Vocês receberam 400.000 marcos pelo trabalho. Quanto tempo demorou para produzir o jingle?

Hütter: É impossível medir o tempo. Nós não trabalhamos com cronômetro. Mas com certeza levou mais do que 5 segundos.

Stern: Você se sente só quando trabalha?

Hütter: É belo estar só. O silêncio é importante porque os humanos são constantemente incomodados pelos ruídos da música. Esta é a razão porque nós exigimos dias de silêncio. Ás vezes nós andamos por aí com alicates para cortar os cabos das caixas acústicas. Se nós pararmos a constante perturbação da música, nós teremos a chance de ouvir sons autênticos: como soam as ferramentas, portas, relógios, carros, bicicletas…

Stern: O estúdio Kling Klang de Düsseldorf então é uma fábrica ou um monastério?

Hütter: Uma fábrica de música na qual as máquinas devem ser silenciosas.

Interview to Oliver Creutz

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Triad Magazine - Ralf Hütter and Florian Schneider - 1975


Triad - O termo "rock espacial" é aplicável à sua música ?

Ralf Hütter - Nós somos parte da geração industrial. Nós crescemos...

Florian Schneider - ... muito influenciados por estes ritmos mecânicos que usamos em nossas músicas, os aspectos mecânicos da vida. A tecnologia não é nossa inimiga. Nós usamos a tecnologia como ela é. Nós também gostamos da natureza, mas você não pode dizer que a tecnologia é melhor ou pior que a natureza. Você tem de aceitar todas estas coisas como elas são no mundo de hoje.

Ralf Hütter - Nós temos aspectos em nossa música que se referem ao espaço, como "Kometenmelodie", mas nós também temos muitos aspectos terrestres que são muito formais, não de outro espaço, mas do espaço que cerca o ser humano e o corpo, muito próximos da vida quotidiana.

Florian Schneider - Nós assistimos a filmes e quando saímos guardamos impressões visuais, e isto frequentemente tem uma influência em nossa música, transformando-se em um filme acústico ou uma poesia acústica. Esta é a maneira que nós tentamos expressar o que vemos e ouvimos. Há alguns anos atrás nós estávamos em turnê e tínhamos acabado de enfrentar uma longa viagem pela autobahn (auto-estrada), quando nós fomos tocar, tínhamos esta velocidade em nossa música. Nossos corações ainda batiam rápido então todo o ritmo se tornou muito rápido.

Triad - O giro de uma roleta é a base de outra de suas músicas...

Ralf Hütter - Sim, movimento. A idéia é captar fenômenos não-estáticos porque a música é ela mesma um fenômeno não-estático. Ela trabalha com tempo e movimento no tempo. Ela nunca é sempre igual.
Triad - A dança tem lugar em sua música ?

Ralf Hütter - Sim, na Alemanha algumas companhias de balé moderno usaram nossas composições para criar suas próprias versões de dança para esta música.

Florian Schneider - A coreografia era como uma dança de computador, como uma dança de robô. Muito mecânico em seu movimento no palco.

Ralf Hütter - Nós também dançamos um pouco quando tocamos. Não exatamente movendo nossos corpos, mas esta percepção de todo o corpo. Você se sente como um dançarino.

Florian Schneider - Sua mente está dançando. A eletrônica está dançando ao redor dos alto-falantes.

Ralf Hütter - Nós tínhamos esta idéia há muito tempo, mas somente no ano passado estávamos prontos para criar o que sentimos ser uma orquestra de alto-falantes. Isto é o que acreditamos que o Kraftwerk seja, uma orquestra eletrônica não-acústica de alto-falantes. Tudo é instrumento. Nós tocamos mixers, nós tocamos gravadores, nós tocamos phasers, nós tocamos todo o aparato do Kraftwerk. Este é o instrumento. Incluindo as luzes e a atmosfera.

Florian Schneider - Às vezes eu posso saborear os sons. Há muito mais sentimentos que somente o que sentimos através dos ouvidos. Todo o corpo pode sentir os sons.

Ralf Hütter- Imagine as árvores. Como as árvores soam? Você não tem que tornar este som audível. Você só tem que escrever as sugestões e o leitor pode imaginar este som ou reproduzi-lo espiritualmente em sua mente.

Triad - Vocês ouvem outros gêneros de música além da eletrônica ?

Ralf Hütter - Sim. Às vezes nós ouvimos rádio a também ouvimos a vida, os ruídos, ou o que as pessoas normalmente consideram ruído, o qual é sem dúvida a fonte para a música ambiental. Caminhando pela rua você pode ouvir uma sinfonia se você for suficientemente aberto a isso.

Florian Schneider - Isto é o que você aprende trabalhando com eletrônica. Você vai à fonte dos sons e seus ouvidos são treinados para analisar qualquer som. Nós ouvimos um avião passando por nossas cabeças e eu conheço todos os fenômenos utilizados para gerar aquele som, os phasings, os ecos. Todas estas coisas que ocorrem na natureza.

Ralf Hütter - ...e quanto mais você aprende, mais você gosta. Você sempre pode descobrir novos sons que nunca ouviu antes. Às vezes é surpreendente quando você presta atenção ao contexto dos sons. Podem ser os animais no parque, com os carros e as pessoas misturados juntos.

Florian Schneider - O campo de associação é muito extenso na música, o que significa que alguém pode criar um determinado som, colocar em uma fita e transmiti-lo para 50, 100 ou 1000 pessoas, e cada uma delas ter uma impressão diferente dos sons que estão ouvindo. Não é como no cinema, onde pessoas muito próximas vêem a mesma coisa. Eu acho que a ótica é muito mais fixa, mas quando você tem música, há muitas formas diferentes de música nas mentes das pessoas.

Ralf Hütter - Sim, músicas, muitas músicas.

Florian Schneider - Quando você está no palco, você pode focalizar a música para todas estas diversas mentes, mas você sabe que há várias formas de percepção diferentes. Algumas pessoas adormecem, outras ficam agitadas, outras não gostam e saem, outras voltam, algumas permanecem sentadas. Então há muitas reações diferentes para a mesma coisa.

Ralf Hütter - Nós improvisamos da mesma forma que nas ragas e na música oriental. Ela não é harmonicamente estruturada.

Florian Schneider - Nós preferimos fazer sons. Sinfonias de sons. Usamos muitas harmonias naturais, como as da escala dos harmônicos. Procuramos fazer coisas simples, quanto mais simples melhor. Nós tentamos fazer um monte de besteiras complicadas no passado, onde todos tentavam tocar o maior número de notas possíveis por segundo ou por minuto, mas pouco tempo depois nós voltamos ao essencial.

Ralf Hütter - Você tem que encarar a si mesmo para chegar ao ponto onde você realmente sabe aquilo que quer fazer. Não se esconder atrás de muitas notas ou atrás...

Florian Schneider - ...dos alto-falantes.

Ralf Hütter - ...para abrir-se para as coisas mais simples.

Florian Schneider - Nós não gostamos deste tipo de sons bombásticos, nós preferimos sons refinados.

Ralf Hütter - Levou anos de desenvolvimento para nós, passo a passo, para conseguir fazer o que estamos fazendo agora. E teremos que dar mais alguns passos para ir adiante.

Florian Schneider- Nós começamos com instrumentos acústicos. Tivemos muitos amigos que tocaram conosco no passado, e assim a vida passa e alguns deles saem e outros entram. Nós finalmente chegamos a um ponto onde decidimos que não queríamos aquele kit pesado de bateria em nosso palco. Então por um ano tocamos somente nós dois. 

Usamos uma máquina rítmica mas ela não era inteiramente satisfatória. Era boa para um ou outro número, mas muito chata de usar por uma noite inteira. Então decidimos construir baterias eletrônicas porque precisávamos ter ritmos em nossa música. Nós as desenhamos e construímos e agora estamos tocando com dois percussionistas no grupo.

Ralf Hütter - Isto nos dá várias possibilidades de modificar o som, porque a música eletrônica é criada a partir do ruído branco, então você pode utilizar quaisquer frequências que gostar, ou que você quiser, para seu conceito particular de música - e com estes instrumentos eletrônicos você pode escolher as frequências que são apropriadas para você. Como um pintor, você pode escolher quaisquer das cores do espectro que desejar para compor sua pintura.

Florian Schneider - Nós estamos trabalhando com um pintor agora, que pode realizar algumas de nossas visões.

Ralf Hütter - Nós não nos vemos como músicos, mas mais como pessoas que criam a partir de diferentes meios or formas de expressão, seja a pintura, poesia, música, ou ainda filmes. Nosso ideal é comunicar-se com as pessoas.

Florian Schneider - Nós não sabemos realmente onde tudo isso vai nos levar, talvez mais para o visual ou para as palavras.

Ralf Hütter - Estamos esperando pelo vídeo-disco, que em breve estará disponível na Alemanha. Este será provavelmente o próximo passo que queremos dar porque temos muitas idéias visuais junto com as músicas, e elas se influenciam mutuamente.

Interview to Paul Smaisys - 1975

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Apertando um botão...

 O Tribunal Constitucional alemão rejeitou nesta terça-feira (31) a demanda do grupo de música eletrônica Kraftwerk, que reivindicava desde 1997 os direitos sobre um fragmento musical que foi utilizado por uma cantora de rap sem seu consentimento.

O tribunal considerou que, quando a vulneração dos direitos é "marginal, então a liberdade artística prevalece sobre os interesses do proprietário dos direitos autorais".

Trata-se de uma decisão com consequências potencialmente importantes principalmente para o hip-hop, que recorre com frequência ao "sampling" —ou seja, ao uso de trechos breves de músicas de outros artistas.

A resolução, que deve estabelecer jurisprudência, invalida a sentença do tribunal federal de Justiça, que deu razão em 2012 ao Kraftwerk ao considerar que até mesmo a utilização de um "fragmento sonoro" de uma peça original estava submetida a direitos autorais e de exploração.

Ralf Hütter e Florian Schneider-Esleben, integrantes do grupo alemão, iniciaram em 1997 a disputa jurídica envolvendo um trecho de dois segundos da música "Metall auf Metall" (1977), tocado em "looping" pela rapper alemã Sabrina Setlur em sua canção "Nur mir".

Durante a audiência ante o Tribunal Constitucional em novembro de 2015, a representante do Estado, Hubert Weis, defendeu a prática muito disseminada do sampling e considerou que "a liberdade artística deve prevalecer" sobre os interesses da indústria musical. 

Fonte

Adendo

Caso semelhante a esse ocorreu inúmeras vezes em décadas passadas, a mais famosa foi com o músico, DJ e agitador cultural Americano chamado Afrika Bambaataa, que em 1982, utilizou trechos de duas músicas do Kraftwerk para criar a canção "Planet Rock" no mesmo ano.

Aqui no Blog, esse caso já foi abordado que você pode conferir no link abaixo.