quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Falk Grieffenhagen - 47 anos.



Kraftwerk interview - New Musical Express - Ralf Hütter - 1991


O culto à personalidade pode sobreviver em algumas vizinhanças, mas isso não tem nada a ver com o Kraftwerk, que, já há dez anos, não deixam ninguém tirar suas fotos. "Gostamos de ser tão auto-suficientes em relação ao nosso visual quantos somos com a nossa música", Ralf explica. "E, de qualquer jeito, posar é um grande tédio para nós. Nossos robôs são muito melhores nisso, eles têm mais paciência"

Para quem é a engrenagem central no grupo mais impiedosamente moderno do pop, Ralf  Hutter é uma figura inesperadamente suave e - em meio à hipnose hardcore do Rage - bizarra. Magro, de aparência saudável em seus quarenta e poucos anos, ele veste um terno de listras finas em preto e branco. 

As ondulações de sua echarpe de seda preta separam sua camisa Nehru preta de seu pescoço, e o cabelo bem penteado, com estrias grisalhas, cobre uma cabeça que parece estar eternamente sorrindo. Um charme quase prosaico, bem pouco tecno. Isso  não quer dizer que ele não tenha uma queda pelo hardcore. Um outro nightclub que visitamos mais tarde, na mesma noite, é brando demais para seu gosto.
 
Me sinto com se estivesse na Itália ou na Alemanha", resmunga, "com todas essas pessoas balançando as mãos no ar. É tão, tão suave. Eu me lembro de uma energia muito mais delinqüente em Londres". Ralf está em Londres para  quebrar o sólido silêncio do grupo em relação à imprensa, proclamando o retorno do Kraftwerk à vida pública. 

Em julho passaram pela Grã-Bretanha, como parte de sua primeira turnê mundial em dez anos, precedida pelo lançamento de The Mix, um Álbum duplo de clássicos radicalmente regravados, abrangendo a obra do Kraftwerk nos últimos quinze anos.

Uma fabulosa atualização do repertório do grupo, The Mix cria um ótima desculpa para se falar do passado, mas uma compilação não seria um gesto estranhamente retrô para quem sempre esteve olhando para frente?

Estávamos trabalhando nas faixas para sua execução ao vivo, gerando sons digitais e sampleando nossas velhas fitas multipistas, quando decidimos colocar tudo num disco. Por isso não são remixes, são gravações completamente novas.

Vocês pularam clássicos atmosféricos como "The Hall of Mirrors" e "Neon Lights", favorecendo grooves dançantes, mas as pessoas se surpreenderão com a ausência de "The Model", o compacto que fez de vocês a primeira banda  alemã a chegar ao topo das paradas britânicas...

Trabalhamos apenas com as faixas que combinavam. Talvez daqui a dois anos façamos outro disco como esse, e aí poderemos incluir "The Model" de uma forma totalmente diferente. Escolhemos as faixas que saltaram nas nossas caras. Não havia nenhuma lógica,  exceto o fato de cobrirem o período entre Autobahn e hoje. Não colocamos nada dos três primeiros álbuns, porque desde Autobahn não tocamos esse material ao vivo.

O que podemos esperar do show?

Traremos nosso estúdio Kling Klang, mais efeitos visuais. Teremos filmes e computação gráfica, além de nossos robôs articulados. Eles aparecem durante a canção "The Robots" e fazem um balé mecânico com perfeita sincronia, pois estão todos ligados ao mesmo computador. Todos os audiovisuais são baseados nas canções, mas muito mais desenvolvidos do que os da última turnê, em 81.

O show pode variar de uma noite para a outra?

Sim. Podemos sempre brincar com os computadores, chamar os programas e alterá-los, dependendo do clima do momento. Hoje em dia o equipamento musical está chegando perto do que sempre tivemos em mente quando começamos. Antes havia limitações técnicas. Também substituímos nossos percussionistas, Karl Bartos e Wolfgang Flur, por um engenheiro eletrônico que sempre trabalha conosco no estúdio e um músico adicional. Por isso temos agora mais som, mais eletrônica, mais programação e mais engenharia de som  acontecendo.

Assim como "Trans Europe Express" foi seu melhor single e The Man Machine; seu melhor álbum, The Mix; é o melhor ponto de entrada para principiantes em Kraftwerk. Mas, enquanto seu estilo e suas atividades pareciam extremamente radicais - comparados ao que os outros estavam fazendo - hoje eles foram adotados pelo mainstream. Seus métodos viraram lugar-comum. Vocês se sentem confortáveis com isso?

Como poderíamos mudar agora? Gastamos vinte anos neste tipo de trabalho. Não podemos dizer amanhã que o negócio é voltar a usar violões. Para nós é muito estimulante ver a popularidade do tipo de música em que pusemos tanto esforço. Quando prevíamos que nossos aparelhinhos eletrônicos iam acontecer com tudo, ninguém acreditava na gente.

O que o Kraftwerk realmente significa é algo que só foi totalmente compreendido no contexto da cultura alemã, mas, mesmo destituída de significado e simbolismo,  sua música exibe uma pureza sonora nunca igualada. É uma turbina reluzente, limpa de bagagem sentimental ou floreios pomposos, sua tecnologia descarada nunca oculta por trás de cautelosos e confortadores painéis de madeira metafóricos. 

 Um dos segredos do som do grupo é que eles costumavam se infiltrar nas maiores companhias de computadores e estimular seus pesquisadores com o desafio criativo de conceber e adaptar equipamento especialmente para o Kraftwerk - aparelho em que, obviamente, ninguém mais podia pôr as mãos. Seus ritmos e texturas únicos, combinados a melodias eternas, assim como a execução imaculada de uma ideologia realmente radical, reapareceram desmembrados e fora de contexto como tema recorrente em cada cenário dance regional dos negros americanos na última década.

Levando em conta sua aura de "caretice" - rigidez até, mesmo para um banda de brancos - isto não surpreende ou diverte, Ralf?

É difícil dizer, vem acontecendo há tanto tempo, desde "Trans Europe Express". Lembro que estávamos uma vez, naquela época, num club em Nova York, e o DJ tinha prensado seu próprio disco, utilizando nossas fitas de 'Metal on Metal', mas estendendo-se mais e mais. Era o começo dessa coisa de DJs fazerem seus próprios discos e ficamos fascinados."

Vocês têm consciência dos discos que são influenciados por vocês?

Nos clubes, sim, porque costumo sair para dançar. Vou aos clubs em Düsseldorf, Frankfurt, Paris ou onde quer que passemos quando viajamos. Passamos por fases, não é tão rígido assim. Não é possível sair cinco noites por semana na Alemanha, é preciso trabalhar, mas eu vou dançar mais ou menos uma vez por semana para manter as pernas em forma.

você sabe de quem são esses discos?

Na maioria das vezes, não. Reconheço os sons, mas geralmente os discos são indefinidos. Obviamente conheço coisas como 'Trouble Funk Express', 'Planet Rock' e o cenário tecno de Detroit.

Que tipo de música vocês escutam?

Não temos escutado muita música ultimamente, tentamos reduzir os estímulos externos para evitar um excesso de exposição. O alemão médio ouve cinco horas de rádio por dia, enquanto nós ouvimos nenhuma. Gosto de sair perambulando e ouvir a música que o ambiente oferece ao acaso, saindo de uma caixa acústica num café ou num Night Club. Não ouço música em casa, eu faço música no estúdio.


O que você faz quando não está trabalhando com música no Kling Klang?

Fazemos música o tempo todo, aí dormimos. É um trabalho de período integral

O Kraftwerk nasceu quando Ralf Hutter conheceu Florian Schneider num curso de improvisação  musical no conservatório de Düsseldorf em 68. Em 74, após três álbuns de música eletrônica instrumental sem estrutura muito definida, arrombaram a banca com "Autobahn", uma majestosa celebração em 22 minutos do ato de  passear de carro pelas estradas, que incluía, pela primeira vez, letras. 

Se sua música inicial era composta de poemas tonais inspirados pelos sons ambientais do parque industrial de Düsseldorf, "Autobahn" fundia ruídos  de carros tratados eletronicamente, uma melodia clássica e o ritmo mecânico formado por barulho de tráfego sintetizado para criar uma nova música folclórica industrial. "Autobahn" foi um hit nas discotecas americanas e o Kraftwerk se tornou objeto de apadrinhamento em grande escala por parte de David Bowie, que mais tarde incorporou elementos do visual e da iluminação do grupo. 

 "Isso foi muito importante para nós porque estabeleceu um elo entre o que estávamos fazendo e o mainstream do rock. Bowie costumava dizer a todo mundo que éramos seu grupo favorito, e, no meio da década de 70, a imprensa se  apoiava nas palavras dele como se fossem os dez mandamentos.  Nós o conhecemos quando ele se apresentou em Düsseldorf, em uma de suas primeiras turnês europeias. Ele viajava de Mercedes, escutando 'Autobahn' o tempo todo, não ouvia nada além disso.

Se a aparência do grupo e o fato de cantarem em alemão (quando 75% do material executado na rádio alemã era cantado em inglês) já eram esquisitos, seus temas soavam ainda mais deslocados na Alemanha dos anos 70. 

No momento em que nascia o Partido Verde, eles celebravam a rede de autopistas com que Hitler havia desfigurado o campo. Quando todo alemão pensante estava paranoico sobre as carteiras de identidade e o computador central da polícia em Plenzdorf, eles estavam abraçando e festejando o mundo computadorizado. 

Eram gestos radicais dentro da Alemanha, sem nenhum sentido fora dela. "Isso faz sentido em outros países", protesta Ralf. "Conversei com pessoas da França ou da Itália que têm uma compreensão quase idêntica". As traduções das letras para o inglês certamente não funcionam. Não só os originais em alemão soam mais poéticos como carregam diferentes ressonâncias culturais. 

A necessidade da rima força nuances de sentido completamente diferentes, assim uma canção como "The Model" - captada em toda sua ironia no alemão - no inglês acaba soando como rabiscos simplistas de uma criança de cinco anos. "Isso é difícil de julgar para mim, mas recebemos muitas respostas e reações em toda parte, por isso acho que estamos nos comunicando."

As pessoas costumavam dizer que havia apenas três grupos que entendiam a música eletrônica: vocês, a Yellow Magic Orchestra e o Yello. Você sentiu alguma vez afinidade com estes grupos?

Certamente havia esse sentimento. Encontramos com o pessoal da Yellow Magic Orchestra quando tocamos em Tóquio, mas não conhecemos muito bem a música deles, nunca me tocou realmente. Me parecia muito mais piadista, meio para o jazz rock. O novo estilo de Detroit me parece muito mais próximo do nosso enfoque, hipnótico, engrenado.

Como na base rítmica composta de sons de respiração em "Tour de France", o uso de sons ambientais pelo Kraftwerk é sempre adequado. Vocês  não vão atrás de samples maluquetes - arrancar fita adesiva de uma mesa, bater com uma vara num balão, etc. - mas falaram uma vez em  gravar o som das estrelas, a energia liberada pelos pulsars (fontes radioestelare emissoras de impulsos que têm a duração média de 35 milionésimos de segundo e se repetem a intervalos extremamente regulares, de cerca de 1,4 segundo). 

Chegaram alguma vez a fazer isso?

Não, mas sei que existem fitas disso. Nós não temos. Não quero falar demais e dar fatos errados, mas sei que quatro anos atrás alguém traduziu essas ondas em freqüências e então botou um computador para tocá-las. Há até outro computador trabalhando sobre as escalas e harmonias, traduzindo as ondas para o equipamento eletrônico, e o som é bem legal. Não é um tom constante, muda o tempo todo.

Depois da guerra, houve um vácuo cultural na Alemanha durante cerca de vinte anos, quando os jovens - envergonhados de sua herança - rejeitaram sua cultura e passaram a se mirar na Inglaterra e nos EUA. A sua emergência, junto com gente como Faust, Can, Tangerine Dream e Giorgio Moroder sinalizaram uma revitalização da cultura popular alemã, que continuou com a Neue Deutsche Welle ("Nova Onda Alemã") no começo dos 80.

Como está o cenário hoje em dia?

Bem quieto. Também estamos atravessando mais um  período morto no cinema, e não tenho absolutamente nenhuma ideia por quê. Não há nenhuma razão óbvia. Com a queda do Muro, era de se esperar uma verdadeira  explosão de atividade.

Você diria que a sua música continua etnicamente alemã, que não poderia ter saído de nenhum outro lugar?

Ela se tornou uma linguagem mais internacional, mas ainda acho que é bem alemã. Talvez isso soe um pouco nacionalista - digamos que seja europeia em sentimento, isto sim, definitivamente. Se você colocasse uma banda americana em nosso estúdio e pedisse a eles para fazer um disco sobre a Tour de France (competição ciclística realizada na França que inspirou a música homônimas do Kraftwerk), o resultado seria diferente.

Como grupo, vocês sempre preferiram olhar para o futuro ao invés do passado. A ideia do futuro ainda o excita?


Sim. Nem mais, nem menos do que antes. É uma coisa constante. Estamos sempre pensando no que estamos trabalhando, nos shows que estamos preparando, por isso não temos tempo de pensar no passado. O futuro, em termos de possibilidades não realizadas, é algo que sai deste processo.

Eu estava pensando no futuro em termos mais amplos, gerais...

Você quer dizer em relação à sociedade? É claro que penso nisso, e meus sentimentos são ambivalentes. Estou preocupado com o que os alemães chamam de 'Fernsteuerung' da sociedade, controle remoto, ditadura das massas. Não falo daquele sistema clássico de um homem controlando todos, como uma figura paterna, porque acho que isso não existe mais. Acho que há algo em forma de massa, como avalanches, que têm sua própria dinâmica e que poucas pessoas entendem. Coisas como eleições não fazem sentido. 

O fato de 99% das pessoas votarem em algo não diz nada sobre a qualidade do que estão votando, e este tipo de ditadura demográfica... Ainda é cedo demais em minha mente, mas deverei compor música sobre isso. Há um culto ao apelo de massa que eu não compartilho. Como ter quarenta estações de rádio, todas tocando as mesmas 'Quarenta Mais'. Ninguém fala do controle exercido sobre o que aparece na televisão. Essas são as coisas em que penso, índices de popularidade e ditadura demográfica, por que alguém deve ser presidente só porque tantas pessoas votaram nesse boneco que faz poses?

Existe algum plano a longo prazo para o Kraftwerk? Alguma colaboração inesperada?

Não sei. Vamos ver só o que acontece quando tocarmos em Detroit. Estamos numa situação bem aberta no momento e gosto muito disso. É bem curioso. Estivemos conversando aqui sobre vinte anos de nosso passado e havia me esquecido de certas coisas que eu talvez devesse repensar, mas permaneço apaixonado sobre como entraremos na próxima etapa. Nunca perdia um pouco do interesse.

Interview to Simon Witter - New Musical Express 1991


domingo, 14 de fevereiro de 2016

Henning Schmitz - Novos Sons...



Henning Schmitz atual membro do Kraftwerk desde 1991, liberou com uma certa surpresa, um álbum com músicas inéditas. 

Aqui em seu álbum solo, Henning apresenta várias músicas focadas no estilo Ambient e paisagens sonoras, que os alemães chamam de 'Klang Scape'.

É um estilo um pouco diferente comparado com do Kraftwerk, que tem uma abordagem mais retro- futurista.

O Álbum se encontra disponível para a audição e download gratuito em uma página da web.



sábado, 6 de fevereiro de 2016

The Model - Radio Nº1


Essa semana, em 1982, a música The Model, alcançou o primeiro lugar em execução nas rádios inglesas e americanas durante 02/02 até 08/02 daquele ano.

The Model foi a primeira "track" do grupo alemão a chegar tão longe. O retorno foi extremamente gratificante para a banda. Tornando o grupo "popular" entre os artistas Pop daquela década.

Com esse sucesso, o grupo começou a ser cultuado e sua estética sonora copiada.

Abaixo fotos o Single 7"