quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Kraftwerk - The Mix - A Farra dos Sons.



The Mix - Katalog 
O início da década de 1990 na Europa foi marcado por mudanças significativas, tanto no âmbito sociopolítico, quanto cultural em todo o continente. A Alemanha teve a queda do Muro de Berlim (1961 – 1989) concluída, fato que permitiu a unificação de um país que por muito tempo se encontrava dividido. O ato gerou uma renovação na nação, e a nova música eletrônica que surgia nesse período, foi de forma indireta, a trilha sonora que celebrou a reunificação dessa pátria, que por muito tempo, passou por um momento extremamente sombrio e difícil em seu passado.  

Com um novo tempo se abrindo e tendo constantes novidades, esse período (1990), trouxe uma remessa de renovações na área de tecnologia, principalmente nos meios de comunicação de massa e entretenimento.  

A internet já apresentava os seus primeiros sinais do que ela seria no futuro, novos aparelhos surgiam em diferentes espaços, causando uma empolgação em seus consumidores, e a tão festiva década de 1980, finalmente se despedia de seu posto de uma era de ideias utópicas, para ser classificada posteriormente, como uma época Cult e excessivamente pop.

A implementação do formato digital, foi um divisor de águas nessa fase, recurso que contribuiu para que houvesse um salto importante na tecnologia destinada à música em 1990, isso foi o começo da popularização dos estúdios caseiros (Home Studio) e o computador, tornou-se uma ferramenta obrigatória para quem fosse criar música eletrônica. Incluindo os novíssimos sintetizadores, sequenciadores entre outros aparelhos, que contribuíram para que a cena de Dance Music, fosse forte e sólida. 

A Dance Music, foi o gênero que apresentou o maior número de inovações rítmicas, além de o estilo incorporar de forma completa, todo esse novo desenvolvimento que estava disponível, e  aproveitando ao máximo, todos os recursos que elas dispunham;  transformando esses novos  dotes em sua força motriz e vitalícia. Um tipo de comportamento, que os outros gêneros demoraram a assimilar. Justificando, a classificação de futurista, que a música eletrônica passou a ter nesse momento.

Em decorrência da agitação causada por tantos aprimoramentos, a cena eletrônica em Berlim acabou fazendo muito sucesso, e uma grande quantidade de novos produtores, proliferaram suas músicas através das pistas de dança na tão contente capital alemã. Esses artistas fizeram uma atualização considerável no meio musical. E o Kraftwerk sendo uma banda atípica se tratando de música, e vivendo no centro de um país que passava por um turbilhão cultural e tecnológico, se viu obrigada a dialogar com essa geração que crescia a cada final de semana.

Input Data
Lançado em junho de 1991, o álbum The Mix, é o disco que mudou a forma como o Kraftwerk trabalharia as suas músicas ao vivo, e a partir desta etapa, o Mix se tornou o disco padrão na estrutura musical que o grupo mantém até hoje.

Mix marca o início de uma nova fase no grupo, essa, sem dúvida, a mais significativa na parte técnica, devido ao advento e do baixo custo que a tecnologia digital dispõe, incluindo a sua facilidade de uso. O mercado de tecnologia voltado para música tinha mudado, O Kraftwerk se viu submetido a atualizar seus instrumentos, que em consequência dessa renovação, suas músicas sofreram alterações diretas.

Com nove anos sem se apresentar ao vivo e com o último disco lançado em 1986 (Electric Café), e zero de informações sobre o que os integrantes faziam, o grupo ainda se encontrava com uma incerteza do que iriam gravar. 

Bem provável que Fritz Hilpert seja o principal responsável pela existência do Mix, pois Fritz , além de sua formação em engenharia de áudio, é professor de desenho de som, e trabalha com diferentes artistas musicais, e mantém uma atualização contínua, em relação à tecnologia direcionada ao áudio e a músicos.

O Mix também é marcado por ser o último disco com Karl Bartos ainda fazendo parte do grupo, que no caso, Bartos ajudou na programação musical (não creditado) e participou de alguns shows na turnê pré-The Mix em 1990, na Itália. Depois de sair do grupo em maio de 1991, Bartos procura manter a sua carreira solo desde 1993, além de ser professor de mídia na Alemanha.

Há uma enorme diferença na sonoridade entre Electric Café (1986) e The Mix (1991), no qual abordaram uma vertente mais fria e sintética, e deixando de lado toda a vitalidade e vigor que as músicas antecessoras possuíam. Permitindo fluir o lado máquina, e diminuindo o fator humano em Mix. Abordagem que causou uma estranheza entre os fãs do grupo que esperavam por músicas inéditas. Mas o disco é uma bela desculpa para apresentar um material “novo”, utilizando o que foi feito no passado.

Em entrevistas para a divulgação do disco, Ralf alegava que o motivo para essas  reinterpretações de suas músicas, se deve ao fato ocorrido durante os ensaios com os novos instrumentos, que na qual as músicas clássicas soavam completamente diferentes.

Boa parte das músicas sofreram grandes mudanças em suas estruturas e tiveram diferentes tratamentos harmônicos, como no caso de Autobahn, que teve todas as suas nuances e intercessões sonoras modificadas, soando mais plácida e artificial. 

Robôs Mixando.
Radioactivity teve seu clima sombrio mudado para um ritmo dançante, e foram acrescentados nomes das cidades de Tschernobyl, Harrisburgh, Sellafield e Hiroshima, lugares que sofreram com problemas de vazamento de produtos radioativos, e que possuem alguma ligação com energia nuclear. Apesar de animada, a sua mensagem alarmista, se manteve coerente e relevante. 

O humor singelo e discreto característico do grupo fica explicito em Pocket Calculator, que ganhou uma versão adjunta em japonês chamada Dentaku que no álbum, se tornou a faixa mais cômica. Computer Love perde os seus improvisos e charme eletrônico e ganha ares de música pop. Home Computer recebe a junção de It´s More Fun To Computer tornando-se uma só faixa, que evoca o futuro inevitável que os computadores proporcionam na sociedade. 

Music Non Stop é reconstruída com originalidade mesclando elementos de Boing Boom Tschak e da própria Musique Non-stop ambas do disco Electric Café. Aqui o quarteto soube aproveitar os recursos digitais disponíveis dessa época com muita criatividade, transformando a faixa em uma celebração moderna entre ritmo e melodia. O acerto na faixa acabou a deixando célebre em suas apresentações ao vivo, devido às inúmeras interseções sonoras e aos seus efeitos de som, que exaltam todo o groove mecânico que foi criado para ela. 

Trans Europe Express, de todas as releituras, é a faixa que consegue em parte, se igualar com a versão original, devido ao bom uso dos sintetizadores e dos processadores de áudio empregados na música. Recursos que ajudaram a conseguir transcrever em sons e melodias, a importância e a grandiosidade que esse meio de transporte teve na Europa em seu passado.

Trans Europe Express, é a faixa em que ouvimos o Kraftwerk em sua forma original sem muitos artifícios modernos, seguindo a vertente clássica desenvolvida pelo grupo, mas utilizando equipamentos novos.

A faixa ganhou uma interessante orquestração que foi acrescentada em uma de suas divisões chamada de Metal on Metal. O arranjo adicional, tonifica o conceito criado para a música, que a deixa mais impactante e solene. O tratamento dado aos detalhes nessa regravação, se apresentam com mais caprichos, dando a impressão que a composição se encontra desconexa em relação as restantes, devido a sua releitura que ressalta o seu lado mais sinfônico do que o rítmico. Apesar de não fechar o álbum, T.E.E. chama toda a atenção do disco.

Comunicação
O vocoder é outro artifício característico muito usado pelo grupo que se encontra presente em todas as faixas do álbum, o aparelho é usado de forma constante e extensiva em The Mix. Em The Robots, faixa que abre o disco, já fica evidente a qualidade e o extremo cuidado dos músicos, no desempenho no uso do instrumento, que auxilia na criação e na mudança no timbre das vozes. Truque que contribui para o conceito e estética criada pelo quarteto alemão, na qual passam a ideia, de que The Mix , fosse uma produção musical composta, concebida, gravada e  executada por robôs. Nessa parte de conceituação, os alemães acertaram em cheio.

Em seu lançamento, o álbum trouxe para o grupo um retorno positivo, tendo uma turnê que durou até ao ano de 1993. E o grupo fez uma série de entrevistas para várias revistas de música, incluído rádio e TV. O disco saiu em diversos formatos como: CD, Vinil Duplo e em Fita Cassete, nos idiomas Inglês e em alemão, a língua nativa dos músicos.

As apresentações ao vivo, foram marcadas pelas faixas mais longas recheadas de improvisos e efeitos sonoros. E as execuções dessas músicas eram radicalmente diferentes das que foram tocadas durante a turnê do álbum Computer World (1981-1982).

Apesar de não trazer músicas inéditas, The Mix representa o Kraftwerk como um grupo musical que consegue se adaptar as mudanças dentro e fora da música, sem precisar utilizar de algum apelo, e demonstrando que os músicos se encontram relevantes com o mundo à volta deles.