Entrevista com Karl Bartos, publicada na revista Dance Magazine, em fevereiro de 1993:
Dance: Já faz muito tempo que não ouvimos nada novo do Kraftwerk. Em que a música de vocês difere da deles?
Karl Bartos: No final dos anos 80, o Kraftwerk tinha se tornado apenas uma instituição paralisada. A estrutura interna impedia qualquer ideia nova. Quando deixamos essa estrutura, a nova música surgiu quase naturalmente.
Dance: E quanto a vocês: vivem em isolamento elitista ou inseridos no mundo moderno?
Lothar Manteuffel: Tentamos desenvolver um “Esperanto elétrico”. A música é uma linguagem universal — e nós a usamos. Tudo nos influencia: desde o cotidiano mais banal até a política mundial, e isso entra na nossa música como metáforas. Tentamos transmitir uma impressão de fenômenos, tendências e conexões.
Dance: A música de vocês é marcada pela tecnologia. Como vocês avaliam a qualidade do progresso técnico?
Karl Bartos: A máquina, no fim de uma linha de desenvolvimento tecnológico, não pode ser o objetivo final. Progresso não é um caminho unidimensional no qual a humanidade simplesmente marcha em linha reta. O progresso se move em círculos — como o nosso planeta.
Dance: Em que vocês estão trabalhando no momento?
Lothar Manteuffel: No nosso novo álbum, que será lançado no fim de março.
Dance: E vocês também vão se apresentar ao vivo?
Lothar Manteuffel: Com certeza. Os primeiros preparativos já começaram. Mas não queremos dizer mais nada sobre isso por enquanto.
Dance: Hoje em dia todo artista tem que fazer um videoclipe, mesmo que pudesse passar sem isso. Qual é a posição de vocês? Com o single "TV", vocês parecem dar uma resposta bastante clara...
Karl Bartos: Passamos de uma sociedade da palavra para uma sociedade de imagens e aparências. Hoje, imagens substituem a comunicação. Na teoria musical, isso se chama “cacofonia”. Um videoclipe brilhante hoje mostraria Beethoven compondo sua Nona Sinfonia. No nosso vídeo de "TV", mostramos principalmente o que acontece atrás da tela. Não se vê sequer um único televisor. É um mundo de imagens que mostra o passado e o presente da televisão.
Dance: Como a música de vocês se encaixa no que está acontecendo agora na indústria musical? Que tipo de música vocês mesmos escutam?
Karl Bartos: O tipo de música que se escuta não é o mais importante. O que importa são os impulsos que se recebe. Cultura, no sentido verdadeiro, deveria sempre ser uma forma de anarquia civilizada em contraponto à ordem social.
Dance: No single de estreia, "Crosstalk", vocês usaram voz sintética. Por quê?
Karl Bartos: (ri) Quando saímos do Kraftwerk, o D.L.S. (Digital Lead Singer) ficou desempregado...
Lothar Manteuffel: (sorri) ...então perguntamos se ele queria participar da nova banda Elektric Music. Ele é só mais um membro do grupo...
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