segunda-feira, 23 de junho de 2025

Karl Bartos — Entrevista — Raveline Magazine — Setembro — 2000

 


entrevista com Karl Bartos publicada na Raveline Magazine, em setembro de 2000, com o entrevistador Markus Schütte:


Raveline: Desde sua saída do Kraftwerk em 1990, muita coisa aconteceu...
Bartos: Em primeiro lugar, lancei dois discos solo, depois formei o Electronic com Bernard Sumner (New Order) e Johnny Marr (The Smiths), com quem gravei um álbum — Raise the Pressure. Também escrevi duas faixas para o álbum Universal, do OMD.

Raveline: O passado com o Kraftwerk paira sobre tudo. Você saiu apenas por causa da baixa produtividade do grupo?
Bartos: Basicamente, sim. Nos anos 80, passamos cinco anos trabalhando em um álbum, e o que saiu foi o Electric Café. Achei isso inaceitável. Depois mais cinco anos em The Mix, e pensei: “Isso vai continuar assim.” Sabendo que a fase de retrospectiva foi ainda mais dura, hoje não me arrependo em nada. Muito pelo contrário, foi exatamente o passo certo.

Raveline: As novas faixas que você está incluindo nos seus live sets — em que elas diferem do que você fazia há 15 anos?
Bartos: A pergunta em si não é estranha, mas é um pouco para mim. Recentemente, programei esse set. Trabalhei bastante nele, também nas faixas antigas que eu não ouvia há muito tempo — “Die Roboter”, “Das Modell”, etc. — e elas ainda me soam incrivelmente frescas e intactas nessa simplicidade sintética. O novo álbum que estou produzindo seguirá esse caminho, também será bastante eletrônico e reduzido. Mas ainda será de alguma forma música pop! Nada de trance ou estruturas exageradas. Pictogramas, pictogramas elétricos.

Raveline: Muitos artistas da cena eletrônica citam seu trabalho como fundamental e formador de estilo. Você tem referências para sua própria produção?
Bartos: Um monte. Tudo aquilo que formava o princípio básico do nosso trabalho. São melodias europeias, ritmo funk americano e talvez conteúdos vindos da arte — para simplificar bastante. Estruturas rítmicas e sintéticas ao estilo James Brown sempre funcionaram muito bem para nós. E, claro, a harmonia tonal maior/menor da tradição musical europeia. Tentamos dar som à nossa origem. E ainda tento isso hoje. Entender a Alemanha como identidade e fazer essa música.

Raveline: A música eletrônica é “a” música alemã?
Bartos: Quando você consegue criar uma sonoridade verdadeiramente original, você passa a ter essa marca. Ganha esse rótulo porque aconteceu ali pela primeira vez. O blues vem dos EUA e sempre estará enraizado lá, porque foi onde surgiu. A beat music veio de Liverpool — mesmo que o beat não tenha sido uma invenção totalmente original, ele pegou raízes existentes, as distorceu e as tornou acessíveis aos adolescentes europeus. As bandas atuaram como uma espécie de tradutores. O que bandas como Tangerine Dream fizeram aqui nos anos 70, ao usar a tecnologia pela primeira vez na música, está registrado no Livro dos Recordes Guinness — e continuará lá.

Raveline: Você está trabalhando atualmente com outros artistas?
Bartos: Estou trabalhando numa música com o Anthony Rother, que será meu próximo lançamento. Só falta a finalização. Também há um projeto de DJ com projeções visuais...

Raveline: O que significa a música eletrônica atual para você?
Bartos: Recentemente estive em Dresden e Leipzig, passei a noite inteira nos clubes, discotecando e tocando. Às vezes ouço uma faixa, não sei o nome nem o artista, e penso: “Fantástica — queria ter feito isso eu mesmo.” Aí vou atrás do disco. Quando estou discotecando, escolho faixas que me dizem algo, com as quais eu tenho conexão. Por exemplo, do selo Warp, de Sheffield — “Fuse” é uma faixa dos anos 90 — incrível. Ou os caras do LFO, com quem também já trabalhei. O que eu tinha perdido um pouco era a redescoberta da simplicidade na música. Os tracks modernos de clube usam pouquíssimos elementos. São construídos com pouquíssimas camadas — e isso me agrada.

Raveline: O espectro do techno é infinitamente expandível graças ao computador?
Bartos: Me surpreendi com o quanto certos sons perduram — sempre surgem discos com os mesmos ritmos base. Até que percebi que essa é agora a percepção do 4/4, e ela vai continuar existindo. Isso vai se tornar cada vez mais fragmentado. Para mim, o computador é apenas outra forma de registrar música. Acho que o ponto decisivo foi quando Edison desenvolveu o cilindro fonográfico e o som pôde ser reproduzido pela primeira vez, independente do tempo e do espaço. Esse é o ponto de partida. A forma de gravação em si não é tão importante. Se eu não tivesse um Apple, faria música no piano. Eu uso o que estiver disponível. Picasso disse uma vez: “Se o vermelho acabar, uso o verde.” Agora tenho um Apple. Mas já me dei bem também com meu laptop IBM. Se daqui a dois anos surgir outra coisa, usarei o que vier a seguir.

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