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Future Music – Como você está?
Wolfgang Flür – Cheio de vida, mais do que nunca. Vi uma nota em algum lugar na internet dizendo que eu estava morto! Ri muito, porque me sinto extremamente motivado e ótimo. É como se eu estivesse nascendo pela quarta vez! Formei meu próprio projeto musical, que sempre foi um sonho desde meus tempos de amador. Estou livre e curioso com o meu futuro artístico.
Future Music – Qual foi o seu momento mais alto?
Wolfgang Flür – Foi quando perdi o medo de deixar o Kraftwerk e me transformei de robô em ser humano. A sensação de sair daquela pele apertada é indescritível.
Future Music – E o mais baixo?
Wolfgang Flür – O momento em que decidi deixar o Kraftwerk. Foi como deixar meu melhor amigo – dois parceiros que se amam, mas sabem que precisam mudar e seguir caminhos diferentes. Você sabe que não há mais chance de um futuro juntos, mas ainda está apaixonado.
Future Music – Quem são seus heróis musicais?
Wolfgang Flür – Na época em que era amador, eram os Beatles. Hoje, sou meu próprio herói. Isso não deve soar arrogante, mas sim um pouco orgulhoso. Venci uma grande batalha ao seguir meu próprio caminho e deixar o laboratório dos robôs. Minha maior ajuda foi a curiosidade por pessoas interessantes e por tudo que é diferente e novo.
Future Music – Qual o item mais essencial no seu estúdio?
Wolfgang Flür – Do meu ponto de vista, são as vozes dentro do meu projeto musical. Hoje me divirto usando minhas próprias cordas vocais naturais e, claro, fico orgulhoso de apresentar as vozes dos meus amigos e artistas.
Future Music – O Kling Klang é tão bom quanto dizem?
Wolfgang Flür – Tenho certeza que sim! Sempre foi um ateliê muito moderno. Estávamos sempre atentos a novas tecnologias e construímos muitos instrumentos e máquinas nós mesmos, ou encomendávamos a engenheiros profissionais quando precisávamos de algo que não existia nas lojas de música. Isso aconteceu durante todos os anos em que estive com os rapazes. Acredito que isso não tenha mudado desde que deixei o estúdio Kling Klang e minha oficina de construção de palco.
Future Music – Como você acabou trabalhando com o grupo Mouse on Mars após o Kraftwerk?
Wolfgang Flür – Depois do Kraftwerk, trabalhei em diferentes estúdios e com vários artistas da minha região. Foi um período de busca e experimentação das minhas possibilidades artísticas. Conheci um músico, Andi Toma. Ele é muito carismático e juntos tivemos muita inspiração. Andi fez um remix de uma das minhas faixas que eu estava gravando naquele dia. Depois de ouvir, soube que aquele homem seria um novo parceiro. Convidei-o para meu projeto e começamos a trabalhar em novas músicas que escrevi no início de 1995. Mais tarde, Andi me apresentou seus amigos Michael Grund e Jan Werner. Trabalhamos juntos nas minhas ideias e depois descobri que Andi e Jan já tinham outro projeto (Mouse on Mars). Mas isso não foi motivo para encerrar nossa parceria, pois nos divertíamos muito e os resultados eram ótimos.
Future Music – Com quem mais você gostaria de trabalhar?
Wolfgang Flür – No momento, não há motivo para procurar outros colegas, pois estou satisfeito com o trabalho e feliz com o resultado. Talvez eu também trabalhe com Jörg Burger (The Bionaut) de Colônia, que fez dois remixes muito bons dos meus singles Guiding Ray e Stereomatic. Nós nos conhecemos bem e gostamos do trabalho um do outro. A cena Düsseldorf/Colônia sempre foi empolgante e enriquecedora desde o começo dos anos 70.
Future Music – Que música atualmente te inspira?
Wolfgang Flür – Não escuto muita música dos outros. Não preciso ser entretido porque me entretenho e quero manter meus ouvidos livres de influências cativantes. Preciso de silêncio para me concentrar e desenvolver minha estrutura artística e o pacote musical para os temas e histórias.
Future Music – Música dançante: só é boa com drogas ou é uma forma de arte legítima?
Wolfgang Flür – Claro, a música dançante sempre teve seu espaço necessário e ainda tem. Eu também frequentava discotecas e clubes e sentia a necessidade de escapar dos medos cotidianos durante meus anos de transição. Se o público de hoje precisa de drogas, isso é com eles. Nunca fui de consumir nada além das batidas pulsantes de uma boa sensação. Às vezes, um copo de vinho tinto italiano, como o John Peel (risos... Li essa entrevista na última edição da Future Music). No geral, só posso alertar: “Cuide da sua saúde! Ela é preciosa! Fique atento ao Dr. Ugly. As ofertas dele podem te deixar mais que magro, magro, magríssimo...” (faixa do álbum Time Pie). Não acho que a música dançante seja uma forma de arte genuína. Ela tem sua legitimidade para as gravadoras e para as práticas nas pistas de dança de fim de semana, que são maiores, mais barulhentas e mais rápidas. Isso é normal e necessário para as pessoas felizes em sua fase especial da vida.
Future Music – Quem é sua Spice Girl favorita?
Wolfgang Flür – A Victoria, é claro. Quem mais poderia ser?
Future Music – Qual seria o seu epitáfio?
Wolfgang Flür – Você acha que já é hora de pensar nisso!? Depende de como as pessoas e os amigos me veem, não é?
Future Music – Qual é o futuro da música?
Wolfgang Flür – Raramente temos uma chance histórica como tivemos com o Kraftwerk no começo dos anos 70 com o sintetizador. Tenho muito orgulho de isso ter acontecido na minha época. Acredito que essas possibilidades infinitas dessa ferramenta genial de criação são o futuro da música de entretenimento. Tudo depende de como as pessoas a utilizam. Sempre haverá alguém com bom gosto e talento para fazer algo novo. Essas pessoas sempre encontrarão um público. Acredito que agora estamos entrando numa época em que a música precisa de conteúdos mais refinados, humor e temas amplos e visionários. Isso tem a ver com nosso estilo de vida e pensamento sobre o futuro. A geração artística de hoje tem uma maneira muito independente de se expressar musicalmente. Já é o futuro. O tempo está correndo rápido. Minutos nervosos, horas que se estendem — às vezes tenho chuveiros digitais. Sinto o futuro todos os dias.
Entrevista cedida por David Martin – Valência – Espanha.
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