Entrevista de Karl Bartos à revista Sound Check, publicada em setembro de 1991:
Sound Check: Por que você decidiu seguir um novo caminho? Houve algum desentendimento à beira do Reno?
Karl Bartos: Não, nenhum desentendimento, mas para mim era hora de sair daquela situação de trabalho muito autista. Passamos anos reclusos trabalhando na nossa música, girando botões de sintetizadores atrás de portas de estúdio hermeticamente fechadas, sem contato com outros músicos.
Sound Check: Mas houve tentativas externas de contato, certo?
Karl Bartos: Sim, claro. David Bowie já queria colaborar conosco nos anos 70. Naquela época, ele morava em Berlim e estava profundamente envolvido com a Alemanha dividida. Isso foi em 76/77, na época da produção de "Heroes". Bowie gostaria de ter feito sua turnê mundial conosco. Mas essa cooperação não se encaixava no conceito do Kraftwerk. Sempre lamentei isso.
Sound Check: Então essa política permanente de isolamento foi o motivo da sua saída? Houve sim um desentendimento?
Karl Bartos: Não, realmente não. Mas o álbum atual, The Mix, é uma seleção do nosso trabalho dos últimos 15 anos. Uma espécie de retrospectiva transversal e, ao mesmo tempo, um ponto final. Ainda assim, a produção levou cinco anos novamente — o que, apesar de todo o cuidado e rigor técnico, é simplesmente tempo demais. Para mim, os anos 90 representam conceitos abertos e rápidos.
Sound Check: O que isso quer dizer?
Karl Bartos: Sou muito curioso, também com relação a novas abordagens. Para mim, o capítulo do techno-pop está longe de ter terminado. Antigamente, sempre enfrentávamos o problema de as pessoas olharem com desconfiança para nosso "modo de produção em linha de montagem". Hoje, todo mundo trabalha assim, e ninguém mais fala de sons frios de sintetizador ou de música de sequenciador sem alma. Todos usam computadores, aplicam parâmetros de groove e adoram uma boa interface de usuário. Vejo muitos paralelos nisso.
Sound Check: Por que o fluxo de informações vindo do Kraftwerk sempre foi tão escasso? As razões para a sua saída e a de Wolfgang Flür não foram esclarecidas...
Karl Bartos: Isso faz parte do conceito do Kraftwerk. Sem comunicação, sem informação — só o produto importa. Tem que se levar isso a sério, senão se torna algo sem credibilidade. Kraftwerk é uma instituição — como quando você ouve o nome Siemens e não pensa no gerente do departamento em Gelsenkirchen, mas sim numa corporação. Os robôs representam bem isso. Eu também fui um robô por 15 anos, até descobrir alguns erros no programa e abrir um novo subdiretório — que agora se chama Electric Music.
Sound Check: Como você se tornou um "kraftwerker"?
Karl Bartos: Quando Autobahn entrou nas paradas em 1975, eu ainda estudava percussão no Instituto Robert Schumann, em Düsseldorf. O Kraftwerk estava procurando um percussionista para a turnê pelos EUA e simplesmente perguntaram ao meu professor.
Sound Check: E ele te recomendou?
Karl Bartos: Sim, e então viajamos por dez semanas em um ônibus pequeno cruzando os Estados Unidos. Tocamos em clubes pequenos no sul, mas também na Broadway.
Sound Check: E como foi a recepção?
Karl Bartos: Na época, nos apresentávamos como um quarteto de cordas eletrônico, e para muitos parecia que tínhamos vindo de outro planeta. Tocávamos instrumentos que ninguém tinha visto antes. Minha bateria eletrônica, do tamanho de uma caixa de charutos, devia parecer ficção científica para o público americano, muito ligado ao rock.
Sound Check: Trabalhar com instrumentos eletrônicos foi uma grande mudança para você?
Karl Bartos: A música erudita (E-Musik) já vinha mudando para a eletrônica desde a Segunda Guerra Mundial. Especialmente como percussionista, você tem acesso a esse repertório e às técnicas de performance associadas. Eu já estava familiarizado com esse tipo de som, afinal, estava perto de concluir meu exame final.
Sound Check: Você se refere às obras de Karlheinz Stockhausen, John Cage ou Mauricio Kagel?
Karl Bartos: Claro. Na época, interpretei peças como Kontakte ou Kurzwellen, de Stockhausen — que não têm mais nada a ver com as técnicas clássicas de percussão. Você trabalha com fita magnética e receptores de ondas curtas, em vez de triângulo e ganzá.
Sound Check: Como vocês trabalhavam no estúdio Kling Klang? É verdade a anedota de que vocês iam para o estúdio em "turnos regulares", como operários?
Karl Bartos: O encontro diário no estúdio ao longo dos anos pode mesmo ser chamado de ritual. E claro, consumimos incontáveis taças de sorvete. Para mim, era algo como um círculo mágico.
Sound Check: Como era o trabalho em si? Qual era a sua função?
Karl Bartos: Não havia áreas de trabalho bem definidas. Era mais como uma grande improvisação coletiva, com troca constante de instrumentos. Todo mundo apertava, batia ou girava algo em algum lugar...
Sound Check: E nunca houve falhas?
Karl Bartos: Claro que sim, mas na verdade, os sons e ritmos mais bonitos e estranhos surgiram de falhas ou mau funcionamento das máquinas. Especialmente os antigos aparelhos analógicos às vezes criam sua própria ideia de música. Você liga um sintetizador e ele faz "bloop", depois sai para comer, e quando volta, o som mudou por causa da temperatura, e ele faz "bleep". E às vezes, gravávamos exatamente no momento certo, ao apertar o botão vermelho de gravação.
Sound Check: Em breve você também vai atuar como produtor?
Karl Bartos: Já existem projetos que me interessam. No momento estou aberto a tudo. Estamos testando vários níveis — isso pode significar colaborar com outros músicos e produtores, ou com uma gravadora. Já recebi ofertas concretas dos EUA, da Inglaterra e da Bélgica. Mas por enquanto não quero revelar mais nada.
Sound Check: Circulam boatos sobre uma colaboração com o The KLF...
Karl Bartos: Eu adoro rumores — mas a banda jovem com quem estou trabalhando no estúdio no momento não é o The KLF.
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