quarta-feira, 25 de junho de 2025

Wolfgang Flür — Entrevista — Musik Express Magazine – 1999

 


Musik Express Magazine – Wolfgang Flür – 1999

Entrevista por Albert Koch

Musik Express: Você viu Ralf Hütter pela última vez em 1996. Como esse encontro aconteceu?
Wolfgang Flür: A gente marcou por iniciativa do Emil Schult. O Emil sempre me pressionava de vez em quando para retomar o contato com os caras.

Musik Express: E o que rendeu a conversa?
Wolfgang Flür: Bem, na verdade nada. Só me mostrou que foi a decisão certa ter saído, porque o Ralf tinha deixado de ser músico para virar esportista. Ele se dedicava ao ciclismo com o mesmo perfeccionismo com que fazia música antes.

Musik Express: Ralf e Florian sabem do seu livro?
Wolfgang Flür: Imagino que sim. E também imagino que eles não estejam nem um pouco satisfeitos com isso. O Emil sabe do livro, e ele tem contato com o Ralf e o Florian. Ele já fez alguns comentários que claramente vieram deles. Quando ele diz coisas como: “Você acha mesmo que é bom escrever esse livro? Talvez isso destrua o mito do Kraftwerk. Você também se beneficiou disso”, eu sei que essas palavras são do Ralf ou do Florian. Eles têm um medo enorme do livro, acham que vão sair mal na fita.

Musik Express: Mas eu acho que eles não são retratados negativamente...
Wolfgang Flür: Exato! E eu também não tenho motivo nenhum para falar mal do Kraftwerk. Somos pessoas como qualquer outras, com fraquezas e qualidades. E eu tive mais contato com as qualidades do Kraftwerk. O livro é, na verdade, um hino ao Kraftwerk, mesmo que a história tenha acabado de forma triste para mim. A decisão de entrar no Kraftwerk me levou à música eletrônica. E por isso, serei eternamente grato.

Musik Express: No livro você descreve como Ralf e Florian mandaram fazer ternos sob medida como "uniforme de trabalho", enquanto compraram roupas de prateleira para você e para seu colega Karl Bartos. Esse episódio representa a hierarquia dentro do Kraftwerk?
Wolfgang Flür: Com certeza. Ralf e Florian sempre viveram no andar superior imaginário da empresa. Eu, Karl e Emil éramos os funcionários. Ralf e Florian vinham de famílias muito abastadas, onde mandar fazer ternos sob medida era o padrão.

Musik Express: E como era a divisão dos lucros?
Wolfgang Flür: Preciso deixar claro: o Kraftwerk é uma criação do Ralf e do Florian. Eles nunca nos deixaram ver como funcionavam os negócios. Mas também não éramos mal pagos. Só que, desde o início, ficou claro que não participaríamos dos direitos autorais.

Musik Express: Mas vocês recebiam um salário fixo?
Wolfgang Flür: Sim, que renegociávamos de tempos em tempos.

Musik Express: Você disse que saiu por causa dos longos intervalos entre as gravações. Como era essa fase de letargia?
Wolfgang Flür: A gente se via cada vez menos. O Ralf, como eu disse, tinha um novo amor — a bicicleta — e uma nova “banda”, que era o grupo de ciclistas que ele reuniu em torno dele. Porque o Ralf é uma figura de liderança. O estúdio Kling Klang vivia cheio de bicicletas, pneus e suportes de montagem. Eu e o Karl ficávamos cada vez mais entediados. Era só esperar e esperar. E, em algum momento, perdi o ânimo, porque percebi que como pessoa eu estava sendo ignorado. Depois do Electric Café, nada mais aconteceu.

Musik Express: Isso simplesmente ficou no esquecimento?
Wolfgang Flür: Na verdade, eu nunca saí oficialmente, porque também nunca fui contratado formalmente, com contrato e tudo mais. Um dia conheci uns amigos numa exposição, eles tinham um ateliê de móveis em Düsseldorf. Gostei do clima lá, as pessoas se tratavam de forma humana. A partir de então, fui cada vez mais para o ateliê e cada vez menos para o Kling Klang. E pensei: se o Kraftwerk quiser continuar comigo, eles que me liguem. Mas o telefone nunca tocou.

Musik Express: Mas pelo menos durante as gravações de The Mix seu telefone poderia ter tocado...
Wolfgang Flür: Mas eles não precisavam de mim para The Mix. Aquilo foi só uma retrabalhada em material antigo. Passaram anos digitalizando fitas, reformando o estúdio e comprando os eletrônicos mais caros. O Kraftwerk virou um colosso inflexível. O melhor do Kraftwerk foi quando quase não tinham equipamento, porque tinham que improvisar muito. Se você passa mais tempo lendo manual de instrução do que criando, não dá pra ter visão musical.

Musik Express: Você conta que ligou para Ralf em 1989, e ele disse: “Wolfgang quem? Não conheço nenhum Wolfgang”, e desligou. É difícil de acreditar.
Wolfgang Flür: Para mim também foi. Fiquei em choque. Mas isso me provou que o Ralf é capaz de reações humanas. Aquilo foi vaidade ferida, porque eu simplesmente parei de aparecer, nada mais. Ele não conseguia me mostrar nenhum sentimento que facilitasse minha volta. Se ele tivesse me ligado e dito: “Volta aí, estamos com saudade”, eu teria voltado na hora.

Musik Express: Por que Ralf e Florian são tão avessos à exposição pública?
Wolfgang Flür: O Kraftwerk nunca foi uma banda para adolescentes. Nenhum de nós era um frontman por quem os fãs suspiravam.

Musik Express: Mas eu li meus primeiros artigos sobre Kraftwerk na Bravo quando tinha 13 anos.
Wolfgang Flür: Sim, foi surpreendente mesmo como a Bravo escreveu sobre a gente naquela época. Mas mesmo assim, nunca fomos uma banda teen. A decisão de não expor nossas personalidades publicamente sempre me pareceu certa. Isso nos deu paz para viver e ajudou a manter o mito do Kraftwerk. Só a música importava. Quem gosta, que compre os discos. Só isso. Ainda acho essa postura válida.

Musik Express: Você acusa o pioneiro do hip hop Afrika Bambaataa de “pior tipo de roubo” por usar samples do Kraftwerk em Planet Rock (1982).
Wolfgang Flür: O comportamento dele foi péssimo.

Musik Express: Mas não foi graças àquele sample que o Kraftwerk chegou a uma nova geração e a lenda foi reforçada?
Wolfgang Flür: Claro que foi positivo o que surgiu depois de Afrika Bambaataa. Mas poderia ter sido feito legalmente.

Musik Express: Você realmente acredita que Bambaataa teria conseguido permissão para usar os samples se tivesse pedido?
Wolfgang Flür: Provavelmente o Ralf jamais teria permitido. E o Bambaataa sabia disso — por isso nem tentou.

Musik Express: Eu acho que sem o “roubo” do Afrika Bambaataa o Kraftwerk talvez nem fosse tão lendário hoje.
Wolfgang Flür: Pode ser. Não é uma ideia totalmente errada.

Musik Express: Seus ex-colegas ganharam recentemente 400.000 marcos pelo jingle oficial da Expo 2000, que tem apenas alguns segundos.
Wolfgang Flür: Foi um acordo genial. O Florian é um ótimo negociador. Com certeza foi ele que fechou esse contrato. Ele sempre teve facilidade para isso — gosta mesmo de ganhar dinheiro. Cada um tem o direito de fazer bons negócios. Mas fico me perguntando se isso não prejudica a imagem do Kraftwerk. 400 mil marcos associados ao nome Kraftwerk... soa quase obsceno pra mim. Não tenho inveja, mas foi uma jogada desastrada nesse momento. Parece que hoje em dia Ralf e Florian se divertem mais ganhando dinheiro do que fazendo música nova.

Musik Express: Quanto tempo você acha que o Kraftwerk levou para fazer esse jingle no ritmo de trabalho deles?
Wolfgang Flür: Acho que fizeram rapidinho.

Musik Express: Ou seja, se quiserem, eles conseguem?
Wolfgang Flür: Com certeza!

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