segunda-feira, 9 de junho de 2025

Wolfgang Flür — Entrevista — Future Music Magazine N° ,17 — 1998


O que acontece quando você sai do grupo eletrônico mais influente de todos os tempos?

Após quase duas décadas como membro do Kraftwerk, o bom e velho Wolfgang Flür está de volta com um novo projeto, o Yamo, e está aprendendo a amar a vida depois dos robôs...

Düsseldorf está situada entre as curvas e voltas do rio Reno, no coração comercial e industrial do noroeste da Alemanha. Diferente de muitos centros puramente industriais ao redor do mundo – como Detroit, Milão, Roterdã ou Bilbao – Düsseldorf é uma cidade linda e extraordinariamente elegante, cheia de amplos bulevares arborizados, com uma arquitetura magnífica e um ambiente cosmopolita refinado.

Mas, claro, nas últimas três décadas, essa cidade teve grande importância para os fãs de música eletrônica por um motivo bem diferente. Alguns dos discos eletrônicos mais influentes de todos os tempos (Autobahn, Trans Europe Express, The Man-Machine e Computer World) vieram de um grupo que tirou seu nome de uma usina elétrica que ainda hoje permanece de pé, não muito longe, à beira do Reno.

A apresentação do Kraftwerk no Tribal Gathering do ano anterior serviu como lembrete de que nem toda música pop é passageira ou efêmera. Apesar de o grupo não lançar material novo desde 1986, não havia precedentes para o nível de expectativa – e empolgação – gerado por sua apresentação. Talvez isso tenha a ver com o fato de que, por meio do rap, acid house e techno (todos inspirados pelas sinfonias mecânicas dos ciberpioneiros de Düsseldorf), toda uma nova geração tenha descoberto o Kraftwerk.

Mas também parecia que o mundo finalmente tinha percebido que a estranha visão de futuro do Kraftwerk era a que indicava o caminho certo. Mais de uma década depois da aventura psicodélica do Electric Café, saída do estúdio Kling Klang do grupo, os maiores inovadores da música eletrônica finalmente estavam sincronizados com a cena musical que eles mesmos ajudaram a criar.

Mas, quando o Kraftwerk subiu ao palco naquela estranhamente fria noite de maio, o grupo não apresentava a formação clássica que mudou a cara da música pop. Naquele momento, os membros fundadores Ralf Hütter e Florian Schneider estavam acompanhados de dois engenheiros do Kling Klang, Fritz Hilpert e Henning Schmitz, em vez de Karl Bartos e Wolfgang Flür, que haviam deixado o grupo durante o período de inatividade criativa após Electric Café.

A saída de Flür foi algo gradual

"Fui deixando o Kraftwerk entre 1987 e 1989", explica. "Não foi uma decisão repentina. Também não houve nenhum grande drama. Nada novo estava sendo gravado, então fui cada vez menos ao estúdio, até que parei de vez. Hoje ainda encontro o Ralf e o Florian de vez em quando para tomarmos um café, mas, depois de tantos anos com os robôs, eu queria voltar a sentir o sangue quente correndo pelas veias..."

Após estar envolvido com música desde o início dos anos 60, Flür decidiu fazer uma pausa.

"Quando saí do Kraftwerk, decidi não fazer música por muito, muito tempo", relembra.

Durante um tempo, ele dirigiu um estúdio de design, até que, motivado pelo escândalo da guerra na Bósnia, pensou que a música poderia oferecer uma forma de ajudar. Em 1993, trabalhando com Emil Schult (conhecido como "o quinto membro do Kraftwerk"), escreveu o single beneficente Little Child como uma maneira de chamar atenção para o destino das crianças bósnias, presas em uma carnificina pela qual não tinham culpa alguma.

"Esse projeto me fez perceber que, afinal, eu ainda era apaixonado por música", afirma hoje. "Foi o começo do meu retorno às gravações."

A formação clássica

Autobahn é o primeiro álbum verdadeiramente moderno e reconhecível do Kraftwerk e, embora ainda restem vestígios de suas inclinações à improvisação, é possível ouvir elementos que antecipam selos como Transmat, R&S e Warp pulsando entre os estranhos ritmos sintéticos de faixas como Kometenmelodie ou Mitternacht.

O álbum representou um enorme triunfo criativo e comercial (ficou entre os dez mais vendidos dos dois lados do Atlântico), e Wolfgang se viu em turnê com o Kraftwerk pelos Estados Unidos.

"Foi tão estranho...", confessa. "Lá estávamos nós, uns jovens de Düsseldorf, e de repente nos vimos na Broadway..."

Mas mesmo com um álbum de sucesso nas paradas, Wolfgang lidava com um problema que muitos músicos conhecem bem:

"Em todas as bandas pelas quais passei, sempre queríamos ter o melhor e mais novo equipamento. Gastávamos todo o nosso dinheiro — às vezes até o que não tínhamos — em equipamentos. Felizmente, a loja de música de Düsseldorf era muito boa e nos deixava pagar em prestações. Acho que durante meu primeiro ano no Kraftwerk eu ainda estava pagando as parcelas dos equipamentos que compramos na época do The Spirits of Sound!"

Para a turnê do Autobahn, o Kraftwerk adicionou mais um percussionista: Karl Bartos, que na época ainda era estudante de música no conservatório Robert Schumann, em Düsseldorf. Flür e Bartos já tinham um projeto paralelo chamado Sinus, e com sua entrada no grupo, a formação clássica do Kraftwerk estava finalmente completa.

Após a turnê, o grupo voltou ao estúdio Kling Klang para trabalhar em um novo álbum.

Radio-Activity (Radioaktivität) é um dos álbuns preferidos de Flür entre os que gravou com o Kraftwerk.

"Adoro as melodias e o romantismo desse disco", afirma. "Lembro de estar no avião, depois da turnê do Autobahn. Ralf estava sentado ao meu lado e, de repente, disse que tinha uma ideia sobre 'atividade do rádio' (radio activity), e essa foi a primeira vez que ouvi ele falar sobre isso. Se você pensar em todas as estações de rádio privadas dos Estados Unidos... essa era a ideia. Não tinha nada a ver com radioatividade no ar ou com usinas nucleares."

Flür: o primeiro baterista eletrônico

Embora o senso pop apurado de Wolfgang (desenvolvido nos anos em que tocava versões) tenha deixado sua marca no estilo improvisador de Hütter e Schneider, sua maior contribuição ao Kraftwerk foi a criação de um aparelho revolucionário.

Três meses após entrar para o grupo, durante os ensaios para um programa de TV chamado Aspecte, Wolfgang se cansou da percussão típica de banda:

"O equipamento do estúdio era terrível", explica. "Cheio de poeira e nada profissional" — e decidiu investigar as unidades de percussão eletrônica (algo mais que simples caixas rítmicas de órgão doméstico) que já haviam sido usadas no álbum Ralf & Florian.

"Decidi tentar ligá-las a um amplificador e o som ficou ótimo de primeira", explica Wolfgang.

"Soava tão bem que comecei a pensar em como seria incrível se eu pudesse tocar aqueles sons em uma bateria normal."

Flür havia crescido aprendendo a construir coisas com as próprias mãos, então imediatamente começou a imaginar uma solução prática e viável.

Em uma visita a um terreno baldio, descobriu uns discos de metal:

"Até hoje não sei para que serviam originalmente, mas percebi logo que poderia usá-los como pads para disparar sons de percussão."

Graças às suas habilidades de marcenaria, construir a estrutura foi fácil. Com os discos de metal montados na parte frontal e conectados aos circuitos responsáveis por cada som, só faltava descobrir uma forma de acionar os triggers.

A solução veio em forma de duas finas hastes de aço (algo entre uma agulha de tricô e uma baqueta). Ao conectar isso ao circuito original de acionamento, ele descobriu que, ao tocar um dos discos metálicos com a haste, o circuito se fechava e — como num passe de mágica — o som era disparado. Usando as duas hastes como baquetas, ele viu que era possível criar ritmos.

Assim, dez anos antes de o pessoal da Roland sequer imaginar algo como o Octapad, Wolfgang Flür se tornou o primeiro baterista eletrônico do mundo.

A unidade ficou pronta exatamente três dias antes da gravação do programa Aspecte. Por muito tempo, acreditava-se que não havia imagens dessa apresentação, mas recentemente foi descoberta uma fita na qual eles aparecem tocando duas músicas: Heimatklänge e Tanzmusik (ambas do álbum Ralf & Florian).

Wolfgang aparece no centro do palco com sua nova bateria eletrônica e, embora claramente seja um equipamento caseiro — com vários cabos pendurados atrás — sua importância histórica é evidente.
É techno puro, versão 1973.

Invenções e criatividade

O talento de Flür para invenção e design se destacou mais uma vez durante os preparativos para a turnê que seguiu o lançamento de Radioactivity, com a criação de mais um de seus artefatos futuristas para disparar sons de percussão ao vivo. Isso acabou se tornando uma faceta recorrente de seu trabalho no grupo: ele projetou e construiu as estruturas de néon colorido que faziam parte do palco dos shows do Kraftwerk no final dos anos 1970. E, para a turnê mundial de 1981, ele desenhou — e até ajudou a construir, junto com outros artesãos e eletricistas — toda a estrutura cênica.

"Levei três anos para desenvolver tudo a partir dos planos iniciais. Construímos o palco em forma de 'V' aberta porque isso facilita a comunicação entre os músicos. Se você tem quatro pessoas em linha reta, é difícil que consigam se ver", explica Flür.

"Era um design bem simples, por razões práticas: a enorme quantidade de cabos elétricos sempre foi um problema, mas o maior problema que tivemos no começo era que os sintetizadores não eram estáveis, e tínhamos que afiná-los o tempo todo. Às vezes era uma loucura: sem caixa de ritmos, sem sequenciador, sem sincronização — tínhamos que fazer tudo manualmente. Quando vimos o que uma caixa de ritmos podia fazer, nos inspiramos a ir além e experimentar novas ideias. Nada era absurdo demais para nós. Chegamos a desenvolver tantas coisas que algumas nunca chegaram a ser usadas no palco."

A imaginação de Wolfgang Flür para criar e inovar era uma característica constante em sua trajetória com o Kraftwerk. Ele passou a se interessar por novas formas de disparar os sons da percussão eletrônica para integrá-los às performances no palco. Sua solução para a turnê europeia do Kraftwerk, no início de 1976, foi extremamente criativa — e, como sempre, à frente de seu tempo.

Ele construiu uma estrutura tubular longa o suficiente para que pudesse entrar nela e instalou uma série de pequenas luzes e sensores fotoelétricos em pontos estratégicos. Assim, era capaz de usar os movimentos do corpo como triggers.

"Funcionava com pequenos feixes de luz", explica. "Eu entrava dentro da estrutura e fazia movimentos com as mãos, como um guarda de trânsito. Cada vez que meus braços interrompiam um dos feixes de luz, um som de percussão era disparado. Movendo-me do jeito certo, eu podia criar um padrão. Nos ensaios, era bem impressionante."

Infelizmente, o dispositivo se mostrou temperamental assim que começaram a turnê.

Era a primeira vez do grupo em turnê pela Inglaterra e França, e o show começava com Radioactivity. Flür estava sozinho no palco, dentro de sua “gaiola-bateria”, fazendo seus movimentos de “guarda de trânsito”. Mas, com frequência, os feixes de luz não eram fortes o suficiente para vencer as luzes do palco, e o sistema falhava.

"Às vezes eu queria desaparecer do palco quando os sensores não funcionavam. Você me via lá, rezando para que desse certo. E mesmo quando funcionava, no dia seguinte os jornais traziam manchetes malucas."

Esses são os riscos de ser um pioneiro na música eletrônica. Mas a ideia básica de Wolfgang era tão sólida que outros artistas — de Jean Michel Jarre a Laurie Anderson — acabaram adotando esse mesmo princípio mais tarde.

A saída de Flür e Bartos

Os álbuns que vieram após RadioactivityTrans-Europe Express, The Man-Machine e Computer World — são provavelmente os discos de música eletrônica mais influentes de todos os tempos. Sem eles, o mapa da música contemporânea seria completamente diferente.

Imagine um mundo sem rap, house ou techno — uma sociedade em que o domínio do rock jamais tivesse sido desafiado pelo pop eletrônico ou pelos hinos criados nos guetos de Chicago e Detroit.

Mas, à medida que o som do Kraftwerk se tornava mais refinado e projetado para o futuro, seu ritmo de trabalho diminuía. Nos anos 70, o grupo lançava um álbum por ano. Mas depois disso, esse ímpeto começou a enfraquecer.
O intervalo entre The Man-Machine e Computer World foi de três anos, e o álbum seguinte, Electric Café, só saiu cinco anos depois.

A maioria das bandas lança um álbum de grandes sucessos durante a primavera ou o verão, a tempo do Natal. Mas a versão do Kraftwerk — The Mix — demorou cinco anos para ser concluída. Desde seu lançamento, em 1991, passaram-se sete anos sem sequer um rumor sobre um novo disco.

Esse ritmo dolorosamente lento acabou gerando consequências. A saída de Wolfgang Flür veio pouco antes da de Karl Bartos, que deixou o grupo pouco antes do lançamento de The Mix. Os dias da formação clássica do Kraftwerk haviam chegado ao fim.

"Os discos de maior sucesso do Kraftwerk foram feitos por quatro personalidades especiais que se complementavam", destaca Wolfgang.

"A gente se influenciava e se admirava mutuamente. A música era resultado de uma química muito especial. Era algo parecido com os Beatles."

Um novo projeto: Yamo

Após seu retorno à cena musical com o single Little Child, Wolfgang passou a trabalhar nos estúdios Rheinklang em Düsseldorf, cujo dono era o ex-integrante do Rheingold, Bodo Staiger (curiosamente, Karl Bartos havia trabalhado com outro membro do Rheingold, Lothar Manteuffel, em seu projeto pessoal, Elektrik Music). Foi então que conheceu Andy Toma, do grupo Mouse on Mars, e iniciou uma relação de trabalho especialmente criativa.

"Eu estava trabalhando em uma música chamada My Inner Voice", explica Wolfgang. "Gostava do tema, mas não estava satisfeito com a mixagem. Então Andy entrou no estúdio (naquele momento eu não sabia quem ele era) para buscar algo e nos apresentaram. 

Pouco depois, ele me ligou. Ele lembrava que eu não estava satisfeito com os níveis, então havia feito um remix. Peguei um táxi e corri até o estúdio dele — e adorei o que ouvi. A partir daquele momento soube que havia química. Na semana seguinte, entramos em estúdio e criamos outras duas músicas."

O estúdio de Toma é centrado em um Atari com Cubase, mas as semelhanças com qualquer estúdio comum terminam aí. Toma foi produtor de rap e depois trabalhou compondo música para a TV a cabo antes de formar o Mouse on Mars com Jan Werner. Parece que cada marco que ganhou com a música foi reinvestido diretamente no estúdio. 

A sala de controle é dominada por uma mesa Soundcraft Sapphire de 44 canais e exibe uma seleção impressionante de sintetizadores, efeitos e processadores, incluindo algumas raridades como o curioso Moog Parametric EQ e um velho sintetizador sub-harmônico DBX dos anos 70. "Eles eram usados em discotecas para reforçar os graves dos discos, mas no estúdio usamos para criar frequências graves bem interessantes."

Yamo, o projeto de Wolfgang, começava a tomar forma. Além disso, o parceiro de Andy no Mouse on Mars, Jan Werner, e outro amigo, Michael Grund, também se juntaram ao projeto. "Ele se sentava num canto e criava patches e sequências estranhas no Moog, e passava partes da voz do Wolfgang por filtros", lembra Andy. "Mantemos um velho sequenciador caseiro que usamos com o Moog e que produz ótimos resultados. Usávamos muito o Nord Lead, além de todas as nossas drum machines. Às vezes amostramos coisas a partir delas, e outras vezes Wolfgang tirava sons do Octapad."

Yamo (uma palavra criada por Flür que significa “a alegria da vida”) também contou com contribuições de uma série de produtores e artistas como Donna Regina e a voz clássica de Barbara Uhling-Stollwerck. O álbum resultante, Time Pie, é uma mistura maravilhosa e estranha de eletrônica cheia de fios e ritmos profundamente sincopados que os fãs de Kraftwerk reconhecerão instantaneamente. Mas, como aponta Wolfgang, não é um disco sobre despersonalização ou homens como máquinas; é um disco sobre a riqueza da vida — o significado literal de Yamo.

Os sentimentos pop delicados ainda estão lá, é claro, em faixas como Stereomatic (para a qual Emil Schult, colaborador do Kraftwerk, dirigiu um videoclipe fantástico) e Time Pie. Mas desta vez o que cativa são as paisagens sonoras sutis e o surrealismo narrativo da voz de Wolfgang. Imagine um Kraftwerk sob efeito de cogumelos alucinógenos ou um Tricky com senso de humor otimista e você estará próximo.

O método de trabalho de Wolfgang é instintivo: “Começo com uma história e depois moldo as melodias e os sons para que se adaptem a essa história.” O techno exuberante de Mosquito é um exemplo perfeito. “A inspiração para essa faixa veio de uma viagem que fiz à Bélgica”, revela Wolfgang. “Tenho fobia de mosquitos e, certa noite, estava deitado, exausto, quando comecei a ouvir aquele zumbido típico. Não conseguia ficar ali parado, tive que levantar e tentar capturá-lo. Obviamente, não consegui encontrá-lo, e o zumbido estava me deixando louco. Só queria dormir um pouco, mas, como você pode ouvir na música, algo mais aconteceu.”

No estúdio, o processo de gravação de Mosquito começou quando Wolfgang, que tem um talento natural para contar histórias, explicou a Andy e Jan o que havia acontecido e como queria recriar isso. “É muito divertido trabalhar com o Wolfgang porque ele está sempre contando histórias”, explica Andy. “Mesmo que o trabalho para criar sons seja intenso, é sempre um desafio novo quando alguém quer que você crie o som de um mosquito — ou de um spray de insetos!” E foi exatamente isso que aconteceu. “Era uma forma de trabalhar completamente diferente”, admite Andy. “Wolfgang conta uma história e todos nos mobilizamos para transformá-la em som. Nunca tinha trabalhado assim antes. Foi intenso, mas também muito divertido e interessante.”

A namorada de Jan, Rosa Barba, colocou a voz em Fra Testa e Mano, uma das faixas importantes do álbum. “No início eu mesmo faria os vocais”, explica Wolfgang, “mas queria que soasse algo erótico, então perguntei se ela queria fazer no meu lugar. A performance foi fantástica, mas quando fomos mixar, senti que faltava algo. Decidi que precisava de um som espiritual, como contas de um rosário ou algo assim. 

Quando era pequeno e ia à igreja, via as senhoras mais velhas sussurrando e mexendo nas contas. Não conseguíamos encontrar nada que soasse assim, e então algo estranho aconteceu. Estávamos quase rezando por inspiração, quando decidi ir ao banheiro. Não conseguia achar o interruptor da luz, então peguei a primeira coisa que encontrei — era uma cortina de contas. Incrível! Gravamos o som da cortina abrindo e fechando num DAT da Sony e o sampleamos no Akai. Este é um exemplo de como trabalhamos. Podemos usar qualquer som.”

Muitas das faixas de Time Pie refletem as simples, embora comoventes, melodias das canções tradicionais do Reno, do mesmo modo que o Kraftwerk fazia nos LPs clássicos em que Flür participou. Mas Guiding Ray, a música que escreveu com Paul Wilkinson, conecta-se com uma dimensão diferente de seu passado. O otimismo da música simboliza muito do que Wolfgang sente sobre o Yamo, mas a combinação de sua bateria rock’n’roll, melodias de três notas e uma linha de baixo de oito notas remete ao som de outro grande grupo de Düsseldorf: Neu!, no qual tocava Michael Rother, ex-guitarrista dos Spirits of Sound.

“No Kraftwerk nos preocupávamos muito em conectar o passado (que para nós eram as canções tradicionais do nosso país) com o futuro”, explica Wolfgang. “Esse era o significado do nosso conceito de Electronische Volksmusik (música popular eletrônica). É um sentimento de nostalgia pelo passado e de emoção quanto ao futuro. O conceito de Time Pie (Pastel do Tempo) é parecido: se você corta o bolo, pode encontrar camadas que se relacionam com os diferentes períodos da minha vida. É um bolo que esteve assando com todas as minhas experiências ao longo dos anos!”

Embora Wolfgang esteja agora envolvido na mudança do Yamo para outra gravadora, os preparativos para o novo álbum já estão em andamento. Com o título Serenity Supreme, o disco contará com Barbara Uhling-Stollwerck (que cantou em Mosquito e Dr. Ug.ly.) como coautora. “Para mim, o inglês é a língua do pop”, explica Wolfgang. “Barbara é meio inglesa e pode me ajudar a me expressar, pois entende melhor as sutilezas da língua. Além disso, sou apaixonado pela voz dela, então ela é uma ótima parceira para mim.” Paul Wilkinson, coautor de Guiding Ray, também participará.

Após mais de três décadas na música, parece que a carreira de Wolfgang Flür vai entrar em uma nova fase. Como sempre, com os olhos voltados para o futuro. E pelo menos por agora, seu futuro é Yamo.


Entrevista enviada por Rene Marcelo Figueroa — Argentina.


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