terça-feira, 1 de julho de 2025

Wolfgang Flür — Entrevista — DockRock Magazine 10/09/1999

 


DockRock
– O que te motivou, 10 anos após o fim da colaboração com Ralf e Florian, a escrever um livro sobre o Kraftwerk?

Wolfgang Flür – Com certeza, dois fatores foram decisivos para este livro. A ideia veio de dois fãs do Kraftwerk que conheci no ano passado, e deles também veio o conceito e o design do livro. Confiei a eles o manuscrito e material fotográfico antigo, e eles criaram a versão final. Eles têm, sem dúvida, uma grande participação na obra e acho que fizeram um trabalho excelente. O segundo motivo para lançar este livro foi colocar um ponto final definitivo nessa época. O livro é, portanto, em certa medida, também a minha despedida do Kraftwerk, mesmo que muitos ainda me associem à banda no futuro.

DockRock – Atualmente circulam boatos de que o livro pode vir a ser retirado do mercado.

Wolfgang Flür – Bom, isso eu não posso confirmar. Até onde sei, não houve nenhuma tentativa de nenhuma parte para tirar o livro do mercado. O único problema no momento é que, depois que a primeira edição esgotou em poucos dias, a gráfica está com dificuldades para acompanhar a demanda com uma nova tiragem.

DockRock – Por que houve a separação após o Electric Café?

Wolfgang Flür – O Kraftwerk sempre foi uma banda voltada para dentro. No início dos anos 80, quase ninguém mais conseguia adentrar esse universo. A palavra de ordem era: ficar parado. Isso fez com que os estímulos e inspirações diminuíssem. Karl Bartos (que também saiu do Kraftwerk) e eu gostaríamos de ter tido uma participação maior na criação do novo material. Teria sido bom também trazer músicos de fora para dar um novo fôlego ao grupo. Se você se isola demais, eventualmente as ideias acabam. Uma troca seria necessária. Além disso, o ciclismo era, naquela época, mais importante para Ralf e Florian do que a música.

DockRock – No livro, você descreve o clima frio que reinava naquela época dentro do Kraftwerk. Até que ponto os caminhos pessoais diferentes dos membros contribuíram para a separação?

Wolfgang Flür – Com Computerwelt, atingimos o nosso auge. A turnê mundial que se seguiu, com todos os seus desgastes, colocou o grupo à prova. Chegamos aos nossos limites. Com a saída de Emil Schult, que desempenhava o papel de uma espécie de “pai da banda” (acompanhava o Kraftwerk em todas as turnês desde 1975), perdemos uma figura de ligação importante. Naturalmente também mudamos pessoalmente, e penso que a minha mudança foi a mais perceptível, sem querer transformar isso em uma competição. Me refiro mais ao aspecto humano. Após sair do grupo, experimentei várias coisas, me envolvi com design de móveis, viajei bastante, mas no fim percebi que a música continua sendo o centro da minha vida. Foi aí que comecei a trabalhar no Yamo.

DockRock – Seu primeiro disco solo (Yamo – Time Pie), que contou com a participação de integrantes do Mouse on Mars, foi lançado quase sem visibilidade. Quais foram os motivos disso?

Wolfgang Flür – Meu disco acabou se tornando rapidamente uma questão política. Minha gravadora na época (EMI Electrola) praticamente boicotou o Time Pie. Por isso, o novo Yamo, no qual estou trabalhando agora, será lançado por outra gravadora.

DockRock – Já existe uma data de lançamento? E o que os ouvintes podem esperar?

Wolfgang Flür – Ainda não há uma data exata. Não me coloco sob pressão, deixo as coisas se desenvolverem da maneira que for melhor para o Yamo. Provavelmente haverá um primeiro single no inverno e o álbum completo na primavera. Depois de deixar o Kraftwerk, percebi que minhas ideias pessoais sobre o som da música eletrônica caminham numa direção muito mais calorosa. Yamo faz música eletrônica, mas com uma abordagem completamente diferente daquela da minha antiga banda. Estou trabalhando atualmente com uma jovem cantora que vai interpretar algumas faixas, e outros músicos também estarão envolvidos. Eu me vejo como uma espécie de contador de histórias moderno. Um crítico descreveu o Yamo como poetry pop. Eu gostei dessa definição.

DockRock – Especialmente a música eletrônica se desenvolveu em diversas direções nos últimos anos, e surgiram bandas e projetos que trouxeram novos aspectos ao gênero. Artistas mais recentes influenciam o seu trabalho?

Wolfgang Flür – Não. Para alcançar um som original e pessoal, eu tento me isolar um pouco nesse sentido.

DockRock – Qual é a sua relação com a internet? Haverá uma versão do Yamo online?

Wolfgang Flür – Eu não tenho conexão nem interesse nisso no momento. A situação legal em relação a downloads e MP3s também não está esclarecida. Mas quem se interessa pelo Yamo pode entrar em contato conosco através do site de Martin Hausen e Markus Schmitz (www.commmuni-care.de). Tentaremos responder a todos. Mas sinto falta, nessa história toda, do contato humano direto ou da criação de um valor real. Um objeto físico, que você pode guardar na estante e pegar de vez em quando para se envolver com ele, não pode ser substituído por uma simples transmissão de dados. Vejo aí o perigo de as pessoas não precisarem mais sair de casa, não irem mais à caça. Para mim, falta a experiência sensorial.

DockRock – Mas a experiência sensorial nas megastores de música também é bem limitada.

Wolfgang Flür – Isso é verdade. Mas para mim, o objeto físico ainda tem um valor do qual não quero abrir mão.

DockRock – No seu livro, você se mostra bastante insatisfeito com a versão cover de Das Modell lançada pelo Rammstein.

Wolfgang Flür – Sim, considero essa versão realmente malfeita.

DockRock – Richard, do Rammstein, que esteve aqui há algumas semanas, disse que o Kraftwerk é uma das poucas bandas em que todos do grupo concordam como referência, especialmente em termos de imagem e encenação visual da música.

Wolfgang Flür – Minha crítica foi direcionada apenas à versão de Das Modell, não ao Rammstein como um todo, mesmo que, pessoalmente, o que eles fazem não me atraia. Mas acho a ideia e o conceito bastante coerentes. Tudo isso me parece vir de uma tradição de engolidores de espadas medievais e artistas de feira. O Rammstein trouxe isso para os dias de hoje. Eles são um espetáculo, sem dúvida. Certamente se encaixam bem no espírito da época. Hoje em dia, algo novo precisa ser muito impactante para se destacar em meio ao excesso de estímulos.

DockRock – Muito obrigado pela entrevista.

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