sábado, 12 de julho de 2025

Ralf Hütter — Entrevista — The Daily Telegraph – Janeiro — 2003

 




The Daily Telegraph – Ralf Hütter – Janeiro de 2003

(Entrevista por Patrick Hamilton)

Eles estavam ocupados com uma temporada de apresentações próprias na Cité de la Musique, o museu e centro cultural da música em Paris. Substituindo-os no festival Big Day Out, para a incredulidade dos fãs locais de longa data, estavam os notoriamente reclusos membros humanos do Kraftwerk: os fundadores Ralf Hütter e Florian Schneider, junto aos colaboradores veteranos Fritz Hilpert e Henning Schmitz. Sentado na penumbra da van de turnê do Kraftwerk, do lado de fora do Big Day Out em Auckland, o verdadeiro Ralf Hütter movimenta os braços lentamente para demonstrar o gesto do seu clone robótico, lá em Paris.

— "Eles fazem uma dança lenta de motorista, que algumas pessoas chamam de Tai Chi", diz ele. "Eles têm nossos rostos."

Aos 54 anos, Hütter — com seu inglês calmo e quase perfeito — lida educadamente com a ideia de que seus robôs o tornaram, junto aos outros Kraftwerkers, imortais e sem idade.

— "De certo modo, sim", responde. "Também há um ditado alemão: ‘Ewig währt am längsten’ — o eterno dura mais. Isso tem a ver com automação. E também, enquanto eu estou dando uma entrevista, os robôs podem fazer uma sessão de fotos, filmagens, então é um processo de arte industrial. É daí que eles [os robôs] vêm."

Uma entrevista com Hütter — um evento raro — soa e parece como uma cena longa de um filme de Stanley Kubrick. Ele é tanto um cientista da computação quanto um músico inovador, um oráculo do techno e inventor prático. Os temas são constantes, todos alinhados com o manifesto do Kraftwerk, que essencialmente permaneceu inalterado ao longo dos 33 anos do grupo. Veja esse revelador trecho:

— Vocês estão gravando novo material?
— "Sim. O tempo todo."
— Então, quando poderemos ouvir...?
— "Bem, está planejado para este ano."
— Um álbum?
(Nenhuma resposta)
— Pode dar uma ideia de como está soando?
— "Estamos trabalhando nisso."
— Algo?
— "Muito avançado."

Hütter diz que talvez até trabalhem nesse álbum em breve, enquanto estiverem na Austrália. Atualmente, a amada tecnologia do Kraftwerk avançou tanto que eles conseguem levar seus célebres estúdios Kling Klang em laptops. O grupo sempre afirmou que esse era o destino da música. Claro, os fãs já ouviram esse papo sobre um novo álbum antes — inclusive, um disco sem título chegou a ser incluído na lista de lançamentos da EMI em 2000. Nada aconteceu, embora o mundo tenha recebido uma nova música na época, Expo 2000, que veio com remixes de protegidos do Kraftwerk, como o Orbital e o Underground Resistance de Detroit.

Embora eles não lancem um álbum de material inédito desde Electric Café em 1986, Hütter diz que ele e a comunidade Kraftwerk têm trabalhado constantemente:

— "Nos chamamos de trabalhadores musicais — musik arbeiter", diz. "É o que fazemos. Sempre temos pessoas trabalhando de perto conosco em vários projetos — artistas, cinegrafistas, programadores, pessoas de imagem, e nossos amigos [como o artista Emil Schult] — há muito, muito tempo, pintando, pintando para a capa do Autobahn [de 1974] (e também Computerworld, de 1981). E letras."

Desde os tempos em que precisavam construir seus próprios protótipos de instrumentos eletrônicos, Hütter diz que o Kraftwerk manteve uma relação próxima com os engenheiros de música eletrônica que continuaram esse trabalho, atuando como "pilotos de teste" de novos programas musicais. A tecnologia, segundo ele, tem sido generosa com o Kraftwerk:

— "Estamos felizes — anos atrás tínhamos que carregar toneladas de equipamentos analógicos e agora é tudo digital, em disquetes, discos rígidos e todos os tipos de armazenamento", diz. "Para nós é perfeito. É, digamos, portátil. Pocket Calculator, uma música que compusemos há mais de 20 anos, hoje é uma realidade para nós. Assim, podemos viajar mais. Tudo está funcionando a nosso favor, o que é ótimo."

Hütter diz que suas adoradas máquinas raramente falharam ao longo dos anos. Ele atribui isso ao respeito que lhes dedicam:

— "Tivemos sorte...", diz... "Tratamos nossa tecnologia com muito cuidado e amor, e ela nos retribuiu. Fomos bem tratados pela tecnologia. Como dizemos, às vezes tocamos as máquinas, e às vezes as máquinas nos tocam. Então funciona muito bem, é simbiose."

Já faz 21 anos desde que o Kraftwerk se apresentou na Austrália. Mas isso não significa muita coisa — após a turnê mundial no fim de 1981, o grupo só voltou aos palcos em 1990. Tirando uma turnê europeia em 1991, as aparições foram esporádicas. Tocar em uma festa dançante de um dia inteiro, como a do Boiler Room, não é uma experiência única para o Kraftwerk, embora eles estejam mais acostumados a um público mais refinado — ou ao menos menos suado.

— "Tocamos em todos os lugares", diz Hütter. "Centros de arte. Na maioria das vezes fazemos shows nossos. [Para] pessoas do cinema, teatro, visuais, arte performática, música, dança, disco."

Apesar das ausências, o status do Kraftwerk na cultura popular não se alterou. Afinal, como todos sabem, esses senhores virtualmente inventaram — ou ao menos organizaram os blocos fundamentais — da música como conhecemos hoje. E forneceram alguns dos mantras musicais mais tocantes e minimalistas ao longo do caminho: Autobahn, Computer Love, Pocket Calculator, Tour de France. Hütter diz que seu Kraftwerk biônico sempre buscou agradar "tudo" o que é humano:

— "Os pés, o coração, o intelecto, o corpo."

— "Acho que isso também facilita o entendimento em diferentes aspectos culturais. Então tocamos aqui, tocamos ali, tocamos. Todos os dias. Musik arbeiter."

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