The Guardian – Que computadores/hardwares vocês usavam nos primeiros dias do Kraftwerk?
O Kraftwerk encerrou a fase "América do Norte" de sua Multimídia Tour entre março e abril com um resultado bastante satisfatório — não só para os integrantes, mas principalmente para o público. Ao todo, foram 32 apresentações.
Na última delas, os fãs que compareceram ao Teatro Majestic, em Dallas, no Texas, foram surpreendidos durante a música "Spacelab": em vez da tradicional nave espacial, uma torta de morango apareceu no telão, arrancando risos e aplausos da plateia.
Ao final do show, após "Music Non Stop", os quatro integrantes retornaram ao palco para agradecer pessoalmente ao público. Os "homens-máquina" não conseguiram esconder os sorrisos e acenaram timidamente em despedida.
A segunda fase da Multimídia Tour continua agora pelo continente europeu, passando por Reino Unido, Alemanha, Países Baixos, Itália, Polônia e França, até 21 de dezembro de 2025, quando se encerra no Great House Festival, na Áustria.
Karl Bartos | No Estúdio Com
Falei pela última vez com Karl Bartos cerca de 10 anos atrás, por ocasião do lançamento de seu maravilhoso trabalho através de seus próprios arquivos musicais, Off The Record. Para aqueles de nós de uma certa geração, o Kraftwerk foi, indiscutivelmente, a porta de entrada para toda a música eletrônica que se seguiu. Bartos foi uma peça fundamental da lendária banda alemã por 15 anos, contribuindo para o que hoje são considerados álbuns clássicos, até deixar o grupo em 1990, frustrado com a prolongada estagnação criativa da banda. Sua recente autobiografia The Sound of the Machine: My Life in Kraftwerk and Beyond é leitura essencial.
Após o Kraftwerk, Bartos formou o Electric Music, lançou dois álbuns antes de colaborar com Bernard Sumner e Johnny Marr no projeto Electronic, além de trabalhar com Andy McCluskey do OMD. Em 2021, foi incluído no Rock & Roll Hall of Fame como parte da formação clássica do Kraftwerk.
O Gabinete do Dr. Caligari foi um trabalho de longa data para Bartos e a trilha sonora resultante é fruto de um fluxo criativo de dois anos entre seu estúdio em Hamburgo e o estúdio em Düsseldorf de seu amigo e engenheiro, Mathias Black. Segundo Black, a dupla “usou FaceTime, compartilhamento de tela e, por assim dizer, compartilhamento de vida, um servidor em nuvem. Não dá para substituir o trabalho conjunto em um único estúdio, mas ajuda”. O álbum resultante é uma fusão intoxicante entre o orquestral e o eletrônico; é difícil acreditar que este seja o primeiro trabalho propriamente dito de Bartos em trilhas sonoras (apesar de já ter contribuído para Metropolis, do Kraftwerk, uma homenagem ao filme homônimo de Fritz Lang).
A entrevista foi uma oportunidade prazerosa para um bate-papo sobre música e filosofia com o sempre encantador Mr. Bartos, em seu estúdio minimalista em Hamburgo (assim como para ouvir mais sobre sua atitude surpreendentemente cautelosa com computadores).
É incrível descobrir que este é seu primeiro projeto de trilha sonora. Como compor esta música para Dr. Caligari foi diferente de montar um novo álbum de músicas?
“A diferença ao criar uma trilha sonora é que, como a música de dança, é uma música funcional... ela é feita por um motivo e as pessoas na pista de dança movem seus corpos a isso. O mesmo se aplica à música para filmes. Algumas músicas, por exemplo, A Sagração da Primavera, de Stravinsky, foram compostas para o balé. Durante o processo de composição para esse filme, considerei o movimento dos atores como um balé, então, claro, a música precisa se ajustar a seus movimentos. É um processo reverso de coreografia. O processo de escrever uma trilha é muito estressante, você não tem muito tempo, e alguém vai te dizer para fazer de um certo jeito, mas escolhi fazer essa do meu jeito. Escrevi sobre isso na minha autobiografia.”
Na última vez que conversamos sobre o lançamento do seu álbum solo Off The Record, você havia explorado seus arquivos pessoais para encontrar material para trabalhar. Você fez algo parecido para compor a trilha sonora?
“Na verdade, essa é uma boa pergunta. Eu incorporei algumas músicas que escrevi quando era estudante no Conservatório de Música do Reno, durante as aulas de contraponto. Eu juntei tudo com meu parceiro musical Mathias Black. Um dos motivos pelos quais eu queria tanto fazer essa trilha foi porque o filme era quase como o Big Bang da cultura pop. O personagem Cesare quase parece o David Bowie [risos], ou o predecessor do David Bowie, eu acho. Eu amei isso.”
No Estúdio Com | Karl Bartos
Houve uma recepção crítica calorosa ao Off The Record que te surpreendeu?"Sim, e ela vem crescendo ao longo dos anos. No início, foi difícil decolar porque eu não fazia shows ao vivo. Não tenho uma banda, então não podíamos fazer apresentações ao vivo. Levou um tempo, mas agora está ficando cada vez maior."
Ainda há muitos tesouros musicais a serem extraídos dos seus arquivos, e o armazenamento digital tornou tudo fácil demais?"Sim, mas para armazenamento e administração o computador é perfeito [risos] – o que já é muita coisa!"
Nos primeiros anos com o Kraftwerk, você alguma vez imaginou uma época em que se poderia ter uma estação musical funcional na palma da mão?
"Não, não realmente. Quando tivemos a ideia de fazer um álbum chamado Computer World, eu sempre comparo isso ao livro Neuromancer, de William Gibson, que foi escrito em uma máquina de escrever — analógica. As coisas que ele imaginava em sua cabeça estavam muito à frente de seu tempo. Então, quando fizemos Computer World, tínhamos um Moog system, um ARP synth e um sequenciador de 16 passos, mas a imagem já estava na nossa cabeça. A gente não poderia imaginar que, em 2023, você poderia, em teoria, gravar o universo com sua música num telefone celular."
Você acha que jovens artistas e produtores que começaram a fazer música no Reason ou no Ableton Live têm ideia de como era difícil, antigamente, sincronizar até mesmo dois equipamentos eletrônicos entre si?
"Alguns anos atrás, eu tinha uma posição de professor na Universidade das Artes, em Berlim, e alguns dos alunos eram apenas DJs. Alguns deles surgiram com a ideia de que tudo de que precisariam depender estava nos laptops. Isso realmente me surpreendeu na época. Normalmente, no início de cada semestre, íamos a um ensaio de uma orquestra sinfônica. Lembro que no primeiro que fomos, foi com o Sir Simon Rattle e, depois do concerto, sentamos do lado de fora da Filarmônica de Berlim com algumas partituras, e eu expliquei a eles como uma partitura é parecida com uma tela de computador – a principal diferença é que uma partitura não reproduz o som. Então você precisa saber como montar as notas e usar sua imaginação para encaixar todos os blocos juntos."
Quais equipamentos você usou em seu estúdio para o álbum Caligari?
"Bom, tem um Polymoog original aqui e ele ainda funciona! Grande parte da música do álbum foi feita com ele. Eu trabalho neste estúdio em Hamburgo, e meu parceiro musical Mathias (Black) tem seu estúdio em Düsseldorf, e às vezes ele vem até aqui e conecta meu computador ao dele. Ele às vezes me ajuda com toda a tecnologia quando tudo começa a ficar complicado, porque meu cérebro está acostumado a resolver coisas mais abstratas como a música. Os computadores às vezes te fazem sentir como se você tivesse que resolver problemas. Não é criativo, então peço ajuda ao Mathias, e ele também é um ótimo músico, o que ajuda."
Então, você acha que computadores no processo musical podem acabar criando tantos problemas quanto resolvem?
"Às vezes tenho a sensação de que a cultura musical hoje é moldada por cientistas da computação, porque você precisa sempre preencher um formulário. Então, eu tive que preencher os formulários enquanto fazia o Caligari em forma de som. Embora Caligari tenha sido composto na minha cabeça, e o piano tenha apoiado essa imaginação e meu violão Martin D28 acústico. Então eu trabalho a ideia, escrevo, e depois passo para o computador. Nos primeiros dias do Kraftwerk nós tínhamos uma máquina de fita, e agora basicamente uso o computador apenas como uma ferramenta de gravação."
Você carrega algum dispositivo portátil para capturar ideias enquanto viaja?
"Não… Eu fiz uma observação de que, se tenho uma ideia para uma música, pego meu violão e canto junto com ela, e não gravo. Eu nem escrevo. Depois, da próxima vez que pego o violão, meu subconsciente vai adicionar algo. Acordes são os blocos da música pop, então eu toco alguns desses acordes-bloco e meu subconsciente preenche as lacunas. Assim, não é algo planejado, e vem de algum lugar da minha alma… [risos]"
"Às vezes eu tenho a sensação de que a cultura musical hoje em dia é feita por cientistas da computação porque você sempre precisa preencher um formulário."
Seu computador está longe de ser uma ajuda musical para você, então?
"Você tem que manter esse processo em andamento e lembrar o que você fazia antes. Com um computador, ele reproduz cada pequena ideia de volta pra você... por quê? Eu só quero preencher o vazio na minha mente, não na realidade. O processo criativo não é preencher um formulário. Trata-se mais de observar o mundo e a natureza e tentar imitar isso, colocar isso na arte e interpretar sentimentos humanos. Se for isso, então eu não quero ouvir isso do computador. Eu quero explorar, quero encontrar a próxima geração de acordes. Então eu toco isso no dia seguinte e meu cérebro vem com outro acorde. Você tem que manter sempre em mente o ato da criação, que é sobre uma ideia, certo? A pergunta não deve ser ‘o que eu tenho no estúdio’ ou ‘que equipamento vou usar’, a pergunta é: ‘do que eu preciso?’ É uma luta entre ideia e realidade… sempre, para transformar minha ideia em realidade.”
Lembramos da última vez em que conversamos, falamos sobre como é fácil se perder entre tantas opções em meio a todas as novas tecnologias. Isso ainda é relevante para você?
“É por isso que eu reinventei esse procedimento de não gravar nada, mas sim desenvolver. De novo, como Paul McCartney disse em seu último livro, ele ia até a casa de John [Lennon] e havia um momento criativo surgindo, e eles tinham uma ideia. No dia seguinte voltavam e, se não conseguiam lembrar da ideia, então é porque ela não era boa o suficiente.”
É como um filtro?
“Sim, é como um filtro cerebral, e se você não consegue lembrar, então esqueça. Se conseguir lembrar, então, no dia seguinte, algo se encaixa – a ponte, os refrões ou as palavras. Seja compondo música pop ou não, você precisa de palavras. Elas têm que se conectar com sua vida cotidiana. Infelizmente, essa maravilhosa máquina, o computador, vem junto com tantas ferramentas de administração que você sempre se distrai com elas. Então você tem que sempre lembrar de como desligar o computador.”
Essa postura certamente está em sintonia com uma tendência crescente de fazer música fora da caixa, no momento...
mas esse jardim se transformou em uma fazenda industrial.”
Karl Bartos | No Estúdio Com
“É praticamente uma rua sem saída. Ray Davies disse em Waterloo Sunset, ‘todo dia eu olho o mundo pela minha janela’, e então ele diz o que vê. É exatamente isso que você faz se for compositor. Você olha para o mundo exterior e tenta transpor o que vê para a música. Com o Kraftwerk, tínhamos aquele conceito do homem-máquina, que foi tirado do filme Metropolis, de Fritz Lang, sobre o robô feminino chamado Futura, mas nós (Kraftwerk) estávamos tocando juntos em uma sala, olhando um nos olhos do outro. Colocamos nossa comunicação na música. O ponto de virada para nós foi a digitalização, e quando o Kraftwerk virou uma instituição nós paramos de ser contemporâneos [risos]. Em vez disso, viramos vendedores de nostalgia.”
“Você sabe, quando o computador apareceu, era o sonho de um empresário. No começo, muitas vezes chamávamos nosso estúdio de ‘jardim eletrônico’, mas esse jardim se transformou em uma indústria agrícola. Quando escrevemos Computer World, ainda éramos como crianças tocando juntas. Estávamos brincando com o sequenciador Music and Rhythm Laboratory, como o Friend-Chip “Mr. Lab” — o Kraftwerk também usava o sequenciador Synthanorma nessa época, mas aí o computador apareceu e nos transformou em uma caixa de música. Viramos uma caixa musical, e também nossos cérebros foram digitalizados. Passamos todo nosso tempo resolvendo problemas com tecnologia.”
Que equipamentos você tem à disposição no seu estúdio em Hamburgo?
“Tenho muitos computadores. Para o projeto Caligari, Mathias e eu trabalhamos com Logic Pro em um Mac Pro cada um, com todos os plugins disponíveis, como Organteq, Vienna Symphonic Library, Waves e hardware da Neve, TubeTech, BSS, Lexicon, Sony.”
Estaríamos certos em pensar que você também tem um tesouro de sintetizadores antigos guardado?
“Ainda tenho dois Minimoogs, o Polymoog, ARP Odyssey, Korg PS-3100, MS-20, MS-50, Roland MC-202, TB-303. Alguns teclados digitais, como Roland D-50, Yamaha DX-7, Nord Electro, Virus B, Novation, entre outros. Todos eles soam ótimos, mas você precisa entrar no espaço digital para a produção. Todo som analógico é gravado no espaço digital, e é aí que vem a confusão novamente. Com o Kraftwerk, a gente chegava ao estúdio e começava a tocar com um objetivo. Ou às vezes apenas celebrávamos a improvisação. Conversávamos, ríamos, tocávamos, olhávamos uns para os outros na orelha e transferíamos toda essa informação para a música. Esse era o grande segredo! A ideia era que o computador nos daria mais tempo para a criatividade, mas o efeito foi o oposto. Passamos muito tempo com a organização do som e com a tecnologia. O ser humano não estava mais no centro de tudo, o computador estava. E acabamos servindo à indústria da computação.”
Então, ironicamente, o computador teve um impacto negativo no processo musical do Kraftwerk?
“Sim, a gente nem se falava no estúdio e havia mais engenheiros do que músicos. É como se hoje todo empresário pensasse que precisa de um computador. Não sou contra, mas a indústria é tão boa em vender essas máquinas para todos... para escolas, para crianças. Ainda acho que o futuro é o futuro, mas isso não é certo, porque o futuro é o que fazemos dele. Algumas pessoas no Kraftwerk acreditavam tanto nisso que achavam que era progresso, mas eu realmente não conseguia seguir aquilo. Acho que inovação e progresso não são sinônimos. Você consideraria a máquina de guerra — ou a bomba atômica — um progresso para a humanidade? Não tenho tanta certeza.”
Parece o momento ideal para perguntar sua opinião sobre IA na música?
“É superestimado, eu acho. É só um arquivo do conhecimento humano. Então, se você fosse remixar A Galáxia Gutenberg [o reverenciado livro de Marshall McLuhan dos anos 60], A Mona Lisa e as Variações Goldberg, o que seria colado e copiado? Não sei! Acho que é um sonho molhado de alguns caras do Vale do Silício. Eles são realmente bons em nos vender a IA... mas onde estão os resultados?”
Você fará apresentações ao vivo de Dr. Caligari em breve. Como vai apresentar a música nesses shows?
“Mathias vai tocar comigo. Ele é meu amigo e parceiro musical. Não sei se você já viu imagens de Pierre Schaeffer e Pierre Henry apresentando sua musique concrète. Eles usavam fitas, como fazemos com o computador, porque a base do som é a orquestra sinfônica, e depois o Mathias e eu tocamos por cima. Então o Mathias está fazendo o que o Stockhausen chamaria de ‘diretor de som’. Ainda há muitas coisas musicais que me deixam animado hoje em dia!”
"Autobahn" é o álbum do Kraftwerk que, no final de 1974, os fez conhecidos pelo público do rock.
Os quatro discos do grupo que o seguiram também são monumentos da música eletrônica. O Kraftwerk se integra e, guardadas as devidas proporções, se comercializa, e tem uma influência enorme sobre seus contemporâneos em tudo o que aconteceu de interessante, musicalmente, da segunda metade dos anos 1970 até hoje. Nesse sentido, a formação alemã é comparável aos Beatles, mas também aos Stooges ou ao Velvet Underground. Seu impacto é inegável.
Ralf Hütter e Florian Schneider se conheceram na escola de estudos musicais de Düsseldorf. A paixão deles pela música experimental os levou a integrar o coletivo Organisation. Em seu único álbum, Ralf toca teclados e Florian, flauta, violino e percussão. Em 1970, os dois amigos se emancipam e montam o Kraftwerk (usina elétrica). O primeiro deles, com duração de 33 minutos, é coproduzido por Konrad “Conny” Plank, o engenheiro de som do krautrock.
Ele não contém mais do que três temas, apesar da ausência de máquinas (dois bateristas, Klaus Dinger, futuro Neu!, se revezam nas faixas), o disco lança as bases do que virá depois. “Kraftwerk 2”, de 1972, permanece na mesma veia instrumental e experimental (as brincadeiras sonoras vêm principalmente da manipulação da fita analógica), mas esse ambiente é sustentado por uma batida de ritmo primitivo. A peça central do álbum se chama “Klingklang” (que viraria o nome do estúdio deles) e a capa, no estilo pop art à la Warhol, retoma o mesmo estilo do disco anterior (um ícone de sinalização), mas com outra cor.
Naquela época, o Kraftwerk se apresenta pouco ao vivo (principalmente na Alemanha, muitas vezes apenas em dupla, com músicos adicionais). Ele ainda não adotou os trajes estritamente formais que Florian Schneider, o primeiro a cortar os cabelos curtos, impôs com o bolso “Ralf und Florian”, seu terceiro álbum. Ele se distingue de seus predecessores pelo uso de sintetizadores (das marcas Moog e EMS) e, pela primeira vez, de um vocoder.
Com “Autobahn”, ao demonstrar que os sintetizadores podem ser tão sensíveis quanto guitarras, o Kraftwerk alcança o auge da pureza sonora. No palco, o grupo (agora ampliado com Wolfgang Flür e Karl Bartos) adota um visual de banqueiros retrô (enquanto a maioria dos krautrockers ainda parece hippie) e assume o prazer de ignorar o público. Mas não por desprezo: os músicos querem ser percebidos, no palco, como máquinas humanas. Não (mais) manequins inexpressivos, mas estátuas de carne. Concentrados e impassíveis. A quem lhes reprocha por não deixar transparecer emoções, eles respondem que não foram feitas para isso. Contra todas as expectativas, até Steve Reich e Terry Riley — que em seu tempo e à sua maneira, como Pete Townshend, Roxy Music ou Ryuichi Sakamoto, foram seus contemporâneos — verão no Kraftwerk o modelo ideal: personalizar e vestir as classes britânicas e americanas.
Será uma revolução. Quando o público inglês descobre o grupo em setembro de 1975 em Newcastle, ele não acredita no que vê (Flür usa uma bateria eletrônica caseira — com pedais metálicos fixados a uma placa retangular), nem no que ouve. A formação recusa ser anglicizada e canta em sua língua nativa, abrupta como certas de suas batidas rítmicas. Nada de falso paradoxo aqui. Ralf e Florian dizem querer se afastar da cópia e recriar o realismo, mas, conscientes de que a música pode causar danos, também aspiram a limpar o cérebro das pessoas. Se Brian Eno e David Bowie acabaram definitivamente seduzidos pelo charme desse quarteto vindo da Alemanha (Bowie escreverá “V-2 Schneider” em Heroes, em homenagem a Florian — esse era seu apelido — e elogiará sua voz), Autobahn divide opiniões. O título de abertura ultrapassa vinte e dois minutos e ocupa todo o lado A do álbum. É o mínimo necessário para, segundo Hütter e Schneider, traduzir em som o prazer que proporciona o simples fato de dirigir em uma rodovia alemã (onde a velocidade não é limitada). Para eles, o traçado da pista expressa uma sensação impressionante de liberdade. Ralf e Florian descreviam os cinco temas de Autobahn como filmes acústicos ou pinturas sonoras. Originalmente, os músicos apareciam na contracapa da capa pintada, ao lado de seu compatriota, o artista Emil Schult. Era possível vê-los no espelho retrovisor, acima do painel de controle. Mas, após alguns anos, eles desapareceram do campo visual, e restou apenas essa curva de rodovia à direita de um Volkswagen e, à esquerda da imagem, um Mercedes. No Reino Unido, um simples logotipo de rodovia sobre fundo azul foi preferido à pintura de Schult, e foi esse símbolo que acabou sendo usado em todo o mundo e que, com as reedições em CD, substituiu a arte original. O retrovisor de Emil Schult se apagou. Em seu tempo, ele também colaborou com a escrita dos textos, incluindo a canção-título.
Após Autobahn — e mesmo se o Kraftwerk continuar cantando em alemão em seus discos comercializados em seu país, versões em inglês sairão em todo o mundo —, isso contribuirá para fazer dos álbuns sucessos de venda. Uma precisão: se Autobahn é o Kraftwerk mais vendido, os seguintes, comparados a outros, podem parecer decepcionantes. Como o Velvet Underground ou os Stooges, o grupo, sempre em atividade (Ralf Hütter ainda é o último membro original), teve um impacto gigantesco sobre a música e sobre os músicos. Sempre há gente em seus shows, mas o Kraftwerk toca o mais seletivamente possível, principalmente porque é lá que o som (agora em 3D) funciona melhor, nas salas de média capacidade. E seus membros nunca nadaram em dinheiro (nem sequer andaram de carro — Ralf e Florian sempre foram apaixonados por ciclismo, como prova o single Tour de France, de 1983, que se tornará o último álbum de estúdio da formação anos mais tarde...), em grande parte porque eles sempre usaram seu estúdio, utilizado pela primeira vez para Autobahn.
Quando houver oportunidade, será necessário abordar a sequência, e em especial os quatro álbuns seguintes, até 1981, todos lançados pelo seu próprio selo. Radio-Activity (que não figura nesta matéria ao lado dos títulos internacionais dos discos) em 1975, Trans-Europe Express (em referência a um outro meio de locomoção) dois anos depois, The Man-Machine (que contém The Model, o único número 1 do grupo na Inglaterra) em 1978, e Computer World (com Pocket Calculator cantada em vários idiomas) no ano seguinte, são os pilares da era do Kraftwerk que nunca foi submetido à moda.
Inventivo, corajoso, seguro de si até o fim, empreendedor e confiante em sua época, o quarteto não é mais exatamente o mesmo desde a morte de Florian Schneider, em 2020. Ainda assim, ao menos teve a alegria de constatar que 3-D Catalogue (um impressionante retrospecto ao vivo, lançado em box, lançado três anos antes, teve êxito — e deu ao Kraftwerk um Grammy). Não há dúvidas de que ele teria gostado da reedição de Autobahn, que nos interessa hoje: um evento, e um sinal também para o público: a canção-título, que ressurge em forma de single e meia-século após sua primeira aparição, entra nas paradas dos charts americanos.
E como sempre, o Kraftwerk está atualmente em turnê, com ingressos esgotados, pelos EUA. Ouvimos então, por ora, essas reflexões colhidas há cerca de vinte anos da boca de Ralf Hütter, mas que ainda hoje mostram toda a sua pertinência:
“Sempre tivemos um pouco a imagem de sermos bem geridos e não passarmos tempo demais com os problemas. Dizem que somos perfeccionistas e lentos. Certo, e se não fôssemos tão bons em gerir, não teríamos conseguido manter tantas colaborações. Na verdade, o Kraftwerk consome todo o nosso tempo, e eu acho que isso é justo. No que diz respeito à indústria musical, ela está em grande dificuldade hoje em dia porque não entendeu como usar os novos instrumentos. Se algumas máquinas dão ilusões a um artista, isso não significa necessariamente que elas sirvam ao seu público.”
Álbum Autobahn (Parlophone)
KRAFTWERK
Antes da era da Autobahn
O mistério dos três primeiros álbuns renegados.
Por que privar o público dessa obra?
Hoje em dia, é impossível encontrar os três primeiros álbuns do Kraftwerk em catálogo oficial. Omitidos de todas as campanhas de reedição desde 1980, ausentes das plataformas de streaming, eles só existem como discos de segunda mão vendidos por preços elevados há décadas. O primeiro álbum, com uma longa faixa de abertura (Tone Float, de 1970), foi conduzido pela dupla Ralf Hütter e Florian Schneider. Na época, ainda não se chamavam Kraftwerk. Com os nomes mais viajantes da organização, eles gravaram esse disco sob o nome de Organisation (com o título Tone Float), uma produção sem tom pop, com uma psicodelia colorida. Outro clima com, por exemplo, flautas. Entre as muitas faixas notáveis, a capa é também um ícone do minimalismo visual: listras e bolhas coloridas sem nome visível na frente.
Já o segundo álbum (e primeiro sob o nome Kraftwerk, um grupo formado por Schneider e Hütter, com uma imagem forte — o cone laranja que se tornará seu logotipo) pergunta: "O que é isso aqui?", com essa capa minimalista sugerindo uma ruptura com a estética psicodélica anterior. A dupla está cercada por teclados (clavinete, flauta, percussões elétricas), com exceção da bateria, que aparece pela primeira vez com Klaus Dinger, que se tornará um colaborador regular. Composto por longas faixas (incluindo a prodigiosa “Von Himmel Hoch”, que recria os sons dos bombardeios aliados sobre as cidades alemãs), esse é um álbum que carrega em si todos os elementos associados ao krautrock: ritmos hipnóticos, experimentações, libertação dos formatos convencionais.
“Rückzuck”, faixa de abertura do álbum, foi amplamente usada nas rádios alemãs, o que permitiu ao grupo sair em turnê com Dinger na bateria e o guitarrista Michael Rother, que depois foi substituído por Hütter, que havia retomado seus estudos.
Essa formação efêmera dará algumas apresentações memoráveis transmitidas em programas de TV (inclusive na França), e figurará em alguns belos exemplos como Krausche Musik Laden. Um show filmado em Colônia, em 1971, onde vemos seus longos cabelos e uma instalação eletrônica alucinante. Infelizmente, as sessões para gravar o segundo álbum do grupo terminaram em fracasso, mesmo que essas músicas fossem de altíssimo nível.
Dinger e Rother deixarão Schneider para formar o Neu! e depois continuarão com o motorik que ainda hoje influencia muitos. Ralf Hütter, por outro lado, continuará com a marca Kraftwerk e publicará seu terceiro álbum em 1973. A capa é mais uma vez minimalista, com um cone verde sobre fundo branco. Musicalmente, é um disco menos experimental e mais fluido, mesmo que continue distante dos sons pop. Ele se destaca, no entanto, como um excelente prelúdio para Autobahn, com uma sonoridade já mais acessível e belas composições como “Klingklang” e a belíssima “Wellenlänge”, por um álbum de organicidade clássica e realização sem artifícios. E é justamente por isso que a capa e o título Ralf und Florian são os exatos opostos dos dois anteriores. O disco é silencioso, discreto, mas é um verdadeiro retrato dos dois músicos em preto e branco, de perfil, em frente a uma instalação sonora vista de costas.
Essa capa é a mais humana da carreira do grupo, e é sobretudo ela que falta. Kraftwerk, é isso também: dois músicos em silêncio, longe de seus predecessores. Ralf und Florian traz os germes do que fará o sucesso do Kraftwerk depois. É a aparição dos sintetizadores pela primeira vez (com as sessões eletrônicas) e com a faixa Kristallo, absolutamente magnífica. Já com esse terceiro álbum, Kraftwerk está à frente de seu tempo e entra de vez no campo das experimentações eletrônicas com fascínio. E é por isso que hoje, quando se pensa em Kraftwerk, muitos ainda se referem aos panoramas mais acessíveis e melódicos, mas que não dizem tudo.
Esta é a pergunta que permanece:
Por que privar o público dessa obra até hoje?
Não se sabe se eles estavam brincando ou ironizando. Quando Kraftwerk encontrou sua forma em 1974, a ideia de uma rodovia sem limites de velocidade, o grupo fez disso uma ressonância teatral e conceitual que ainda é relevante. Autobahn alimenta toda a iconografia do grupo: uma sonoridade musical tanto quanto visual. O cone de sinalização tornou-se o emblema de um duo aclamado e venerado como conceptualista.
— Por Éric Deschamps
Aqui, também é importante mencionar os Residents, o coletivo da Louisiana que já há meio século balança o rock com suas investidas artísticas. Seu álbum Duck Stab!/Buster & Glen de 1978 trazia Krafty Cheese, uma homenagem em céu aberto ao Kraftwerk.
Vale notar nesse disco a presença de Philip Charles Lithman, um violinista e guitarrista inglês tão incansável quanto criativo, também conhecido como Snakefinger, que gravou The Model em seu primeiro álbum solo.
Talking Heads e Suicide também contaram entre os americanos que foram direta ou indiretamente influenciados pelo Kraftwerk nos anos 1970.
Extraído de Replicas (1979), When The Machines Rock comprova esse elo direto desde suas origens. Outros britânicos também, a partir do final dos anos 70, sofreram a influência dos quatro alemães (e às vezes até copiaram suas músicas), como Siouxsie and The Banshees — Hall Of Mirrors em Through The Looking Glass (1987) não é uma simples cover: é uma declaração de intenção, feita por artistas como Simple Minds, Human League, Ultravox, Soft Cell, Depeche Mode e Orchestral Manoeuvres In The Dark.
Na discografia, o italiano Giorgio Moroder reciclou habilmente certos elementos do krautrock e tirou grande proveito disso. A rítmica dos grandes sucessos disco de Donna Summer (I Feel Love) e os arranjos de várias faixas de seus álbuns solo (como E=MC², co-produzido por Harold Faltermeyer) remetem claramente à influência dos alemães, algo que Giorgio nunca negou. Isso fica ainda mais evidente na trilha instrumental do filme Midnight Express, de Alan Parker, cuja trilha ele compôs em 1978.
Na época do surgimento do new romantic (reavivamento glam), Spandau Ballet (“To Cut A Long Story Short”) e Landscape (“Einstein A Go-Go”, “Norman Bates”), liderados por Richard James Burgess (mago dos sintetizadores e um dos primeiros a usar samplers), também pegaram carona nessa onda, estabelecendo muitas ligações sonoras com Kraftwerk.
Em 2012, mais seriamente, Sakamoto, ativista ecológico convicto, queria convidar o Kraftwerk para tocar em um festival em reação ao acidente nuclear de Fukushima. Nessa ocasião, escreveu um texto em sua língua natal para uma canção chamada Radioactivity. Em 2024, um ano após sua morte, Kraftwerk tocou esse texto ao vivo em Fuji Rock, uma performance tão emocionante quanto surpreendente.
“Neue Tanz” está no lado B de Technodelic, o quinto álbum da Yellow Magic Orchestra.
Neste artigo, mencionamos Falco, o austríaco que, no meio dos anos 1980, teve um sucesso imenso nos EUA com Rock Me Amadeus (etiquetado como “rap eletro”, mas cantado em alemão). Falco inventou o gênero desde 1981 com Der Kommissar, um irresistível hit europeu.
Muito antes, em tom mais leve, “Da Da Da” do Trio (grupo originado da base do Basse-Saxe) foi lançado em 1982. Retirado de seu primeiro álbum produzido por Klaus Voormann (amigo dos Beatles, de Hamburgo), a canção conquistou o mundo: ritmo simplificado, som inspirado no Kraftwerk e voz falada. Mesmo com preço mais alto que o normal, vendeu mais de 6 milhões de cópias!
Curiosamente, Bernard Sumner, o vocalista do grupo, não estava nem aí e preferia conversar sobre sua cena local de Sheffield, lar de bandas como Cabaret Voltaire, Human League e ABC.
Mas isso só se confirmou com o lançamento de “Trans-Europe Express”. Ao abandonar o som pós-punk do primeiro álbum, o New Order apostou cada vez mais, ao longo dos anos 1980, nas caixas de ritmos e sintetizadores. O lado cínico de Power, Corruption & Lies deve muito à formação alemã e em Blue Monday, o New Order reinjeta a ambiência vocal de “Uranium”, uma faixa do lado B de “Radioactivity”.
No fim dos anos 1980, Sumner fundou o Electronic com Johnny Marr; e assim nasceu Raise The Pressure, seu segundo álbum, em 1996 (ele tocou teclados e participou da composição de grande parte dos títulos). Nos bastidores do Pet Shop Boys, fãs assumidos do Kraftwerk, Sumner também estava presente em vários momentos do primeiro álbum do Electronic. Em 2007, ele lançou Fundamental, cujo título de abertura, “Psychological”, é muito... kraftwerkiano.
Para “Planet Rock”, não foi um, mas dois samples dos alemães que foram habilmente reciclados. A batida rítmica é tirada de “Numbers” e o hook de sintetizador, cativante como o diabo, vem de “Trans-Europe Express”.
A maioria das faixas da coletânea de Richard David James, mais conhecido como Aphex Twin, lançada em 1995, ecoa algo do quarteto de Düsseldorf — em particular “Polynomial-C”. Além da influência direta do Kraftwerk, muitos músicos techno estão satisfeitos em apenas apertar botões, usar máquinas sem alma e teclados pré-programados. Já os alemães, fabricavam ou modificavam instrumentos, para ver se o som era realmente satisfatório, e só reconstruíam o que compravam. Kraftwerk era, de fato, um grande laboratório, enquanto muitos hoje apenas usam tecnologia sem paixão, sem se preocupar com a originalidade. Atualmente, o mais lamentável é que a inteligência artificial faz tanto quanto muitos “compositores” que não criam absolutamente nada.
Trent Reznor, alma do Nine Inch Nails, nunca deixou de citar certas trilhas do Kraftwerk como sendo fonte de inspiração. Agora compositor para cinema (com seu parceiro Atticus Ross), Reznor confirma a filiação dos anos 1980 em trilhas como a de The Girl With The Dragon Tattoo, de David Fincher, em 2011. James Murphy (LCD Soundsystem), também fã do Kraftwerk, usou um sample de Home Computer para o título mais dançante do seu primeiro álbum.
Discos pop rock
Bon Iver – “Sable, Fable”
JAGJAGUWAR
Wolfgang Flür – “Times”
CHERRY RED RECORDS
OLIVIER CACHIN
My Morning Jacket – “It’s”
ATO RECORDS
BERTRAND BOUARD
The Horrors – “Night Life”
FICTION RECORDS
por Éric Desart
Reedições, novidades e compactos de 45 rotações: um panorama dos melhores microsulcos do momento.
Para celebrar os cinquenta anos do álbum que consolidou o Kraftwerk como sua verdadeira assinatura, Autobahn é relançado em diversos formatos, sob a supervisão atenta de Ralf Hütter, o último sobrevivente do grupo original. Enquanto o álbum sai em Blu-ray com mixagem 5.1 — bem típico da “high-fidelity” do grupo alemão —, ele também ganha sua reedição em vinil sobre picture disc (disco ilustrado) sempre com atenção redobrada ao aspecto audiófilo. Cada face do disco traz uma das duas versões da famosa capa do álbum: a pintura de Emil Schult de um carro viajando em alta velocidade numa rodovia azul e o plano de sinalização que serviu como primeira apresentação do projeto, e que se tornou, desde 2009, a capa oficial definitiva do álbum. Um belo objeto, para um grande disco.
Há cinquenta anos saía You, o quinto álbum do Gong e também o último do ciclo “Continental Circus” até Obsolete do grupo servindo como backing band para Dashiell Hedayat), mas também o último da sua famosa “Trilogia Radio Gnome” (cujo dois primeiros títulos são Camembert Electrique e Angels Egg). Tudo isso compõe a singularidade do grupo (uma decisão de David Allen de jamais vender um disco, sem avisar, ao sair do grupo).
You é frequentemente considerado pelos fãs como o álbum mais progressivo do grupo. As músicas psicodélicas se tornam faixas instrumentais planantes, onde as melodias se destacam em “A PHP’s Advice” e “A Perfect Mystery”, ressaltando a personalidade excêntrica de Allen. O álbum é construído ao redor de longas faixas planantes que destacam a técnica dos músicos. Entre elas, “A Sprinkling of Clouds” remete ao ponto em que Tim Blake merecia seu lugar ao lado de Klaus Schulze nas colunas da imprensa eletrônica. “The Isle of Everywhere” mostra Gong já no modo jam, e “Master Builder” pressagia o turbilhão jazz-rock a vir. A última obra-prima do grupo, e talvez seu álbum mais influente, é relançado com sua magnífica capa original.
O Verve, grupo de singles ou grupo de um só álbum? Se Urban Hymns, lançado em 1997, é sem dúvida o álbum mais popular e o mais célebre do grupo com seus múltiplos hits pop (“Bittersweet Symphony”, “Lucky Man”, “Drugs Don’t Work”), a história do grupo de Manchester começou alguns anos antes com um som mais próximo do shoegaze britânico dos primórdios.
Esta coletânea, publicada originalmente em 2004, reúne os singles do grupo. Pela primeira vez em vinil, o tracklisting foi ajustado para melhor representar os grandes títulos do renascimento da banda em 2008 (com duas faixas bônus inéditas) e o lado B “92-98” foi suprimido. Ao lado direito, há uma retrospectiva de toda a carreira do grupo através da longitude dos seus singles. Aqueles que começaram com o shoegaze ficarão felizes de ver “This Is Music” e “Gravity Grave” serem reinseridas no repertório, enquanto os fãs estão encantados em reencontrar o trio “She’s A Superstar” dançando em sua versão integral pela primeira vez em vinil. Tudo isso permite redescobrir os melhores momentos deste grupo ícone da britpop.